Segundo o dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no trimestre encerrado em abril a taxa de desemprego no país continuou no patamar mais alto da história, de 14,7%, o que representa um contingente de 14,8 milhões de desempregados. O resultado, que englobou um período de aceleração da pandemia e intensificação de medidas sanitárias, repetiu os números do trimestre encerrado em março.

Para o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, consultor do Fórum das Centrais Sindicais, nos meses seguintes a taxa de desemprego tende a melhorar, mas o grau de recuperação é incerto.

“No período [aferido pelo IBGE], sazonalmente a tendência é de crescimento do desemprego. No geral, a tendência é que o primeiro semestre tenha crescimento da desocupação até março, abril, maio e depois começa a ter a queda. Isso mesmo quando a economia está forte. Quando está mais travada, a tendência é que o desemprego fique em patamares mais altos e comece a cair mais lentamente”, explica o especialista.

Segundo Clemente, no trimestre encerrado em abril houve uma estabilidade porque as medidas restritivas adotadas para enfrentar a segunda onda da pandemia não chegaram a ser severas.

“As medidas restritivas não agravaram as restrições que já estavam postas, portanto não tiveram impacto tão severo sobre o pessoal que já estava ocupado. Foi mantida uma certa continuidade da reabertura da economia. Como não foi uniforme nacionalmente, o impacto sobre o mundo do trabalho é bastante coerente com esta situação”, avalia.

De acordo com Clemente, analisando os dados até abril, vê-se que os setores da economia que já vinham com sérios problemas de retomada, como o de serviços, continuaram na mesma toada. “Há um grande contingente de pessoas na inatividade, um desalento muito alto e um nível de precarização, com as pessoas trabalhando menos horas do que gostariam”, diz.

A recuperação prevista pelo sociólogo para os próximos meses tem relação com o avanço da vacinação. Ele diz, no entanto, que não se sabe em que ritmo as empresas voltarão a contratar, uma vez que elas próprias sofreram os efeitos da pandemia e as medidas de confinamento acabaram acelerando mudanças tecnológicas, como a automação de alguns processos.

“No médio prazo, se houver segurança sanitária, a tendência é que as atividades voltem ao nível pleno, mas ninguém sabe exatamente em que patamar as coisas vão se estabelecer. A [empresa aérea] Latam recontratou 700 [funcionários] mas demitiu um número muito maior. A atividade deles chegou quase a ser paralisada na íntegra. Caso mantenha um nível de atividade igual ao do passado, a maior parte dos funcionários vai ser recontratada. Mas muitos a empresa substituiu por atividade digital”, comenta Clemente Ganz Lúcio.

Para ele, à medida que setores com atividades parcialmente ou totalmente paralisadas iniciem a retomada, haverá uma impressão de crescimento da economia. Por outro lado, a população ainda deve sofrer com os efeitos da crise hídrica e o consequente repique na inflação.

Clemente destaca ainda que o cenário não deve sofrer grandes alterações no que diz respeito à informalidade, ou seja, tende a ser uma retomada orientada pelo emprego precário.

“Para evitar isso, seria necessário orientar essa atividade para setores dinâmicos na economia brasileira, orientar pela demanda do governo. Um setor que é dinâmico e emprega muito é a construção civil. Se o governo tivesse a orientação de revitalizar dos espaços urbanos, investir em transporte, saneamento, urbanização, isso geraria dinamismo econômico e fortaleceria a geração de empregos. Se o governo não o fizer, será um dinamismo com determinada orientação e intensidade. O Estado deveria coordenar atividades para geração de emprego para a população mais vulnerável, os jovens, os menos escolarizados”, defende o sociólogo.