Raul Carrion: militante histórico do PCdoB lança autobiografia
O comunista Raul Carrion conta seus 56 anos de militância política, 50 deles no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e mais da metade na clandestinidade ou no exílio, na autobiografia que lança nesta quinta-feira (14) em Porto Alegre. O evento acontece no Salão Nobre da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), às 18 horas.
A autobiografia “Raul Carrion: a luta vale a pena!” é acompanhada de uma coletânea de textos históricos e teóricos de reflexão sobre o socialismo e a história do Rio Grande do Sul, que dialogam com as experiências da vida deste comunista. O livro é uma coedição da editora Anita Garibaldi e da Fundação Maurício Grabois.
Para o autor, “a vida e a dialética nos ensinam que tudo está em movimento e permanente transformação e que o que move esse eterno “vir-a-ser” é exatamente a luta entre contrários – seja na natureza, na vida social ou no pensamento. A luta, portanto, não é algo externo à realidade ou uma “perturbação” em uma pretensa “harmonia” ou “estabilidade” do universo, mas a própria forma de existência do mundo real”.
Ex-vereador de Porto Alegre por dois mandatos e duas vezes deputado estadual no Rio Grande do Sul, Raul Kroef Machado Carrion é graduado em História pela UFRGS, pós-graduado pela FAPA e servidor concursado do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul.
Na ditadura, participou intensamente da luta contra o regime, tendo sido perseguido, preso e torturado. Esteve exilado no Chile e na Argentina. Atualmente, Carrion é o presidente da Fundação Maurício Grabois no Rio Grande do Sul.
Um pouco de história…
Influenciado pelo Movimento da Legalidade em 1961 e pelas mobilizações pelas Reformas de Base, Carrion iniciou sua militância política aos 17 anos, em 1963, ingressando na Ação Popular (AP) – organização revolucionária de origem cristã que propunha uma “revolução socialista de libertação nacional”. Nela atuou com seus colegas do Colégio Anchieta: José Luiz Fiori, Paulo Renato de Souza (futuro Ministro da Educação), Roberto Motolla e outros.
Quando ocorreu o golpe de 1964, Carrion havia acabado de passar no vestibular de Engenharia da UFRGS, onde logo se destacou como liderança universitária no combate à ditadura. Na ocasião, as principais forças de esquerda na UFRGS eram o PCB, o PCdoB e a AP.
Em 1968, devido aos laços estabelecidos com lideranças operárias da região calçadista do Vale dos Sinos, Carrion mudou-se para Novo Hamburgo. A cidade era o principal polo da indústria calçadista no Rio Grande do Sul. O objetivo dele era ajudar na organização dos trabalhadores na luta contra a ditadura. Depois de alguns meses formou-se “cortador” na escola do sindicato e empregou-se em uma importante fábrica de calçados, utilizando documentação falsa. Apesar de ter passado nos testes, não conseguiu permanecer pela falta de todos os documentos necessários. Conseguiu, então, emprego como operador de máquina em uma fábrica de componentes de calçados. Assim, integrou-se na produção, mas com uma visão diametralmente oposta à pregada pela Ação Popular.
Foi preso, torturado e já integrando o PCdoB, nos anos 70, exilou-se no Chile, onde conheceu sua companheira, Elvira Ballester Laferti. Elvira e a família dela apresentaram Carrion aos principais dirigentes do Partifo Comunista do Chile – como Luís Corvalán, Volodia Teitelboim, Mireya Baltra e tantos outros – o que muito contribuiu para o trabalho de solidariedade internacional para com o povo brasileiro.
Conhecido como “Ruivo” – ou “Rúcio”, como diziam os chilenos, o militante comunista passou a participar ativamente da luta do povo daquele país e das atividades dos exilados brasileiros e latino-americanos no Chile.
Com a redemocratização, voltou ao Brasil, quando exerceu dois mandatos de vereador em Porto Alegre, e outros dois como deputado estadual. Marcou seus mandatos pela defesa dos trabalhadores, das mulheres, da juventude, das comunidades negras e indígenas e é reconhecido como grande conhecedor das questões que envolvem a Reforma Urbana. Na Assembleia gaúcha, participou de diversas comissões e propôs várias audiências públicas. Encerrou seu mandato com mais de 40 proposições aprovadas.