Flames engulf the iconic Enel building in downtown Santiago on October 18, 2019, following a mass fare-dodging protest. - The entire Santiago Metro, which mobilizes about three million passengers per day, stopped operating on Friday afternoon following attacks in rejection of the rate hike, the company said. (Photo by JAVIER TORRES / AFP)

Com a capital chilena, Santiago, rebelada e tomada por manifestantes que se enfrentaram com contingentes policiais, o presidente Sebastián Piñera recuou e anunciou a suspensão do aumento de 30 pesos (quase 20 centavos) na passagem de metrô. Aumento que ele havia decretado pouco antes.

“Escutei com humildade a voz de meus compatriotas e não terei medo de seguir escutando esta voz. Vamos suspender o aumento nas passagens do metrô”, disse em uma transmissão.

Durante a revolta que se alastrou no sábado, uma das ações dos manifestantes foi saltarem em massa as catracas do metrô.

Prédios públicos foram alvo de incêndios.

O recuo anunciado por Piñera aconteceu pouco depois de haver declarado que não voltaria atrás de sua decisão e declarado Estado de Emergência e nomeou um militar no cargo de Segurança Pública. Os protestos provocaram 308 presos e 160 feridos, incluindo policiais, segundo o balanço dado a conhecer no sábado, 19, pelo governo do país.

Justificando a medida com o aumento do preço do petróleo, o dólar e a modernização do sistema, o valor do bilhete do metrô de Santiago nos horários de pico – de manhã e à tarde – subira para 830 pesos (cerca de 4,80 reais). A passagem já tinha subido no inicio do mês em quase 4%.

Desde 2010, não havia um aumento dessa proporção, sendo que poucos meses atrás o governo de Sebastián Piñera tinha se comprometido com entidades sociais de moradores e de jovens em que não mexeria no preço do metrô.

No final da tarde de sexta-feira, 18, centenas de milhares de chilenos foram afetados no retorno aos seus lares, depois que a empresa operadora do metrô suspendeu o serviço devido às “evasões em massa” no pagamento da passagem por parte de estudantes e outros usuários para protestar contra o aumento das tarifas.

O que começou com um “panelaço” popular, com milhares de famílias batendo panelas e frigideiras, desembocou em barricadas, enfrentamentos entre manifestantes e as forças especiais da polícia e militares acontecendo em vários pontos centrais de Santiago, como a Praça Itália, o Palácio de La Moneda, sede do governo, a praça de armas de Maipú e outros.

Pego de surpresa com a revolta popular, mas sem oferecer nada de concreto, Sebastián Piñera anunciou neste sábado: “Passamos por tempos difíceis e, por esse motivo, estamos desenvolvendo um plano que nos permitirá aliviar o impacto que o aumento da passagem do metrô teve e terá nos setores mais vulneráveis e na classe média necessitada”.

“Isso não quer dizer nada, não vai ser assim que as manifestações vão parar. Demagogia numa situação como esta não dá”, afirmou Eric Campos, presidente do Sindicato do Metrô.

Os partidos integrantes da frente Unidade para o Câmbio (Federação Regionalista Verde Social, FREVS, Partido Comunista  e Progressista de Chile, PRO) lançaram um manifesto afirmando: “Queremos expressar nosso respaldo às manifestações convocadas e desenvolvidas por estudantes e cidadãos/as diante do novo aumento da tarifa do Metrô de Santiago. Acreditamos que constituem uma forma legítima de protesto cidadão e uma justa reclamação ante o aumento continuo do preço dos serviços básicos que tem encarecido o custo de vida para a população”.

“Também rechaçamos que o presidente Sebastián Piñera e seus ministros ameacem com ‘todo o rigor da lei’ e tenham como única resposta a repressão contra estas mobilizações sem responder por estas legítimas demandas sociais, o que deixa em evidência que estas autoridades vivem distantes da realidade de milhões de chilenas e chilenos”, prossegue o texto dos partidos de oposição.

E conclui expressando: “É por isso que os partidos da Unidade para o Câmbio pedimos que o governo assuma esta demanda cidadã revertendo o aumento da tarifa do Metrô que encarece a vida para milhões de cidadãos”.

O prédio da companhia de eletricidade Enel – questionada pelo aumento considerado abusivo das tarifas – e outro do Banco do Chile, além de várias estações do metrô, foram incendiados. As chamas que tomaram conta destes estabelecimentos foram controladas pouco tempo depois.

Com uma extensão de 140 quilômetros, o Metrô de Santiago é o mais extenso da América do Sul. Na América Latina, é superado apenas pelo da Cidade do México.

Perto da meia-noite da sexta-feira, 18, o presidente Sebastián Piñera anunciou “Estado de Emergência” na capital e designou o general de Divisão Javier Iturriaga del Campo como chefe da Defesa Nacional.

O Estado de Emergência tem a vigência inicial de 15 dias e restringe a liberdade de locomoção e reunião. Por conta da medida, a Associação Nacional de Futebol suspendeu os jogos deste final de semana, acirrando a indignação dos chilenos.