Polícia chilena mistura soda cáustica à agua atirada contra manifestantes - RedInternacional

O Colégio de Químicos, Farmacêuticos e Bioquímicos do Chile divulgou uma análise química na última segunda-feira comprovando a presença de “soda cáustica e gás de pimenta” na água lançada dos caminhões-pipa pela polícia – os “carabineros” – nos manifestantes durante os protestos que sacodem o país há cerca de dois meses contra o governo de Sebastián Piñera.

O estudo identificou a presença de soda cáustica, “composto altamente corrosivo em contato direto ou em solução e fora de qualquer norma legal relativa ao uso de elementos de controle de distúrbios”. E também um componente do gás de pimenta. Entre as reações a estas substâncias contam-se – apontou – inflamações nos pulmões e queimaduras.

Realizada a pedido do Movimento Saúde em Resistência (MSR), a análise constatou um pH extremamente irritante (12 numa escala de 0 a 14), algo que além de causar grandes danos e ferimentos à pele pode levar à cegueira, como já tem ocorrido em inúmeros casos.

A água que no início tinha aparentemente o objetivo de dispersar as imensas concentrações, está sendo responsável pelo aumento vertiginoso do número de casos de jovens com lesões oculares e no corpo nas últimas semanas.

É o caso do jovem Gonzalo Llancao Vargas que, embora tenha conseguido proteger os olhos, teve queimaduras de primeiro e segundo graus espalhadas por toda a sua estrutura física.

Conforme denunciaram as próprias vítimas, das mais de 350 pessoas  que tiveram perda de visão total ou parcial em um ou nos dois olhos – por impacto de bala ou estilhaço de bombas – o jato de água com soda cáustica e gás de pimenta se soma agora como instrumento da política terrorista de Piñera executado pelo chefe dos Carabrineiros, o general Mario Rozas.

A confirmação do estudo e sua divulgação ampliou ainda mais a revolta contra o governo e seus carabineros, colocando a hashtag #SODACAUSTICA no topo dos assuntos mais comentados do país.

Apesar da análise química não deixar margens a dúvidas, a direção dos carabineros continua sustentando que é “tão somente água o que vem sendo jogado” contra a população. Piñera limita-se a admitir “excessos”, mas insiste em manter a mais covarde repressão na tentativa de manter a insustentável política econômica de arrocho salarial, desemprego e achatamento das pensões e aposentadorias.

“A presença de soda cáustica mostra que os Carabineros mentem. Está na hora do governo explicar por que continua a violar os direitos humanos”, publicou o MSR.

O mesmo alerta tinha sido lançado na semana passada pelo Departamento de Direitos Humanos do Colégio Médico do Chile perante o Senado do país. Esta entidade mostrara então fotografias das queimaduras registadas em manifestantes.

Para o movimento Revolução Democrática, integrante da Frente Ampla, “estamos diante de um inimigo muito poderoso e implacável, que não respeita nada nem ninguém”.

Ex-candidata à presidência pela Frente Ampla, Beatriz Sánchez, somou sua voz ao protesto. “No mesmo dia em que se confirma que Carabineros usam soda cáustica para atacar aqueles que se manifestam, Piñera reafirma Rozas. É a enésima prova de que Piñera não entende, não quer e não pode ajudar a resolver a crise”, sustentou.

Os canhões de água não são os únicos culpados pelos lesões aos manifestantes. Estudo da Universidade do Chile provou as assim chamadas pelas autoridades “balas de borracha” só continham 20% desta substância, sendo o restante sílica, sulfato de bário e chumbo, dando-lhes uma “dureza equivalente a uma roda de skate”.