Saad atuava na Secretaria de Transportes durante o governo Sergio Cabral.

O procurador do estado do Rio de Janeiro, Renan Miguel Saad, foi preso nesta segunda-feira (1º), a pedido da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos julgamentos em 1ª instância da Operação Lava Jato no Rio. Ele recebeu R$ 1,2 milhão em propinas para facilitar a alteração do trajeto da Linha 4 do Metrô fluminense para ampliar o valor da obra de R$ 880 milhões em 1998, para o preço final de R$ 9,6 bilhões.
O Ministério Público Federal (MPF) apurou que Saad recebeu nove repasses entre 2010 e 2014 em valores que variam de R$ 90 mil a R$ 400 mil pelo sistema Drousys da Odebrecht, também conhecido como o “setor da propina” da empreiteira.
O procurador foi preso no apartamento onde mora, em São Conrado, na zona sul da capital fluminense. No imóvel também foram apreendidos bens de Saad, que já se encontram na Superintendência da Polícia Federal.
Os fatos pelos quais o procurador é suspeito remontam ao período em que ele estava lotado como assessor jurídico chefe da Secretaria de Estado de Transportes, nomeado na gestão de Cabral. Ele foi exonerado do cargo em 2012.
No total, Saad teria recebido R$ 1,265 milhão relacionados à obra da Linha 4 do Metrô do Rio, a Saad. A alteração do trajeto teria beneficiado a empreiteira, que tinha em seu projeto as estações que atendem ao Leblon e Ipanema, com passagem por São Conrado até o destino final na Barra da Tijuca.
A obra da Linha 4 do Metrô do Rio originalmente foi orçada em R$ 880 milhões em 1998 e tinha como plano passar pelo Humaitá, Jóquei, no Jardim Botânico, até a Gávea, na zona sul da cidade. Seu custo ao longo dos anos foi sendo reajustado e chegou em R$ 9,6 bilhões.
Pareceres favoráveis de Saad teriam sido “fundamentais” para viabilizar as obras da Linha 4, segundo a investigação. A mudança na construção beneficiou a organização criminosa vinculada ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), segundo os investigadores.
O MPF afirmou que localizou em uma empresa de manutenção de depósito de documentos, contratada pela transportadora Transexpert, registro do pagamento realizado. Esse endereço é exatamente o do escritório de advocacia de Renan Saad, que fica na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio.
Segundo as investigações, Saad recebeu um repasse da empreiteira de R$ 100 mil que teria sido realizado em dinheiro vivo no escritório de advocacia de Saad.
O Ministério Público Federal afirma que a prisão de Saad foi necessária para colher depoimentos de pessoas subordinadas a ele, “imprescindíveis para apuração de crime de organização criminosa e de lavagem de dinheiro” por intermédio de seu escritório.
De acordo com os procuradores, existem provas da realização de atos praticados por Saad que favoreceram as construtoras ligadas às obras da linha 4 do metrô, em especial no que se refere à mudança do traçado original do metrô e viabilização do pagamento pela aquisição dos equipamentos necessários do TBM (Tunnel Boring Machine) e seus periféricos, o chamado “Tatuzão”.
Segundo a colaboração premiada do ex-diretor de contratos da empreiteira Odebrecht, Marcos Vidigal do Amaral, o procurador recebeu R$ 300 mil em troca de um parecer sobre a Linha 4 que alterava o seu trajeto inicial, além de desvios no uso do tatuzão, que consome por mês R$ 2,9 milhões mesmo parado.
Os valores de consumo do Tatuzão são reajustados a cada ano. O equipamento, estacionado desde abril de 2016 em uma caverna sob a Rua Igarapava, no Alto Leblon, custava até dois anos atrás R$ 29,2 milhões. Já os dois canteiros na Gávea custavam R$ 222.968,57 por mês. Tiveram suas obras interrompidas em março de 2015, consumindo R$ 5 milhões em recursos.
GORDINHO
No Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Saad era identificado como “Gordinho”, de acordo com a força-tarefa. Ele foi citado pela primeira vez na Lava-Jato no final de março de 2017, quando foi deflagrada a operação Quinto do Ouro , que mandou prender cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado ( TCE-RJ ), acusados de terem recebido 1% de propina sobre o valor dos contratos de obras para não incomodar as empreiteiras – reveladas pelo GLOBO no âmbito da Operação Calicute – durante o governo de Sérgio Cabral (2007-2014).
Em nota, Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que “já apura o caso internamente para a adoção das medidas disciplinares cabíveis e que colabora de modo pleno com as investigações do Ministério Público Federal para a apuração dos fatos levantados pela Lava Jato no Rio de Janeiro”.
DEFESA
Na época da colaboração premiada de Marcos Vidigal do Amaral, Saad afirmou que iria processá-lo e pediu à Corregedoria a abertura de procedimento administrativo, alegando que seus atos obedeceram a “padrões éticos e regimentais”.
Segundo Saad, a discussão sobre a expansão do metrô até a Linha Oceânica (Barra) teve início em 2009, ou seja, antes da Odebrecht entrar em 2010 e disse que a aprovação do parecer, que alterava o trajeto inicial da obra, tinha sido realizado por outro procurador.
“Inexiste lógica na versão equivocada e fantasiosa de eu ter recebido vantagem para produzir parecer no qual havia concordado, oficial e publicamente, em fazê-lo”, afirmou em nota na época.
JATINHO DO PEZÃO
Como procurador do Estado, Saad atuou em defesa do ex-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), também preso pela Lava-Jato, em 2018. Saad pediu para que fosse realizada uma licitação de R$ 2,5 milhões para que Pezão se locomovesse em um jatinho particular para “evitar episódios de hostilidade”.
O TCE rejeitou o argumento dizendo que “não há qualquer dúvida que a contratação de empresa de transporte aéreo de luxo para deslocamento do Excelentíssimo Senhor Governador não se mostra proporcional ao momento de absoluto caos vivenciado pelo Estado do Rio de Janeiro em suas finanças”.
O pedido de Assad continha ainda uma “Sala Vip” para uso de Pezão, com a oferta de água e lanche antes do embarque, além de banheiro privativo.