O Comitê Estadual do PCdoB na Bahia realizou, nesta terça-feira (25), Dia Mundial da África, o Encontro Estadual de Combate ao Racismo. Na ocasião, cerca de 100 pessoas, entre militantes da luta antirracista, aliados e dirigentes partidários, discutiram on-line as relações entre o capitalismo e o racismo no contexto da pandemia, e ainda construíram um plano de atuação nesta frente para o biênio 2021/2022.

O presidente estadual do PCdoB, Davidson Magalhães, explicou que há, no Partido, o entendimento da importância da luta contra o racismo no Brasil, pela compreensão de que a classe explorada no país tem cor definida. Para ele, o cenário de recrudescimento do racismo tem se tornado ainda mais evidente no governo Bolsonaro, pois “os indígenas e os negros nas periferias morrem, não só pela pandemia, mas também pela desigualdade social e pela violência”.

Davidson também exaltou a intenção da Secretaria Estadual de Combate ao Racismo de criar núcleos para expandir a luta pelo estado. “Que esse encontro resulte na criação dos núcleos com uma visão de classe, numa visão política ampla. O problema do racismo atinge o caráter da nossa democracia. O PCdoB, nos seus quase 100 anos, sempre colocou no eixo do seu programa a luta pela igualdade, contra a discriminação”, disse.

O debate principal da atividade, sobre o contexto, os desafios diante da pandemia e as mudanças atuais do capitalismo no mundo, a partir do recorte racial, contou com as participações de Olívia Santana, secretária nacional de Combate ao Racismo do PCdoB, e do professor Richard Santos. A intermediação foi do secretário Alexsandro Reis, do professor Caio Pinheiro e de Marina Duarte, vice-presidenta da Unegro na Bahia.

Durante a intervenção, Olívia, que também é deputada estadual do PCdoB, explicou que o racismo estrutura o capitalismo no Brasil e no mundo. “Quando a gente vê tantos imigrantes da África chegando na França, por exemplo, é o passado se repetindo. É a dívida que ainda existe. Falar de dívida histórica não é vitimismo. Não podemos zerar a História. Não podemos fazer de conta que partimos de um ponto de igualdade, do 13 de maio de 1888”, afirmou.

Ela também defendeu a necessidade de unir a luta antirracista a outras mobilizações da sociedade. “A luta antirracista é fundamental, imprescindível, mas ela tem que se alinhar com a luta de classes. Não basta apenas incluir um punhado de negros nessa estrutura, nós precisamos desmantelá-la, para criar uma situação mais horizontalizada”, completou.

Richard Santos provocou reflexões sobre as lutas contra “o neocolonialismo, o neoliberalismo e contra o que os brancos nos colocaram como subumanos”. “Ainda temos o acúmulo primitivo do capital, em que todas as forças hegemônicas vão querer, a todo custo, aferir lucro, inclusive na exploração daqueles considerados inumanos. A gente está em uma encruzilhada e se não construirmos uma unidade, mesmo que na diferença, a gente sucumbe”, pontuou.

Planejamento

O secretário Alexsandro Reis foi o responsável pela apresentação do plano de atuação do PCdoB nas questões raciais para os próximos dois anos, o que reafirma o compromisso do Partido com a causa. “O nosso planejamento leva em conta o contexto de pandemia, violência, miséria e racismo. Combinamos essas nossas ações com as ações institucionais, nas ruas, nas redes”, explicou.

Entre os diversos pontos definidos pelo plano da Secretaria de Combate ao Racismo do PCdoB na Bahia, estão a organização, o funcionamento e a divulgação do trabalho; a criação dos fóruns das secretarias municipais de Combate ao Racismo; e a construção do projeto eleitoral, de modo a apoiar candidatos comprometidos com a pauta da luta antirracista nas eleições de 2022 e a preparar as candidaturas negras e indígenas para eleições municipais de 2024.

Participações

Os deputados federais do PCdoB na Bahia, Alice Portugal e Daniel Almeida, também estiveram no encontro e destacaram a importância das ações de enfrentamento ao racismo. “Querem normalizar o racismo, mas temos que ter a capacidade de nos indignar com as prisões cheias de pessoas negras, com o desaparecimento de jovens negros, com a falta de trabalho, de alimento. Mais do que a indignação, temos que nos articular para resistir”, afirmou Daniel.

Alice ainda trouxe para o debate do movimento antirracista o recorte de gênero, pois, segundo ela, é a mulher negra a mais atingida pelos efeitos da desigualdade e, por isso mesmo, precisa ter maior proteção. “As mulheres negras têm duas vezes mais chances de serem mortas. No mercado de trabalho, as condições são mais difíceis para elas”, disse.

A secretária estadual de Política para as Mulheres do Governo do Estado, Julieta Palmeira, também participou da atividade e reforçou a relevância da programação. “Esses encontros são fundamentais. Essa militância do PCdoB deve ser antirracista em qualquer situação. Existe uma força nesse protagonismo da identidade, da luta antirracista”, destacou.

A atividade também contou com intervenções da presidenta nacional da Unegro, Ângela Guimarães; da ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado, Sirlene Assis; de Cacique Aruã, presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá; do secretário nacional de Cultura do PCdoB, Javier Alfaya; e do superintendente de Economia Solidária do Governo do Estado, Milton Barbosa.

__

(BL)