Mães sofrem ao serem informadas da barbárie: filhos decapitados em presídios no Equador

Com ao menos 79 mortos, corpos de presos decapitados e desmembrados expondo celas abarrotadas, em plena pandemia, o Equador foi palco do pior massacre de presidiários de sua história. As imagens de mães em prantos refletem o horror que tomou conta de ao menos três penitenciárias equatorianas e estampam uma situação de descontrole do sistema carcerário do país.

Com bombas e tiros o que se viu foi o desdobramento do descaso e da superlotação de um sistema com capacidade de acolher 28.500 pessoas, mas amontoa neste momento 38.000. Estes 33% a mais, avalia o Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos (CDH), são números que agora cobram o seu preço em vidas.

Os assassinatos nas penitenciárias de Cuenca, Guayaquil e Latacunga superam, em muito e em um dia, todas as mortes registradas no ano passado nas 48 prisões do país.

“É sem precedentes isso o que aconteceu”, declarou o ex-prefeito de Cuenca, Marcelo Cabrera, referindo-se às 34 mortes do cárcere de El Turi.

Uma tragédia que se dá em um quadro de submissão ao receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI), que levou Moreno a adotar mais um dos chamados “planos de austeridade”, na verdade um corte desmedido de recursos em setores essenciais e que teve impacto negativo na capacidade de vigilância, segurança e condições prisionais do país.

Um quadro de elevação da população carcerária em meio a medidas recessivas que redundaram em menores salários, cortes de direitos desemprego.

Para agravar a situação e elevar as tensões no interior dos presídios – como aponta o diretor do Serviço Nacional de Atenção a Pessoas Privadas de Liberdade (Snai), Edmundo Moncayo – o corte de recursos levou a um déficit na contratação de pessoal encarregado da segurança nas prisões. Moncayo estima que hoje há apenas 30% do mínimo necessário em termos de pessoal para garantia de segurança, ao que se soma a escassez em temos de assistência e atenção. Dados do portal Primicias, denunciam que no Equador um servidor penitenciário cuida em média de 27 reclusos, quando o padrão internacional recomenda um para cada nove.

Entidades de direitos humanos denunciaram que o massacre se dá em quadro de beneficiamento de banqueiros por intermédio da entrega de patrimônio público.

Muitos dos presos aguardam julgamento em prisões superlotadas e dominadas por gangues que se rivalizam pelo domínio das penitenciárias.

Equador hoje cumpre um papel chave na geopolítica da droga, concentrando mais de um terço da distribuição da droga produzida na Colômbia rumo à Europa e aos Estados Unidos.

Autores de um livro sobre o tema, os jornalistas María Belén Arroyo e Arturo Torres fazem a projeção de que cerca de 500 toneladas da droga saem anualmente do país rumo ao estrangeiro.

Em relação ao controle do complexo penitenciário equatoriano, os meios de comunicação apontam que se trata de cinco gangues que disputam a liderança interna: Los Pipos, Los Lobos, Los Chone Killers, Los Tiguerones y Los Choneros.

O portal especializado Insight Crime avalia que nestes grupos de bandidos há operativos que atuam como agentes subcontratados de organizações criminosas estrangeiras. Ainda não há informações precisas sobre detalhes do massacre. O jornal equatoriano El Comércio associa um levante nos presídios, à rivalidade entre facções e a repressão policial como fatores que acabaram se compondo para o morticínio.