Netanyahu recusa o cessar-fogo. Bombardeio israelense já ceifou 218 vidas palestinas

Pela terceira vez em uma semana, e enquanto Israel matava 200 civis palestinos em ataques aéreos indiscriminados a Gaza e forçava dezenas de milhares a deixarem suas casas, os Estados Unidos bloquearam no domingo (16) resolução do Conselho de Segurança da ONU por um cessar-fogo imediato, apresentada conjuntamente pela China, Noruega e Tunísia, e apoiada por todos os membros, menos Washington.

Como enfatizou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, que presidiu a reunião virtual do CS, o “acordo” – a convocação ao cessar-fogo – não foi possível devido “aos EUA ter ficado do lado oposto à justiça internacional”.

A China, em maio, ocupa a presidência rotativa do CS da ONU e tem se empenhado em deter a carnificina em curso. A resolução China-Noruega-Tunísia também deplorava as vítimas civis e reafirmava a solução dos ‘dois estados’, vivendo lado a lado, Israel e Palestina, com base nas resoluções da ONU.

O imediato cessar-fogo também foi pedido pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. “Este ciclo sem sentido de derramamento de sangue, terror e destruição deve parar imediatamente”, exigira Guterres no início da reunião. “Todas as partes devem respeitar o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos”.

Ele também se disse “chocado” com a família (oito crianças e duas mães) morta por um bombardeio aéreo israelense a um campo de refugiados e com a demolição a míssil de um prédio que abrigava órgãos de mídia internacional, entre eles a Associated Press, norte-americana, e a TV Al Jazeera, árabe.

“As instalações humanitárias devem ser protegidas”, enfatizou Guterres, que acrescentou que “os jornalistas devem ser capazes de trabalhar sem medo ou assédio na zona de conflito”.

Fala o chanceler Wang Yi

Em seu discurso no CS, o chanceler chinês Wang assinalou que a situação era extremamente crítica, com um grande número de vítimas, incluindo mulheres e crianças, e que “um cessar-fogo e o fim da violência são urgentemente necessários”.

Ele convocou a comunidade internacional a agir para evitar que a situação se deteriore ainda mais e para proteger a vida dos civis.

Wang reiterou que a questão palestina “sempre foi o cerne da questão do Oriente Médio”. Somente quando a questão palestina for “resolvida de forma abrangente, justa e permanente”, o Oriente Médio poderá realmente alcançar “uma paz duradoura e segurança universal”, sublinhou.

Em resposta à atual crise, Wang apresentou uma proposta de quatro pontos:

Em primeiro lugar, “o cessar-fogo e o fim da violência são as prioridades”.

“A China condena veementemente os atos violentos contra civis e, mais uma vez, insta os dois lados a interromper imediatamente as ações militares e hostis e interromper as ações que deterioram a situação, incluindo ataques aéreos, ofensivas terrestres e lançamentos de foguetes. “Israel, em particular, deve exercer moderação”, acrescenta.

Em segundo lugar, “a assistência humanitária é uma necessidade urgente. A China insta Israel a cumprir seriamente suas obrigações sob os tratados internacionais, levantar todo o bloqueio e cerco a Gaza o mais rápido possível, garantir a segurança e os direitos dos civis no território palestino ocupado e fornecer acesso para a assistência humanitária”.

Pequim chamou, ainda, a comunidade internacional a fornecer assistência humanitária à Palestina, com a ONU desempenhando um papel de coordenação que evite desastres humanitários graves.

Terceiro, o apoio internacional é uma obrigação. “O Conselho de Segurança deve tomar medidas vigorosas no conflito Palestina-Israel, reiterar seu firme apoio a uma ‘solução de dois Estados’ e fazer com que a situação esfrie o quanto antes”.

“O CS da ONU falhou em ter uma voz unânime devido à obstrução de certo país. A China apela aos Estados Unidos para que assuma suas devidas responsabilidades, adote uma posição justa e apoie o Conselho de Segurança no desempenho de seu devido papel para aliviar a situação, reconstruir a confiança e estabelecer acordos políticos”.

Wang também expressou o apoio da China aos esforços da Liga dos Estados Árabes, da Organização de Cooperação Islâmica e de outros países.

Dois estados

“Quarto, uma ‘solução de dois Estados’ é a saída fundamental. A China apoia os dois lados na retomada das negociações de paz com base na ‘solução de dois Estados’ o mais rápido possível, para estabelecer um Estado da Palestina independente que goze de total soberania com Jerusalém Oriental como sua capital e com base na fronteira de 1967, e fundamentalmente realizar o coexistência pacífica da Palestina e Israel, estabelecer a coexistência harmoniosa das nações árabes e judaica, e concretizar uma paz duradoura no Oriente Médio”, enfatizou o chefe da diplomacia chinesa.

“A China continuará a intensificar esforços para promover negociações de paz e cumprir suas obrigações na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU”, disse Wang, acrescentando que Pequim reitera seu convite à Palestina e Israel para dialogarem na China.

Ao CS, para concluir, Wang pediu “unidade; aliar-se à paz, justiça e equidade; ficando do lado certo da história; e praticando o multilateralismo real, para pressionar por uma solução abrangente, justa e permanente para a questão palestina o mais breve possível”.

Ainda no domingo, a Organização da Cooperação Islâmica, que reúne 57 países de fé islâmica, entre eles Egito, Arábia Saudita, Turquia, Indonésia, Irã e Paquistão, pediu o fim do massacre em Gaza. O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan, pediu “à comunidade internacional que tome medidas urgentes para interromper imediatamente as operações militares”.

Liberdade para a Palestina

No final de semana, manifestações no mundo inteiro exigiram o fim do morticínio em Gaza e condenaram o apartheid fomentado pelo regime Netanyahu, a maior delas em Londres, que teve 150 mil pessoas, segundo os organizadores. Atos também na maioria das capitais europeias e dos países árabes e islâmicos.

Nos EUA, começa um movimento de rejeição à política de blindar todas as atrocidades do regime Netanyahu a pretexto de “proteger Israel”, ou do “direito de defesa”. Protestos ocorreram em Chicago, Los Angeles, Nova Iorque e Washington. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez denunciou o “apartheid de Israel”.

O senador Bernie Sanders convocou o presidente Biden a parar de fazer a apologia de Netanyahu e a romper com a política insana do governo Trump para o Oriente Médio.

“Devemos exigir um cessar-fogo imediato. A matança de palestinos e israelenses deve acabar. Devemos também examinar seriamente quase US $ 4 bilhões por ano em ajuda militar a Israel. É ilegal a ajuda dos EUA apoiar as violações dos direitos humanos ”, afirmou.

Em paralelo ao CS da ONU, sob cobertura do veto norte-americano, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se vangloriou de que o massacre aéreo continuaria com “força total” e prometeu “levar tempo” na matança.

Segundo os números mais recentes, relatados na noite de segunda-feira (17) pelo embaixador palestino em Moscou, Abdel Hafiz Nofal, à Sputnik, os palestinos mortos já são 218 e o número de feridos já passa de 6.500 – mais de 90% são civis.

O que só mostra a justeza da declaração do ministro palestino das Relações Exteriores, Riyad Al Maliki, ao CS da ONU, em que denunciou a agressão ao povo palestino e a seus lugares sagrados. “Alguns não querem usar essas palavras – crimes de guerra e crimes contra a humanidade -, mas sabem que é a verdade”, afirmou.