“O trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro, na média, 56,57% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta”, diz Dieese

No ano em que o desemprego no país cresceu a níveis históricos e milhares perderam a renda, a cesta básica ficou mais cara em todas as regiões pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese).

De acordo com os dados divulgados na segunda-feira (11), o aumento de preços foi generalizado entre os itens que compõem a cesta básica e observado em todas as 17 capitais pesquisadas em 2020.

Assim, o comprometimento médio do salário mínimo apenas com os produtos para uma alimentação básica chegou a mais de 50% em algumas regiões, o maior em 12 anos.

Segundo o Dieese, o maior aumento foi observado em Salvador, onde a variação percentual na comparação do ano passado com 2019 foi de 32,89%. Em São Paulo, o aumento registrado no conjunto de alimentos foi de 24,67%, chegando a R$ 631,46. Isso equivale a 53,45% do salário mínimo líquido vigente, de R$ 1.045.

“Quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social (alterado para 7,5% a partir de março de 2020, com a Reforma da Previdência), verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro, na média, 56,57% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta. Em novembro, o percentual foi de 56,33%”, diz o Dieese.

A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado na terça-feira (12), subiu 4,52% em 2020. Foi justamente a pressão dos alimentos, de 14,09%, que fez com que o índice extrapolasse a meta do governo e tivesse o maior aumento anual desde 2016.

No decorrer do ano, a disparada nos preços do arroz, óleo de cozinha, feijão e outros itens indispensáveis da cesta básica estamparam manchetes. Com a produção direcionada, prioritariamente para as exportações, o governo federal não fez nada para conter a crise ou regular preços.

Enquanto isso, o reajuste do salário mínimo estipulado por decreto no início do ano, de R$ 1.100,00, não repôs nem mesmo a inflação. Há também a legião de desempregados e informais que, por conta da pandemia, foram socorridos pelo auxílio emergencial aprovado pelo Legislativo e, agora, perderam a renda. Apesar de ainda estarmos em uma situação de calamidade, o governo optou por não estender o auxílio emergencial, deixando milhões de pessoas sem nenhum apoio para sua subsistência.