Presidente russo conversa com estudantes sobre situação no Afeganistão

Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o período de vinte anos de ocupação norte-americana no Afeganistão só “resultou em perdas e tragédias”. A afirmação constou de uma análise da presença nociva norte-americana no país da Ásia Central durante uma reunião com estudantes na cidade de Vladivostok, no extremo leste do país, para marcar o início do ano letivo, neta quarta-feira (1º/9).

“Durante 20 anos”, declarou Putin, “as tropas americanas estiveram presentes no Afeganistão e durante esses 20 anos tentaram ‘civilizar’ a população local, em um sentido mais amplo, para impor suas próprias normas e padrões, incluindo aqueles relacionados à organização política da sociedade”.

Para o líder russo, as tragédias atingiram “tanto os que as causaram – os EUA-, e ainda mais para as pessoas que vivem no Afeganistão”. “O resultado é zero, por não dizer negativo”, lamentou.

Referindo-se às raízes do atual caos no Afeganistão, Putin observou que “é preciso entender que é impossível impor qualquer coisa de fora”.

O presidente russo também destacou que os Estados devem prestar assistência a outros países de maneira respeitosa. Ele pediu um cenário “maduro” para resolver as questões afegãs, dizendo que “isso deve ser feito de forma civilizada, com cuidado, apoiando as tendências positivas, sem pressa.”

“Se alguém faz algo em relação a alguém, então deve partir da história, da cultura, da filosofia – no sentido mais amplo – da vida dessas pessoas. Você deve aproximar-se com respeito a sua tradição”, ressaltou Putin.

O presidente reiterou que a imposição de valores externos ao Afeganistão é uma política irresponsável.

Durante sua conversa com o presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada, Putin já havia destacado que as mudanças atuais na situação afegã mostram que as forças externas “promovendo à força seus modelos políticos não funcionaram e só trarão destruição e desastre para esses países.”

“Aparentemente, agora foi prometido acabar com as tentativas de impor a democracia. Vamos ver como essas promessas vão ser implantadas na prática”, assinalou o chanceler russo Serguei Lavrov, referindo-se às declarações do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre a não intervenção nos assuntos de outros países a partir de agora.

Em seu discurso à nação na terça-feira (31), o presidente norte-americano afirmou que a saída do Afeganistão termina a era das tentativas de reconstrução de outros países por meio da força. “Se as declarações de Biden sobre a não intervenção nos assuntos de outros Estados forem verdadeiras, daqui em diante haverá um pouco mais de tranquilidade no planeta”, expressou Lavrov.

“Um momento muito interessante, que foi marcado tanto pelo presidente dos EUA [Joe] Biden como pelo presidente da França [Emmanuel] Macron: os dois declararam, com intervalo de um ou dois dias, que é hora de acabar com a intervenção nos assuntos internos de outros países com o objetivo de impor-lhes a democracia do modelo ocidental”, acentuou.

“Nós nunca aspiramos a qualquer confrontação, tanto mais ao isolamento, e estamos abertos para a interação com esses mesmos países ocidentais, se eles mudarem sua abordagem e pararem de se posicionar como professores que sabem tudo e são infalíveis, enquanto a Rússia seria o aluno que deve fazer o trabalho de casa. Não se pode falar assim com ninguém, muito menos com a Rússia”, sublinhou.

Após a retirada das tropas dos EUA e da OTAN do Afeganistão, a tarefa principal para Moscou é “manter a segurança de nossos aliados, dos Estados da Ásia Central”, disse. “Tenho muita esperança que juntos nós consigamos acordar os passos externos que favoreçam a criação dentro do Afeganistão de condições para a formação de uma liderança verdadeiramente nacional. E nós estamos trabalhando ativamente nessa direção”, ressaltou Lavrov.