Candidato da extrema-direita à Presidência do Chile segue os passos do progenitor nazipinochetista

Uma carteira de identidade recém obtida no Arquivo Federal da Alemanha comprova que Michael Kast, pai do candidato presidencial chileno José Antonio Kast, ingressou no partido nazista meses antes de completar 18 anos, tornando-se posteriormente um oficial de Hitler.

A revelação realizada pela agência AP e divulgada no portal alemão DW estabelece uma conexão entre os milhares de crimes hediondos praticados pelo general Augusto Pinochet em seu governo (1973-1990), a defesa das atrocidades cometidas, e o passado familiar com a suástica.

Os inúmeros delitos de lesa-humanidade que condenaram o brigadeiro do exército Miguel Krassnoff Marchenko a mais de 800 anos de prisão, disse Kast, correspondem a “coisas que dizem dele”. Em apoio ao fascista, o candidato da extrema-direita visitou Marchenko no presídio de Punta Peuco.

Mentira de Kast

Datado de 1º de setembro de 1942, o documento desmente as afirmações de Kast, que enfrentará no próximo dia 19 o candidato progressista Gabriel Boric, da Frente Ampla, que lidera todas as pesquisas. “Migrar é um direito e às vezes também é uma tragédia. Seu próprio pai era um migrante depois de ter lutado no exército nazista”, afirmou Boric, criticando Kast por propor a construção de um fosso como “solução para os migrantes que chegam do norte ao Chile”.

Com o nome do pai de José Antonio Kast, o registro foi descoberto e publicado nas redes sociais pelo jornalista chileno Mauricio Weibel. A agência AP teve acesso direto à carteira de identidade, após obtê-la no Arquivo Federal da Alemanha. O achado contradiz as afirmações de Kast, que sempre sustentou que seu pai havia lutado como simples recruta (do serviço militar obrigatório) no exército alemão, o que não o tornava nazista.

Em 2018, durante uma entrevista para a televisão, ele rejeitou as acusações. “Por que você usa o adjetivo nazista?”, Perguntou Kast sobre seu interlocutor. “Quando há uma guerra e há um alistamento obrigatório, um jovem de 17 ou 18 anos não tem opção de dizer: ‘Eu não vou’ porque eles fazem um julgamento militar e o fuzilam no próximo dia”, alegou.

Embora o serviço militar fosse obrigatório, como afirma Kast, o fato é que a adesão ao partido nazista era voluntária, de acordo com o historiador alemão Armin Nolzen.

O Michael Kast que consta no cartão, com o número de afiliado ao partido nazista 9271831, nasceu na mesma data e local do pai de Kast.

Raízes

Os laços familiares de Kast com a ditadura de Pinochet têm raízes bastante profundas. Seu irmão, Miguel Kast, foi presidente do Banco Central do Chile do regime. Durante as eleições de 2017, nas quais obteve 8% dos votos, Kast não escondeu sua proximidade ideológica com o ditador. “Se Pinochet estivesse vivo, ele votaria em mim. Agora, se eu tivesse me reunido com ele, teríamos tomado uma xícara de chá no La Moneda ”, declarou. No referendo de 1988 que retirou Pinochet do poder, Kast votou pela continuidade do ditador no comando do país andino.

Não é a primeira vez que uma investigação expõe as entranhas da família Kast. Em 2015, o jornalista Javier Rebolledo publicou “A la sombra de los cuervos – Los cúmplices de la dictadura” (À sombra dos corvos, os cúmplices da ditadura), uma pormenorizada pesquisa sobre a participação de civis no período Pinochet. Metade do livro é dedicado exatamente à família Kast. O texto se baseia em grande parte no testemunho de Olga Rist, viúva de Michel Kast e mãe de José Antonio Kast, o candidato.

Rebolledo afirma em seu livro que Christian Kast, irmão de José Antonio, colaborou com a Dina, a degenerada polícia política do regime militar, e que o pai Michael esteve envolvido em algumas prisões de opositores de Pinochet.

Michael Kast chegou ao Chile em 1950, um ano antes de sua esposa e dois filhos mais velhos. Ele já havia destruído os papéis que o identificavam como oficial do Exército Alemão para trocá-los por um documento da Cruz Vermelha que havia obtido. Mais tarde, ele contatou Erik Wünsch, um ex-oficial do Exército nazista que emigrou para o Chile após a guerra, que o ajudou a conseguir vistos. Michael Kast se estabeleceu em El Paine, uma área rural no sul de Santiago, e a partir daí fundou uma rede de restaurantes e construiu uma fábrica de alimentos embalados. Com o Golpe de Estado de 1973, esclarece a investigação, a família Kast se vinculou ao planejamento das tarefas econômicas do regime, juntamente com as ações criminosas repressivas da ditadura.