A MSC teve suspensa a classificação de “baixo risco” e a carga da empresa passou a estar sujeita a um exame minucioso

O Wall Street Journal revelou que o porta-contêineres apreendido em junho no porto de Filadélfia com 20 toneladas de cocaína no valor de US$ 1,3 bilhão, o MSC Gayane, é de propriedade do maior banco norte-americano, o JP Morgan. O Gayane é o segundo maior navio de contêineres do mundo, com capacidade para 10.000 contêineres, e é operado pela Mediterran Shipping Co, MSC, com sede na Suíça.

O Gayane foi invadido em 17 de junho por agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, que encontraram a colossal carga de cocaína armazenada em vários contêineres. O navio vinha de Freeport nas Bahamas, depois de passar pelo Peru e pelo Panamá, vindo do Chile. Após a parada em Filadélfia, iria para a Europa. O valor da cocaína é mais de dez vezes o da embarcação.

Considerando a dimensão do navio e a idade, o caso é sem precedentes, já que o costumeiro é usar embarcações bem mais velhas.

“Historicamente, navios envolvidos em atividades criminosas são mais velhos e deteriorados”, assinalou Basil Karatzas, executivo da Karatzas Marine Advisors & Co., de Nova York. “É estranho que uma embarcação tão moderna e cara esteja envolvida em um caso tão descaradamente criminoso “como mover 20 toneladas de cocaína”.

O JP Morgan está como passarinho na muda, mas certamente a operação abafa já está em curso. Um colunista da Bloomberg já se antecipou, reproduzindo a opinião da própria mulher, que é advogada, de que a linha de defesa deverá ser de que o banco serviu de “mula”.

Argumentação genial: o navio pertence ao JP Morgan, mas não as drogas. (Menos ainda o US$ 1,3 bilhão).

O que seria reforçado pelo fato de que o JP Morgan apenas financiou a compra do barco para a MSC através de um contrato de leasing (arrendamento). “Tecnicamente”, nada daquilo pertenceria ao banco.

O esforçado colunista alega ainda que como o contrato está no nome da JP Morgan Asset Management, a gestora de ativos do banco, poderia se considerar que os verdadeiros detentores do patrimônio seriam os seus clientes, e não o gigante de Wall Street.

Discussões à parte sobre o “essa cocaína não é minha”, se nada disso der certo o colunista já previu como saída para o JP Morgan a provável existência de acordo com a MSC isentando o banco de qualquer responsabilidade.

A MSC disse ao WSJ que está “ajudando e cooperando com as autoridades” e que “não é alvo de nenhuma investigação.” Oito tripulantes foram presos, entre sérvios e samoanos. Em fevereiro, agentes da alfândega também apreenderam 1,6 tonelada de cocaína em outra embarcação da MSC, a Carlotta, ao entrar no porto de Newark, NJ.

Em comunicado, o procurador dos EUA William McSwain afirmou que a apreensão de uma embarcação nesta massa é complicada e sem precedentes – “mas é apropriada porque as circunstâncias aqui também são sem precedentes”. “Quando uma embarcação traz uma quantidade tão escandalosa de drogas mortais para as águas da Filadélfia, meu escritório buscará as consequências mais graves possíveis contra todas as partes envolvidas, a fim de proteger nosso distrito – e nosso país”.

Em consequência das duas apreensões de cocaína em menos de seis meses – uma delas, espantosa -, a MSC teve suspensa a classificação de “baixo risco” e a carga da empresa passou a estar sujeita a um exame minucioso, punição que a transportadora quer ver aliviada o mais rápido possível.