Ao cumprir agenda no Pará neste sábado (9), a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Àvila, participou de um ato cultural em memória do defensor dos Direitos Humanos e dirigente do partido, Paulo Fonteles Filho, na Câmara Municipal de Marabá. O militante comunista morreu no dia 26 de outubro deste ano, vítima de um infarto fulminante, com apenas 45 anos de idade.

“Vir ao Pará é vir a um estado de muita resistência. Aceitei seguir uma jornada que tem nesses estado uma de suas maiores inspirações. Voltar ao Pará na condição de pré-candidata à Presidência da República do meu partido tem uma carga emocional diferenciada, seja pela homenagem ao Paulinho – que já é algo suficientemente forte -, seja pelo fato de que aqui tombaram grande parte dos heróis do nosso país e do nosso partido. Daqueles que deram a vida para reconstruir a nossa democracia”, afirmou a deputada gaúcha, se referindo à Guerrilha do Araguaia.

O ato foi marcado pelo clima de emoção. Paulinho, como era carinhosamente chamado era filho do advogado comunista Paulo Fonteles, assassinado em 1987 a mando do latifúndio.

Em seu discurso, Manuela contou com conheceu Paulinho e destacou a importância dele na luta por justiça e garantia dos direitos. “Eu tive a honra de conhecê-lo em 2001, no Fórum Social Mundial realizado na minha cidade, Porto Alegre, em que nós lançávamos a ideia de que um outro mundo era possível. Não sabíamos, eu e o Paulinho, o tanto de vida que nos esperava. Nós não sonhávamos que viveríamos anos de mudanças tão profundas no Brasil e na América Latina quando gritávamos que um outro mundo era possível”, relatou.

Memória, verdade e justiça

Manuela reforçou que o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, trouxe novos desafios, mas a inspiração para garantir que a democracia prevaleça deve ser a trajetória de luta de Paulinho Fonteles.

“Marcou a luta de Paulinho pela memória, a verdade e a justiça e o quanto ele estava certo e de quanto poderia ter sido diferente a nossa história se tivéssemos tido mais debates sobre o significado da memoria, da verdade e da justiça no período da ditadura militar”, salientou a pré-candidata comunista.

“Temos muitos desafios daqui para frente. Se pensarmos no Paulinho que nasceu na cela, nós temos a obrigação de pensar no valor da democracia para o povo brasileiro. E temos a obrigação de contar a história dos filhos da ditadura militar para que nunca mais aconteça, já que vivemos um tempo em que brasileiro e brasileiras parecem esquecer e defender aqueles que reivindicam a tortura como uma prática de Estado”, enfatizou.

Confira o vídeo com a íntegra do evento:

O sonho

Paulinho Fonteles nasceu na prisão, durante a ditadura militar. Sua mãe, Hecilda Fonteles Veiga, era estudante de Ciências Sociais quando foi presa, em 1971, em Brasília, com cinco meses de gravidez. “Que nós o tomemos como símbolo da lula pela reforma agrária e da luta pela paz no campo. Da luta para que todas as crianças, do campo e da cidade, tenham o mesmo direito à Educação”, disse.

Com a voz embargada em várias momentos de seu discurso, Manuela afirmou que a sua visita para homenagear Fonteles dá “força para seguir a minha jornada”. Ela citou um trecho do poema de Lila Ripoll, Primeiro de Maio, que diz: Morreram? Quem disse, se vivos estão! Não morre a semente lançada na terra. Os frutos virão.

Para Manuela, “Paulinho já era fruto e agora é semente”. “Mas ele já era fruto de muitas lutas. Da luta pela democracia, mais atual do que nunca. Da luta pela justiça no campo. Da luta de Paulo Fontelles por terra, trabalho e uma nova independência para o Brasil”, declarou.

E concluiu: “Que essa homenagem nos faça ter forças para falar com o povo e construir e envolver o nosso povo num grande sonho de Brasil. O Paulinho é um homem que deu a vida por esse sonho. Se o espírito dele fundiu-se às matas do Araguaia, talvez reconheça ainda melhor os seus segredos. As tuas palavras e os seus exemplos se espalham, tal qual o orvalho por essa mata cuida. Sua inspiração é como o vento da floresta”.

Visita a acampamento

Mais tarde, Manuela faz uma visita ao acampamento Hugo Chaves do MST em Marabá – Pará, terra da Guerrilha do Araguaia de onde os latifundiários querem a desapropriação de 300 famílias, sendo mais de 150 crianças. “Mais do que nunca a luta pela terra é necessária. Pela Reforma Agrária!”

Veja as fotos abaixo: