Sanções contra a Rússia elevaram preço do gás e levaram a gigante Uniper às cordas

O governo alemão anunciou o resgate da gigante alemã da energia, a Uniper, por US$ 17 bilhões, empresa que foi às cordas devido ao diferencial de preço entre o gás russo – cujo fornecimento foi reduzido devido às sanções à Rússia e retenção de turbinas e compressores – e o escorchante valor cobrado pelo chamado mercado à vista.

Em contrapartida, o governo passará a ter 30% do controle acionário da maior importadora alemã de gás. Formada em 2016 a partir de ativos da E.ON, a Uniper havia pedido socorro no início do mês.

Na descrição da Bloomberg, a Uniper “se tornou a primeira grande vítima corporativa da crise do gás na Europa quando pediu um resgate do governo no início deste mês”. Segundo o canal de notícias do mercado financeiro, “o maior comprador de gás russo da Alemanha foi levado ao precipício” quando supostamente o presidente Vladimir Putin “espremeu os suprimentos em retaliação às sanções europeias contra a invasão da Ucrânia pela Rússia”.

Na verdade, a Rússia continua cumprindo os contratos como já reiterou Putin, mas os subalternos a Washington acabaram dando um tiro no pé com sanções à energia russa de que precisam desesperadamente, como forma de chantagear Moscou para que se submeta aos nazistas de Kiev e à expansão da OTAN até sua porta.

Como se já não bastasse terem confiscado reservas russas ilegalmente e fechado na maior parte o sistema ocidental de pagamentos aos russos, ainda há aqueles que são tão sem noção, que resolvem, como o governo do Canadá fez, impedir o retorno de turbinas usadas para a compressão do gás no duto do Nord Stream 1, medida respondida pela Rússia com enorme contenção, limitando-se a reduzir o volume do gás fornecido para não rebentar as turbinas e compressores em funcionamento, o que se tivesse ocorrido, levaria ao colapso do fornecimento do gás russo.

Também foram as sanções que jogaram o preço do gás no mercado à vista nas alturas, o fornecimento da Gazprom é em contratos de longo prazo e a preço fixo. Como disse o chanceler húngaro Peter Szijjarto ao se reunir com seu homólogo Sergei Lavrov em Moscou, em viagem em que pediu à Rússia um fornecimento adicional de 700 milhões de metros cúbicos para garantir o aquecimento e a indústria funcionando no próximo inverno, “gostem ou não”, é “simplesmente impossível comprar atualmente tanto gás natural extra na Europa sem fontes russas”.

Enquanto mantém paralisado o Nord Stream 2 – para atender às ordens de Washington – e é conivente com a sabotagem do Nord Stream 1, o governo de Berlim culpa alucinadamente a Putin, ministros aconselham a tomar banhos “mais curtos” e a passar frio e os alemães são avisados sobre “um possível racionamento de gás” e que vão ter que pagar (e caro) a fatura pela aventura CIA-nazis em curso na Ucrânia desde o golpe de 2014. Como disse na época a subsecretária de Estado Victoria Nulan, “f****-se a UE”.

Ainda segundo a Bloomberg, “as autoridades alemãs alertaram os consumidores a se prepararem para que as contas de energia dupliquem ou tripliquem nos próximos meses, aprofundando a dor dos aumentos crescentes do custo de vida”.

O aperto de energia tem se tornado gradualmente mais visível na Alemanha. O aquecimento de piscinas foi proibido, Colônia está escurecendo as luzes da rua e Hamburgo planeja disponibilizar água quente apenas em determinados horários do dia. Algumas cidades estão montando salas de aquecimento para ajudar as pessoas a escapar do frio.

O ministro das Finanças e vice-primeiro-ministro, Robert Habeck, disse que o resgate – discutida por semanas – é uma tentativa de evitar uma “crise ao estilo do Lehman Brothers”. Por sua vez, o executivo-chefe da Uniper, Klaus-Dieter Maubach, se disse “satisfeito e aliviado” que o acordo “estabilize financeiramente a Uniper como um parceiro de energia crítico para o sistema”. “Agora temos uma perspectiva clara de como os custos podem ser compartilhados por muitos ombros”, acrescentou.

O primeiro-ministro Olaf Scholz interroumpeu suas férias de verão para anunciar o socorro à Uniper. “Faremos tudo o que for necessário para garantir que juntos teremos sucesso e continuaremos a fazê-lo pelo tempo que for necessário. Vamos superar os momentos difíceis juntos”, prometeu.

Como parte da operação de socorro, a Uniper pode repassar 90% dos custos adicionais para a reposição de suprimentos perdidos da Gazprom e o governo irá cobrir as perdas com o gás vendido na Alemanha.

Após o fechamento da transação, o governo controlará cerca de 30% da Uniper, uma participação grande o suficiente para lhe dar direito de veto em importantes decisões estratégicas. O pacote total de resgate vale mais de quatro vezes o valor de mercado atual da empresa e pode ser, segundo analistas, “apenas o começo”. Nem o anúncio evitou que a capitalização em bolsa caísse mais 25%, para US$ 3 bilhões.

Segundo Berlim, a Alemanha não podia permitir que a Uniper falisse, pois as consequências repercutiriam na economia, atingindo empresas industriais e concessionárias locais. Embora os fluxos em um importante link de gás com a Rússia tenham sido retomados após 10 dias de manutenção, as entregas permanecem significativamente reduzidas e os níveis de armazenamento estão baixos.