Soja | Arquivo Agência Brasil

“Vocês estão exportando tudo ou tá ficando um pouco aqui? Tem que ficar um pouquinho aqui. O preço tá bom também, né? Tem que ficar senão bagunça o preço do nosso óleo de soja”, disse na terça-feira (27) em reunião no Palácio da Alvorada, na qual estava presente, também, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Assim se resume a reação do presidente frente à crise de preços dos produtos de soja, especialmente do óleo de cozinha – item essencial da cesta básica.

Há duas semanas, o presidente Bolsonaro já havia indicado a apoiadores que em breve a ministra Tereza iria acertar um encontro com “os grandes produtores de soja”, e adiantou: “A gente não vai regular, a gente não vai interferir em nada, querer dar uma carteirada, exigir, tabelar, isso não existe, é livre mercado”.

Ao invés da regulação, Bolsonaro e sua equipe optaram por zerar os impostos de importação de soja e milho – o mesmo que fez com o arroz – a despeito da produção nacional estar de vento em popa. O Brasil, a propósito da sua posição na produção de grãos em geral, ocupa a posição de maior produtor de soja do planeta. O país alcançou a maior produção de grãos da história na safra 2019/2020 de acordo com a Conab, que confirmou marca inédita de 257,8 milhões de toneladas, ultrapassando a produção do então maior produtor, os Estados Unidos. Segundo estimativa do IBGE, na próxima safra, 2020/2021, o Brasil se manterá na liderança.

Um dos apoiadores presente na reunião teria dito, segundo informações do Valor, que o ano de 2020 foi o melhor para o setor – a despeito da pandemia. As cotações do preço da soja tem subido no mercado internacional por diversos fatores e é disso que o setor se beneficia, enquanto o mercado interno sofre uma crise de preços – que já atingiu também o arroz, outro item básico, que está inflacionado pelas alturas.

“O preço está bom, não é”, disse Bolsonaro, que em seguida elogiou a ministra Tereza Cristina.
Enquanto isso, o mercado interno e o consumidor tem se deparado com altas de preços que pressionam, inclusive, os índices gerais de inflação. No caso da prévia do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de outubro a alta do óleo de soja foi de 22,34% – superando, inclusive, a pressão do arroz (+18,48%), tomate (+14,25%), das carnes (4,83%) e do leite longa vida (+4,26%).

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP divulgados na mesma terça-feira informaram que as exportações do agronegócio do Brasil atingiram um novo recorde nos nove primeiros meses de 2020, com um volume 16% superior ao registrado em igual período do ano anterior. O setor teve receita de US$ 79 bilhões entre janeiro e setembro, alta de 8% na comparação anual.

Segundo os pesquisadores do Cepea, os números em dólar refletem também um aumento no volume exportado, pois os preços médios dos produtos na divisa norte-americana recuaram 6% no período. Em real, o faturamento cresceu 26% nos nove primeiros meses de 2020.

No caso da soja, “o ritmo acelerado de processamento e a aquecida demanda, especialmente externa, reduziram rapidamente os estoques domésticos de soja e derivados, mesmo em um ano de recorde de produção. Assim, a disputa pelo grão restante está acirrada e os valores altos da paridade de exportação, sustentados pelo dólar valorizado, alavancam as cotações domésticas”, dizem os pesquisadores do Cepea.