“A recuperação em “V” da indústria durou pouco. A entrada de 2021, com a piora da pandemia e o fim dos programas emergenciais em um quadro dramático do emprego, inaugurou uma nova fase de retrocesso para o setor. Com isso, tudo aquilo que vinha sendo conquistado em termos de retomada da produção ficou comprometido. Em mar/21, a produção industrial caiu -2,4%, anulando ganhos anteriores e levando o setor de volta a um nível que corresponde ao de fev/20, isto é, anterior ao choque da Covid-19”, afirmou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), nesta quarta-feira (5), após a divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da produção industrial em março.

Com o resultado, o setor fechou o primeiro trimestre do ano negativo em 0,4%. Em fevereiro, o volume de produção havia cedido 1%. No ano passado, com a pandemia, a produção industrial desabou 19,5% em abril. Em maio subiu 8,7% e ficou mais dois meses nesse patamar; junho (9,4%) e julho (8,7% ). Em agosto começou a desacelerar: (3,4%), setembro (2,8%), outubro (1,0%), novembro (1,0%), dezembro (0,8%) e janeiro (0,4%).

Além do recrudescimento da pandemia no início do ano de 2021, a interrupção dos programas emergenciais foram pontuais para frear mais uma vez a economia no primeiro trimestre. O auxílio emergencial, por exemplo, que além da garantia de alguma renda aos desempregados também contribuiu significativamente para a manutenção da demanda, só foi retomado, em valor menor, em abril.

“No mercado de trabalho ainda tem muita gente desempregada, a inflação subiu e a ausência do auxílio emergencial são fatores que explicam o desaquecimento da demanda doméstica”, disse André Macedo, gerente da pesquisa.

Além da queda na demanda na renda das famílias, a indústria sofre com o encarecimento dos insumos. A inflação da indústria ficou em 4,78% em março e atingiu taxa recorde de 33,52% em 12 meses.

Com o resultado de março, o setor industrial brasileiro está 16,5% abaixo do patamar registrado em maio de 2011, voltando para o nível “exatamente igual ao pré-pandemia”, disse Macedo. Ou seja, é como se em um ano, o setor produtivo estivesse completamente paralisado.

“Esses dois resultados negativos têm como pano de fundo o próprio recrudescimento da pandemia. Isso faz com que haja maior restrição das pessoas, o que provoca a interrupção das jornadas de trabalho, paralisações de plantas industriais e atrapalha toda a cadeia produtiva”, destacou o gerente da pesquisa.

Em 12 meses, o setor acumula uma perda de 3,1% – com taxas negativas disseminadas entre 11 das 26 atividades industriais.

Entre as grandes categorias econômicas, a queda mais intensa foi em bens de consumo semi e não duráveis (-10,2%) – que inclui alimentos, bebidas, calçados, produtos têxteis e combustíveis, ou seja, a categoria mais sensível à demanda.

Os segmentos de bens de consumo duráveis (-7,8%) e bens de capital (-6,9%) também recuaram em março. O setor produtor de bens intermediários registrou variação quase nula (0,2%).

Entre os ramos pesquisados, 15 dos 26 registraram retração. A maior pressão, segundo o IBGE, veio da queda na produção de veículos (-8,4%), o terceiro resultado negativo consecutivo nessa comparação, acumulando perda de 15,8% no período.

“Houve nessa atividade uma série de interrupções de processos de produção, paralisações e férias sendo concedidas”, explicou Macedo.

Outras quedas expressivas foram observadas na produção de artigos do vestuário e acessórios (-14,1%), de outros produtos químicos (-4,3%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,4%), de couro, artigos para viagem e calçados (-11,2%), de produtos de borracha e de material plástico (-4,5%), de bebidas (-3,4%), de móveis (-9,3%), e de produtos têxteis (-6,4%).

“Enquanto toda a população não for vacinada, a economia terá problemas de crescer”, disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga, em reunião com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na sede da entidade semana passada.

De acordo com a entidade, apenas quando o processo de vacinação for acelerado e as pessoas puderem voltar ao trabalho com segurança, a indústria poderá reagir.

“O setor empresarial está à disposição para ajudar a acelerar o processo de vacinação”, disse.

Já para o ministro da Economia, Paulo Guedes, a economia “já está decolando”, V” e o Brasil está criando “milhares” de empregos, quando o IBGE registrou um aumento no desemprego para cerca de 15 milhões de pessoas, entre 33 milhões de brasileiros que procuram emprego e não encontram, enquanto as empresa clamam pela renovação do Pronampe, programa de ajuda às micro e pequenas empresas que tiveram que suspender suas atividades diante do agravamento da pandemia, e até agora nada.