Medida pelo PIB per capita, o nível de bem estar e renda da população brasileira teve, sob o governo Bolsonaro, a maior queda dos últimos 25 anos. A recuperação do mesmo patamar de 2019, segundo previsões do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), só será possível em 2023.

No ano passado, em meio à pandemia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 4,1%, enquanto o PIB per capita despencou 4,8% – a maior queda desde 1995. As estimativas da FGV preveem que em 2021 a variação do PIB per capita vai ser positiva em 4,1% – ou seja, não recupera as perdas do ano passado. O brasileiro deverá terminar o ano ainda 0,9% mais pobre na comparação com 2019 e 7,5% abaixo da máxima histórica de 2013.

O indicador é a soma de todos os bens e produtos produzidos em um ano dividido pelo número de habitantes.

“O risco de um cenário pior para o ano que vem é mais provável do que de um aumento nas projeções para o PIB – o que significará também uma taxa de crescimento muito baixa do PIB per capita. Será abaixo de 1% com certeza. Ou seja, ainda não recupera o patamar de 2019″, afirma a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV e autora do levantamento, ao Valor Econômico.

Apenas em 2029, ou seja, em quase uma década a partir daqui, o país conseguirá voltar aos níveis de 2013 considerando uma média de crescimento de 1% ao ano – uma média bastante otimista considerando a situação atual.

“Um cenário base de crescimento do PIB per capita de 1% ao ano é bem factível. Só que, mesmo assim, a gente só voltaria ao patamar de 2013 em 2029. Ou seja, precisaria de uma década para voltar ao patamar do pico de 2013. É muito difícil imaginarmos alguma coisa melhor que isso”, diz a economista, destacando que a referência para as estimativas nada animadoras são os índices dos últimos meses e o retrospecto de crescimento muito baixo dos últimos anos.

De acordo com a FGV, a taxa de crescimento médio do PIB per capita foi de apenas 0,7% ao ano de 1981 a 2019. A última década foi a pior da história, com média de empobrecimento de 0,6% da população entre 2011 e 2020.

“Temos uma nova crise gerada pela pandemia, mas os nossos desafios de crescimento permanecem”, acrescenta a pesquisadora, registrando que o ano de 2019 – antes da Covid-19 – já foi particularmente desastroso em termos de crescimento.

Sobre o crescimento esperado em 2021, Silvia Matos reitera que “é preciso qualificar o que é mero retorno à normalidade e não crescimento econômico propriamente dito”.

Um dos principais entraves para o crescimento atualmente é o desemprego e inflação nas alturas.

“Mais de 60% do PIB do lado da demanda é consumo das famílias. Então, num cenário inflacionário e de baixo emprego, e com cobertor curto para as políticas redistributivas, o espaço para o aumento do consumo das famílias é muito baixo”, avalia a pesquisadora da FGV.

“Temos um choque inflacionário num contexto de uma renda do trabalho que não cresce. A inflação corrói o poder de compra e não tem muito por onde escapar, porque até mesmo o crédito está ficando mais caro”, diz, citando o aumento da Selic, atualmente em 6,25% ao ano.