Boric, vencedor das primárias (dir.) recebeu o apoio de Jadue (PC): "à vitória por um novo amanhecer"

Com um recorde de participantes – mais de 3,14 milhões de votantes –, as primárias para a presidência do Chile definiram duas candidaturas, neste domingo (18) e colocaram frente a frente os dois nomes que representarão os espectros progressistas contra os do continuísmo do atual governo de Piñera para as eleições presidenciais de 21 de novembro.

“Se o Chile foi o berço do neoliberalismo, também será seu túmulo”, afirmou Gabriel Boric – que obteve 1,058 milhão de votos -, sublinhando a relevância da mais ampla unidade para varrer com os herdeiros da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e sua política de privatizações, arrocho salarial e confisco de direitos.

“Não tenham medo da juventude para mudar este país”, acrescentou o candidato da Convergência Social, de 35 anos, que será o nome da coalizão Aprovo Dignidade, após superar por 60,37% a 39,63% o prefeito comunista da cidade de Recoleta, Daniel Jadue. Destacando o significado histórico desta eleição, Jadue convocou o conjunto da militância a ir às ruas, fábricas, escolas e universidades a fim de se empenhar para derrotar pelo retrocesso e construir a vitória de um “novo amanhecer para todos os chilenos”.

Tendo iniciado sua vida política no movimento estudantil, Boric comandou em 2008 as manifestações pelo direito à educação pública, gratuita e de qualidade. Em 2014, advogado, foi eleito pela primeira vez deputado e agora exerce seu segundo mandato, representando a região de Magallanes, onde nasceu.

Piñera

Pela coalizão de direita, Chile Vamos, também foi escolhido o candidato considerado mais moderado e mais jovem: Sebastián Sichel, ex-ministro de Desenvolvimento Social do presidente Piñera, que conseguiu 49,08% contra 31,31% de Joaquín Lavín, do partido União Democrática Independente (UDI), colaborador direto da ditadura de Pinochet.

Conforme analistas, as primárias expuseram o nível do desgaste dos partidos que fizeram parte dos governos da “Concertação” entre 1990 e 2010, entre eles, o Socialista e o da Democracia Cristã.

De acordo com as pesquisas de opinião, o presidente Sebastián Piñera encerrará sua gestão com índices recordes de reprovação de até 90%, como explicitado nas gigantescas manifestações populares de 2019.

A partir daí, o Chile esteve envolvido em um intenso ciclo de debates, que culminou com o processo eleitoral iniciado em 25 de outubro de 2020 com o plebiscito constitucional. Em 15 e 16 de maio, os chilenos voltaram às urnas para eleger prefeitos, vereadores, governadores regionais e os 155 constituintes, com uma vitória maiúscula da oposição. Na oportunidade, os setores pinochetistas – alinhados com o governo – estiveram unidos, mas só conseguiram 37 (24%) das 155 vagas.

A última pesquisa Admark aponta que Piñera apresenta “níveis de desaprovação mais altos do que o do próprio Pinochet”.

As prévias

Os partidos podem optar por realizar primárias internas ou primárias de coalizões.

Nestas eleições, os chilenos estiveram diante de duas candidaturas que saíram das primárias organizadas pelos ‘pactos políticos’ que geraram duas coalizões: Aprovo Dignidade e Chile Vamos.

Estão habilitados a votar os eleitores filiados aos partidos que compõem cada um dos pactos ou eleitores independentes (sem filiação partidária alguma).

Os eleitores filiados só podem votar em um pacto que contenha partidos a que estejam filiados.

Os filiados a partidos que não estejam nas composições dos pactos não podem votar nestas primárias.

Os independentes podem escolher votar em candidato de qualquer dos pactos mas não podem votar em mais de um dos pactos.

Os pactos que formaram as coalizões que, assim como os candidatos destas coalizões, se inscreveram na entidade denominada Servel (Serviço Eleitoral). O Servel é supervisionado pelo Tribunal Qualificador de Eleições (Trigel).