Cúpula China-EUA em Anchorage, Alasca

A delegação chinesa chamou às falas o secretário de Estado Anthony Blinken por sua arrogante peroração sobre “democracia” e o que a China pode ou não pode na abertura da cúpula Pequim-Washington no Alasca, o primeiro encontro entre delegações dos dois países desde que Biden assumiu.

Essa firme atitude da delegação chinesa tornou possível que o encontro caminhasse para discussões “diretas e construtivas” durante dois dias de reunião.

“Se bem que haja sempre importantes divergências entre as partes, o diálogo foi direto, construtivo e útil”, afirmou depois dos acalorados embates o mais alto representante do Partido Comunista Chinês para as relações externas, Yang Jiechi, que estava acompanhado pelo chanceler Wang Yi.

A cúpula de Anchorage aconteceu na quinta-feira (18) e sexta-feira (19), após telefonema entre Joe Biden e o presidente chinês Xi Jinping no mês passado, e a convite dos EUA.

“Esperávamos ter uma troca dura e direta sobre uma ampla gama de assuntos e foi exatamente o que tivemos”, resignou-se o conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, que encabeçava a delegação norte-americana junto com Blinken.

O ministro das Relações Exteriores Wang, após enfatizar que a China “não aceitaria as acusações injustificadas do lado dos EUA”, assinalou que nos últimos anos “os direitos e interesses legítimos da China foram totalmente suprimidos, mergulhando as relações China-EUA em um período de dificuldade sem precedentes ”. Isso – acrescentou – “afetou a estabilidade mundial e o desenvolvimento e essa situação não deve mais continuar”.

A parte mais “direta” desse debate começou logo na abertura, quando Yang respondeu às abusivas considerações de Blinken e de Sullivan sobre os assuntos internos chineses e às presunçosas aulas de ‘democracia’, extrapolando em muito o tempo acordado e as normas de civilidade.

“Os Estados Unidos não estão em posição de criticar a China com tal complexo de superioridade, e o povo chinês não aceitará isso”, disse Yang, acrescentando que é preciso “respeito mútuo” para lidar com a China, e a história provará que aqueles que buscarem prejudicar a China pagarão as consequências no final.

Yang admoestou os EUA para que parem de se intrometer nos “assuntos internos” da China e, quanto às credenciais democráticas que Washington vive alardeando, assinalou que muitos norte-americanos “na verdade têm pouca confiança na democracia dos Estados Unidos”.

Yang frisou que a China defende a paz, o desenvolvimento, a equidade, a justiça, a democracia e a liberdade, os valores comuns da humanidade, e defende a salvaguarda do sistema internacional com a Organização das Nações Unidas (ONU) no centro e da ordem internacional baseada no direito internacional, em vez da ordem baseada em regras formuladas por um pequeno número de países.

Soberania

Apontando que Taiwan, Hong Kong e Xinjiang são partes inalienáveis da China, Yang disse que Pequim se opõe firmemente à interferência dos EUA nos assuntos internos da China e continuará dando respostas firmes.

A maioria dos países do mundo – apontou – “não reconhece que os valores americanos representem os valores internacionais, não reconhece que o que os Estados Unidos represente a opinião pública internacional e não reconhece que as regras formuladas por alguns poucos países representem regras internacionais”.

Enfaticamente Yang observou que, ao contrário dos EUA, os chineses não acreditavam “em invadir e no uso da força, ou derrubar outros regimes por vários meios, ou massacrar o povo de outros países”.

Yang contestou as alegações dos EUA de que defende os direitos humanos, apontando para a erupção de protestos generalizados sobre homicídios de negros norte-americanos por policiais, acrescentando que o abuso dos direitos democráticos no país “não surgiu apenas nos últimos quatro anos”.

Os EUA têm “muitos problemas internos em áreas como direitos humanos”, disse Yang, acrescentando que o que Washington deve fazer “é melhorar sua imagem e cuidar de seus próprios assuntos, em vez de deixar seus problemas

sem solução, transferindo suas questões para outras partes do mundo, desviando a atenção e fazendo comentários irresponsáveis sobre os direitos humanos e a democracia da China”.

Ele realçou o enorme sucesso da China no enfrentamento da pandemia da Covid-19, a vitória total na erradicação da pobreza e as conquistas históricas na construção de uma sociedade moderadamente próspera, acrescentando que o povo chinês se une mais estreitamente em torno do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, com Xi à frente.

A China alcançará basicamente a modernização até 2035 e se desenvolverá em um grande país socialista moderno até 2050, sublinhou, se referindo ao 14º Plano Quinquenal.

Yang acrescentou que a liderança do Partido Comunista e o sistema político da China desfrutam do apoio sincero do povo chinês, e qualquer tentativa de mudar o sistema social da China é inútil.

Yang também rechaçou as acusações dos EUA de ciberespionagem chinesa, dizendo “seja a capacidade de lançar ataques cibernéticos ou as tecnologias que poderiam ser implantadas, os Estados Unidos são os campeões nesse sentido”.

Mentalidade ‘Soma Zero’

O dirigente comunista chamou o lado norte-americano “a mudar sua mentalidade de soma zero, abandonar suas práticas equivocadas da ‘jurisdição de braço longo’ e parar de abusar do conceito de segurança nacional para interferir no comércio normal entre os dois países”.

Yang disse que a China e os Estados Unidos são ambos importantes países do mundo e compartilham grandes interesses comuns no combate à pandemia da Covid-19, retomada do trabalho e produção e enfrentamento da mudança climática.

Houve uma era de confrontação entre a China e os EUA, e a China superou, disse Yang, acrescentando que os fatos provam que a confrontação não traz benefícios para os Estados Unidos.

Ele destacou as muitas conquistas feitas desde a “quebra do gelo” das relações China-EUA, que foram alcançadas pelo esforço conjunto de pessoas com visão dos dois lados e apesar das dificuldades.

Ele também observou que o presidente Xi apontou que a China e os Estados Unidos devem se comprometer com o não conflito, não confrontação, respeito mútuo e cooperação de benefício mútuo, e que Biden também disse que os dois países devem evitar conflitos e a confrontação entre si. Yang chamou a delegação norte-americana a implementar esse consenso para o retorno das relações China-EUA ao caminho de desenvolvimento.