A semelhança vai além do nome. Em 12 de fevereiro, o Comitê Central do PCdoB aprovou as “Diretrizes para uma Plataforma Emergencial de Reconstrução Nacional”. Já na última terça-feira (21), o movimento Vamos Juntos pelo Brasil – que apoia a pré-candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – apresentou as “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil”.

A convergência entre os dois documentos, lançados num intervalo de 130 dias, não é casual. “Nosso partido contribuiu ativamente com a construção desse documento”, afirma Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB. Se o texto-base da chapa Lula/Geraldo Alckmin foi redigido pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, a versão divulgada nesta semana incorpora propostas dos demais partidos que vão compor a coligação (PCdoB, PSB, PSOL, PV, Rede e Solidariedade).

Segundo Luciana, “vários pontos” do documento do PCdoB foram “contemplados”, a começar pelo diagnóstico de que é preciso reconstruir o País após anos do governo de destruição de Jair Bolsonaro (PL). Os comunistas também defenderam a busca de uma nova maioria política no Brasil, a ser formada progressivamente, e um pacto nacional pelo desenvolvimento.

“Neste ano, travaremos uma luta para derrotar Bolsonaro e, principalmente, abrir caminho à construção de uma nova maioria política no Brasil capaz de promover convergências em torno de um projeto de reconstrução nacional”, afirma Luciana. Ela diz que esse projeto deve “dar atenção à indústria, à geração de emprego e renda”, além de “barrar o desmonte do Estado e recuperar seu papel na economia”. Esses pilares estão presentes tanto nas duas “Diretrizes” – a do PCdoB e a do movimento Vamos Juntos pelo Brasil.

Um terceiro documento que ecoa essas preocupações é o programa da Federação Brasil da Esperança (FE Brasil), composta por PCdoB, PT e PV. “São três peças que se inter-relacionam. Há um grande alinhamento no essencial”, diz Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB e membro da Comissão Executiva da Federação.

Walter lembra que a rejeição ao governo Bolsonaro “extrapola o ‘campo Lula’”, sendo compartilhada por outros pré-candidaturas presidenciais e por boa parte dos brasileiros. “A maioria da população vê o Brasil hoje como uma nação à deriva, sem rumo. Bolsonaro deixou o País em regressão civilizatória, com o Estado alquebrado”, afirma. “A gravidade da situação contingencia as medidas que se podem tomar.”

Apesar das “perspectivas diferenciadas” dos partidos que apoiam Lula, o dirigente do PCdoB disse que há forte unidade entre eles nas “Diretrizes” apresentadas ao público. “O nome já deixa claro: são diretrizes, vetores. Diretrizes precisam ser genéricas o suficiente para dar margem a pactuações. O horizonte tático do governo tem de ser sedimentado, e esse processo está em elaboração.”

Na visão do PCdoB, os quatro anos de governo devem servir para a construção de políticas de Estado sólidas, que alavanquem o crescimento econômico sustentado, o desenvolvimento nacional e o combate às desigualdades. Mas é igualmente importante estabelecer medidas mais emergenciais, que possam ser aplicadas já no primeiro ano do mandato, para combater mazelas como o desemprego elevado, a carestia, a miséria e a fome. “Precisamos melhorar a vida da população em curtíssimo prazo”, resume Walter.

Para ter governabilidade e poder implantar essas mudanças mais urgentes, Lula precisará contar com uma ampla base de sustentação no Congresso Nacional. “Ter maioria política é difícil num ambiente em que Centrão e forças conservadoras estão entraizados e quem manietar o presidente. Por isso, precisamos viabilizar uma grande ‘bancada do Lula’, com um núcleo de esquerda”, diz Walter. “Essa maioria política precisa, necessariamente, da mobilização das organizações sociais, com protagonismo e autonomia, não como meras correias de transmissão do governo.”

(Esta é a primeira matéria da série do Portal do PCdoB sobre o programa de governo da chapa Lula/Alckmin)