A produção industrial brasileira registrou queda de 0,6% em outubro na comparação com setembro, o quinto mês consecutivo de queda, acumulando, nesse período, perda de 3,7%, de acordo com a pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (03). Frente ao mesmo mês do ano passado – quando a pandemia recrudescia e o governo Bolsonaro sabotava a vacinação, o tombo foi de 7,8%.

“A cada mês que a produção industrial vai recuando, se afasta mais do período pré-pandemia. Nesse momento, está 4,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020”, destacou André Macedo, gerente da pesquisa. A indústria fechou o ano de 2019 em queda de 1,1%.

Apenas 9 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE mensalmente ainda se encontram em patamar acima ou igual dos níveis pré-pandemia (fevereiro). Com os resultados de outubro, a indústria já se encontra 20,2% abaixo do que registrou em 2011.

Desemprego e inflação

O economista gerente da pesquisa afirma que a dinâmica da indústria tem sido altamente impactada pela “inflação elevada, que diminui a renda disponível das famílias, e um mercado de trabalho que está longe de mostrar uma recuperação consistente, uma vez que ainda existe um grande contingente de trabalhadores fora dele, com uma massa de rendimentos que não avança e marcado pela precarização do emprego”. O encarecimento dos custos de produção, desabastecimento de matérias primas e insumos produtivos completam o rol de problemas enfrentado pela indústria neste cenário de grande crise econômica.

“Com o avançar do ano, está claro que 2021 não é um ano de recuperação para a indústria brasileira. Bases de comparação baixas ainda encobrem parcialmente a involução do setor, por isso, o desempenho mês após mês com ajuste sazonal se mostra mais efetivo para descrever o quadro atual”, afirmou em análise o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

“Ao todo, oito dos dez meses já cobertos por estatísticas do IBGE ficaram no vermelho, levando a indústria a um patamar de produção 4,1% inferior ao pré-pandemia, isto é, em relação a fev/20. É um retrocesso persistente e também difundido entre os distintos ramos industriais, pois atingiu 19 dos 26 ramos acompanhados na passagem de set/21 para out/21, o equivalente 73% do total do setor”, ressaltou o instituto de estudos da indústria.

Entre as atividades industriais, a principal contribuição negativa veio da produção de alimentos, que caiu 4,2% na passagem de setembro para outubro. Afetada justamente pela queda no consumo por conta das rendas arrochadas, desemprego e inflação, a atividade deste segmento já havia caído 3,2%.

Outras quedas expressivas foram registradas em manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-21,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-5,6%), produtos têxteis (-7,7%), produtos de madeira (-6,6%), e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,1%).

No panorama mais geral, avaliando o desemprenho das grandes categorias de bens, a queda da produção de bens duráveis foi a mais intensa entre elas (-1,9%) e a décima seguida, refletindo a derrocada da indústria automobilística. Segundo IBGE, a categoria acumula perdas de 28,3%.

PIB negativo

O desmoronamento do setor industrial tem reflexo direto nos resultados do PIB (Produto Interno Bruto), já que a indústria tem peso de cerca de 20% em sua composição. Na véspera da divulgação da produção industrial, o IBGE mostrou que o Brasil está em recessão, estagnado, após ter registrado retração de 0,4% no segundo trimestre e recuo de 0,1% no terceiro trimestre de 2021.

Para o Iedi, com o PIB total em queda, na indústria o quadro é ainda mais grave.

“Em 2021, o PIB da indústria de transformação não cresceu um trimestre sequer. Já são três recuos consecutivos: -0,4% no 1º trim/21, -2,5% no 2º trim/21 e -1,0% no 3º trim/21 na série com ajuste sazonal. Já a indústria geral ficou parada no 3º trim/21 (0%), depois da queda do 2º trim/21, e só não foi pior graças à construção”.

“Voltamos a lembrar um dado que muito se ignora no Brasil: R$ 1 produzido pela indústria de transformação induz um aumento de R$ 2,14 na produção total da economia. Em outras palavras, sem indústria dinâmica é pouco provável que tenhamos uma trajetória consistente de crescimento para o PIB geral do país”, ressaltou.

Sobre os investimentos, o Iedi afirma: “a evolução descendente da indústria não está dissociada da recente retração do investimento, já que o setor tende a ser intensivo em capital. A despeito da persistente expansão da construção (+3,9% no 3º trim/21), a formação bruta do capital fixo registrou -0,1% em jul-set/21, após a queda de -3,0% no 2º trim/21”.

Já Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro, ao comentar o resultado do PIB e as previsões também negativas para o próximo ano, preferiu negar a realidade e chamar todo mundo de “maluco”.