Porto Alegre, Manuela e a cidade do futuro
Ninguém tem muitas dúvidas sobre o lugar que a cidade de Porto Alegre ocupa no cenário internacional. Berço do Orçamento Participativo e cidade sede do Fórum Social Mundial, a capital gaúcha é reconhecida internacionalmente como geradora de inovações políticas e democráticas. E a eleição municipal de 2020 parece confirmar essa vocação.
Por Theófilo Rodrigues*
Em todas as pesquisas de opinião publicadas até agora, a comunista Manuela d’ Ávila aparece na liderança isolada pela disputa da prefeitura da cidade. Em 29 de outubro, o Ibope lhe deu 27% de intenções de voto. Em 02 de novembro, Manuela repetiu os 27% em pesquisa do instituto RealTime Big Data. Na quinta-feira, 05 de novembro, o instituto Methodus registrou 29% para a candidata. Em todas as pesquisas mencionadas, os seus adversários não passam da metade das intenções de voto da candidata do PCdoB. Confirmadas essas tendências, Manuela será não apenas a primeira mulher a assumir a prefeitura da cidade, mas também a primeira comunista. Trata-se, portanto, de um fenômeno.
Como diria Engels, esse fenômeno, claro, não surge como um raio em dia de céu azul. Há todo um processo social e histórico que oferece as suas potencialidades em Porto Alegre. A socióloga britânica Hilary Wainwright, por exemplo, sugere que essas ideias inovadoras e progressistas da cidade são frutos da “combinação particular em Porto Alegre de movimentos sociais bem organizados, tradições democráticas fortes e uma história de governos de esquerda”. Algo semelhante é dito por outro sociólogo, o português Boaventura de Souza Santos, para quem as inovações participativas da cidade têm origem nas “condições históricas, políticas e sociológicas específicas de Porto Alegre”.
Contudo, Manuela não tem origem no PT, partido que por muitos anos foi protagonista nesse processo local de inovações democráticas. Como se sabe, sua filiação partidária por toda a vida foi no PCdoB. Mas isso não foi empecilho para contar com o apoio do Partido dos Trabalhadores que, inclusive, indicou o nome de seu vice. Talvez por isso mesmo somente ela seja capaz de levar adiante um projeto ainda mais ousado do que aquele que já foi implementado com sucesso na cidade.
O que Manuela propõe é inovador. É a radicalização da democracia na prática. Mas o que isso significa? É a volta do Orçamento Participativo? Sim. Mas dessa vez com a criação do Gabinete nos Bairros, da Prefeitura Comunitária e das Conferências da Cidade, entre tantas outras propostas. Se a direita fala tanto em Parcerias Público-Privadas, as famosas PPPs, Manuela responde em seu programa com as Parcerias Público-Comunitárias, em que o principal parceiro do Estado não é o Capital, mas sim as comunidades. Manuela também fala em desenvolvimento, instrumento chave para a geração de empregos e de riqueza, mas conjuga esse desenvolvimento com a ideia de sustentabilidade, agenda prioritária nesse início do século XXI. Ou seja, a rápida leitura de seu programa registrado no TSE nos confirma: o que está ali é a cidade do futuro.
Essa é a razão pela qual famosos nomes do cenário internacional hoje apoiem sua candidatura. É o caso de Ada Colau, a prefeita de Barcelona que foi eleita com o apoio do Podemos e que hoje é uma verdadeira sensação mundial na política.
Em tempos de retrocesso democrático, a eleição de Manuela d´Ávila representa um sopro de ar fresco em nosso país. Que sua experiência sirva de exemplo para outras cidades. Pois é das cidades que podem nascer as esperanças de um Brasil melhor nos próximos anos.
*Theófilo Rodrigues é cientista político
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(PL)