Com o lema “Primeiro Quem Mais Precisa”, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) foi lançado à disputa da Prefeitura de São Paulo, marcada para outubro deste ano. O Encontro Eleitoral do PCdoB São Paulo, realizado no sábado (14/3), no Braston Hotel, firmou sua pré-candidatura, bem como a de 80 nomes do partido que concorrerão à Câmara Municipal.

Ex-ministro do Esporte (2006-2001) e ex-vereador (2013-2015), Orlando será o primeiro candidato na história do PCdoB ao Executivo da maior cidade do País. Baiano, veio residir em São Paulo em 1992, quando se tornou dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) – entidade que ele próprio presidiu de 1995 a 1997.

O pré-candidato a prefeito entende que a cidade, na definição de suas políticas e de seu orçamento, precisa priorizar as camadas da população mais empobrecidas e as regiões mais desassistidas pelo poder público. Para ele, a desigualdade social existente em São Paulo se estrutura a partir da educação, que é diferente para ricos e pobres.

“São Paulo é uma grande caixa de ressonância de tudo que ocorre no País. Aqui foram gestadas muitas das boas iniciativas que se espalharam por outras cidades, como os mutirões para construção de casas e as políticas de inclusão social”, afirmou. Segundo o parlamentar, a capital paulista “tem peso econômico, social e cultural, tem trajetória, é polo de resistência democrática e lugar de inspiração para os brasileiros”.

Ele chamou a atenção para o clima em que ocorrerá a campanha deste ano. “Vamos enfrentar a eleição num momento muito peculiar da vida brasileira, com o país dividido. A polarização que ocorreu em período recente ainda está presente e aparecerá nesta próxima campanha. O presidente da República se comporta como líder de facção, e isso infelizmente pauta a disputa política no Brasil”.

A polarização básica, diz Orlando, será entre “o campo bolsonarista e o campo democrático, porque Bolsonaro não tem apreço pela democracia”. A seu ver, a eleição de 2020 “será uma disputa de projetos para o Brasil e para São Paulo. E o povo vai se dando conta do risco de manter a atual lógica política”.

O bolsonarismo, diz ele, ataca a soberania nacional, fere o regime democrático e destrói os direitos do povo. Orlando lembrou que em 2017, nos debates sobre a reforma trabalhista, muita gente falava que era preciso flexibilizar os direitos porque a lei era muito antiga. “Dois anos depois, o que cresceu no Brasil foram o desemprego, a informalidade, o trabalho precário. E quem perdeu emprego não consegue novamente uma vaga com carteira assinada.”

Sobre a postura do PCdoB na eleição municipal, o pré-candidato explica que “é de oposição ao projeto representado pelo governador João Dória e pelo prefeito Bruno Covas”, ambos do PSDB. “Só faz sentido ter uma candidatura a prefeito se for para apresentar um novo caminho para São Paulo – um programa radical de transformação da cidade, focando investimentos em regiões mais carentes, aquelas que mais precisam de recursos públicos”.

De acordo com Orlando, se fosse necessário escolher apenas uma iniciativa para pôr em prática como prefeito, ele reuniria “toda a energia, a inteligência, o orçamento, a força de trabalho e as ações da prefeitura para combater a pobreza e diminuir as desigualdades sociais em São Paulo”.

Programa

O ex-ministro Ricardo Leyser – que coordena a formulação do plano de governo do PCdoB para a cidade de São Paulo – apresentou aos pré-candidatos a vereadores as linhas gerais do programa. Segundo ele, o objetivo é construir o plano coletivamente, conectando as propostas da candidatura majoritária e das proporcionais. “Pretendemos posicionar o Orlando e os candidatos à Câmara Municipal como referências do campo progressista, consolidando uma imagem de liderança política nesse segmento, com capacidade de gestão, de articulação e de defesa dos interesses populares e nacionais.”

Ao destacar pontos como qualidade de vida, interação e cooperação entre as pessoas – “em contraposição à barbárie bolsonarista” –, o plano defende uma São Paulo “mais humana, moderna, sustentável, democrática, solidária e igualitária”. Além da indução ao desenvolvimento a partir da força do povo e dos bairros, o PCdoB propõe uma maior participação da prefeitura “no desenvolvimento sustentável, na geração de empregos, na diminuição da desigualdade, na valorização da democracia e da diversidade”.

O Encontro Eleitoral do PCdoB São Paulo contou com a presença de Nádia Campeão, secretária nacional de Relações Institucionais e Políticas Públicas do PCdoB, e Rovilson Britto presidente estadual do PCdoB-SP. Nádia enalteceu a ideia de preparar politicamente – e com antecedência – os comunistas que vão disputar vagas para a Câmara de Vereadores, num trabalho coletivo, que envolve também as equipes de campanha, as direções partidárias e o conjunto da militância na cidade.

Para a dirigente, num cenário de queda brusca do preço do petróleo, de expansão do coronavírus no País de um “PIB ridículo” – que cresceu apenas 1,1% do no primeiro ano do governo Bolsonaro –, a organização prévia das campanhas será um diferencial. Os candidatos, diz Nádia, devem reforçar junto aos eleitores o peso da crise político-econômica, que tende a se agravar. Mas o discurso também deve tratar dos temas locais.

“É necessário tratar dos problemas de São Paulo, já que a eleição é municipal. Precisamos intervir nos assuntos locais, mostrar que as coisas podem melhorar”, disse Nádia, que foi vice-prefeita na gestão Fernando Haddad (2013-2016). “Temos projeto para a cidade – e cada candidato a vereador deve adaptá-lo à sua realidade, à sua área de atuação, ao seu perfil. Que cada um mostre sua identidade, aquilo que lhe é próprio. Nossas candidaturas não podem ser genéricas. Elas precisam demonstrar conhecimento sobre os temas que irão abordar, ou sobre a região em que estão inseridas”.

Já Rovilson Britto criticou o comportamento de Bolsonaro de afrontar os demais Poderes e desprezar o Estado Democrático de Direito. “Prepara-se no Brasil uma ruptura com a democracia”, alertou. “Estamos vivendo uma tragédia de grandes proporções no País. Um quarto da população já não consegue comprar gás de cozinha, milhões estão sem emprego, outros milhões seguem subempregados.”

Mas é uma “tragédia que se projeta no tempo”, para além da devastação que está acontecendo agora, realçou Rovilson. “É a destruição das condições para que o Brasil exista como nação. Bolsonaro está entregando as riquezas, desconstruindo a indústria, as condições de desenvolvimento e de soberania do País, destruindo os direitos dos trabalhadores conquistados ao longo da história”.

Segundo o presidente do PCdoB-SP, Bolsonaro “comanda uma revanche do capital contra os trabalhadores, derrubando as premissas básicas para as pessoas trabalharem com dignidade e terem perspectiva na sua vida”. Ele acrescentou que o presidente da República põe a democracia como sua maior inimiga, “para que não haja luta”. Mas “o povo já vem reagindo” – e a disputa eleitoral de outubro “é um capítulo decisivo dessa resistência”, concluiu Rovilson.

Pré-campanha

Ao reforçar que a prioridade dos comunistas nas eleições em São Paulo é garantir a retomada de uma bancada na Câmara Municipal, Wander Geraldo, presidente municipal do PCdoB São Paulo, saudou, em particular, alguns militantes que já exerceram o cargo de vereador: Anna Martins, Lídia Corrêa, Alcides Amazonas, Benedito Cintra, Jamil Murad, Vital Nolasco e o próprio Orlando.

Na atividade de sábado, por iniciativa da Secretaria Municipal de Comunicação, os pré-candidatos a vereador tiraram fotos profissionais e aprovaram logotipos para usar na pré-campanha. Além disso, eles receberam um kit eleitoral, com materiais do PCdoB e cartilha de orientações para pré-campanha em curso.

O Encontro também teve palestras do advogado Cristiano Vilela, integrante da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, que apresentou as novas regras eleitorais para as fases de pré-campanha e de campanha propriamente dita. Já o jornalista Gustavo Alves, editor nacional das Redes do PCdoB, debateu estratégias para utilização das mídias sociais na disputa municipal.

De São Paulo,
Sueli Scutti e André Cintra