Personalidades alemãs pedem a Merkel apoio à libertação de Assange
Mais de 120 políticos, jornalistas, artistas e outras personalidades da Alemanha assinaram um documento instando a chanceler alemã, Angela Merkel, a defender Julian Assange, fundador do WikiLeaks, quando se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Washington, no final deste mês.
Dietmar Bartsch, presidente do partido Die Linke (A Esquerda); Wolfgang Kubicki, vice-presidente do Bundestag (Parlamento Federal); Serap Guler, secretário de estado para a integração da Renânia do Norte-Vestfália; numerosos parlamentares de todo o espectro político, além de jornalistas e pessoas das artes, incluindo o premiado cineasta e jornalista Lutz Hachmeister, pedem que Merkel tome uma posição a respeito no que será seu último encontro com o presidente dos EUA antes de concluir seu mandato.
A carta destaca principalmente os problemas de saúde de Assange, citando informes do Relator Especial da ONU sobre Tortura, Prof. Nils Melzer (também signatário), de que Assange está apresentando sintomas de “tortura psicológica” e deveria ser libertado somente por esse motivo.
Os autores afirmaram ainda que a perseguição a Julian Assange é “um atentado à liberdade de imprensa e de expressão” e afirmaram que “deve ser rejeitada com toda determinação”.
Os assinantes manifestaram que Merkel pode “ajudar a garantir que Julian Assange não precise mais permanecer detido”, o que está comprometendo seriamente sua saúde. Eles sugerem que sua postura nessa questão pode facilitar uma “solução humanitária para Julian Assange e até uma solução benéfica para o presidente dos Estados Unidos”.
Eles acrescentaram que tal posição também proporcionaria a oportunidade de deixar completamente para trás a era turbulenta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Assange está preso na Prisão Belmarsh, uma prisão de segurança máxima em Londres, desde abril de 2019, depois que o governo equatoriano, que lhe concedeu asilo em sua embaixada em Londres, onde esteve preso por sete anos, interrompeu a acolhida. Ele foi detido com a desculpa de violação de fiança.
Stella Morris, a advogada e companheira do jornalista e mãe de seus dois filhos pequenos, rechaçou a decisão da Suprema Corte britânica de dar aval ao governo Biden para prosseguir com o pedido de extradição. O que os EUA estão propondo “é uma fórmula para mantê-lo na prisão pelo resto da vida”, denunciou, assinalando que Assange estava “mal se aguentando” na prisão e está confinado a uma pequena cela 22 horas por dia, em “um estado terrível, incapaz até de encadear uma sentença”.
Em janeiro, a juíza do caso, Vanessa Baraitser, apesar de acolher muitas das acusações norte-americanas, havia decidido que o fundador do WikiLeaks não pode ser extraditado por motivos de saúde mental, com risco de vida.
O pedido de extradição sob acusação de ‘espionagem’ e hackeamento, que foi apresentado pelo governo Trump, ameaçando Assange com 175 anos de cárcere nos porões da CIA, foi mantido por Biden mesmo diante de uma das testemunhas centrais arroladas pela parte norte-americana ter confessado que mentiu sob juramento.
Foi o caso do islandês Sigurdur Ingi Thordarson, ex-voluntário do WikiLeaks que se tornou informante do FBI por US$ 5.000 em 2011. Ele admitiu ao jornal islandês Stundin no sábado (26) que fabricou partes importantes das acusações contra Assange. Thordarson detalhou várias partes de seu depoimento, que agora nega, e confessa que Assange nunca o instruiu a realizar qualquer operação de hackeamento.
O governo dos EUA acusou o jornalista australiano de acordo com a Lei de Espionagem, acusando-o de vazar informações classificadas em 2010. Na época, o WikiLeaks publicou documentos detalhando abusos, incluindo possíveis crimes de guerra, perpetrados pelos militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque. Washington está atualmente querendo sua extradição e Assange pode ser preso por até 175 anos se for considerado culpado.