Na ocasião do seu 96º aniversário de fundação, celebrado neste domingo, 25 de março, o portal institucional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) lançou um desafio para seus militantes. Contar em algumas linhas da sua trajetória de vida entrelaçada ao seu primeiro contato com o PCdoB. “Como me tornei comunista…filiado! 

Neste intento, recebemos uma carta de um militante e nos emocionamos com sua história de vida e de superação. Publicamos abaixo a carta do filiado Antônio Gomes Neto* que pode ter tido uma vida semelhante com muitos outros brasileiros, mas conhecendo essa história, temos a certeza de que vale a pena lutar.

“Meu nome é Antônio Gomes Neto, filho de João Gomes Figueira e de Bertolina Inez de Mendonça. Sou o sexto filho do casal. Nasci em Uberlândia-Minas Gerais, em 19 de dezembro de 1939.

Meus pais eram muito pobres, apesar de muito trabalhadores, mesmo antes do meu nascimento morreram dois irmãos mais velhos; eram um casal. Morreram, segundo meus pais, na extrema pobreza já que não tinham nem o que comer e muito menos recursos para comprar remédios.

Quando completei quatro anos de idade nos mudamos para o interior de Goiás, próximo de Anápolis. Lá nasceram mais um casal e, meu pai contraiu uma doença com o passar dos anos trabalhando com fazendeiros. Com isso, a pobreza que já era terrível, ficou pior.

Éramos seis filhos, todos menores de idade e os pais analfabetos e com isso ficamos sem renda alguma e a fome nos pegou de jeito, os fazendeiros já não queriam mais nos dar serviços por causa da doença do meu pai. E então eu fui crescendo e prestando atenção em um detalhe: os fazendeiros tinham de tudo, e já nossa família que lá trabalhava não tinha nada, porque quando fazia a colheita, dividia com o patrão e o que sobrava não dava para pagarmos as contas com o próprio patrão?

Então eu já meio crescido comecei a questionar: por que eles têm tanto e nós que mais trabalhamos não temos nada? E foi aí que mudamos para Ceres onde estava sendo criada uma colônia agrícola no último governo de Getúlio Vargas, lá meu pai adquiriu um lote de terras, porém, nesse período ele já não conseguia trabalhar e tanto sofrimento pela pobreza ele faleceu.

Minha mãe se mudou com todos os filhos para Formoso e lá conheci uma guerrilha e conheci um senhor por nome de José Ribeiro que nesse tempo conversou muito comigo e em meio a conversa, ele falou sobre distribuição de renda no sistema capitalista e logo tomei conhecimento de que ele era um dos comandantes da guerrilha do José Profiro em Trombas**. (Não entrarei em detalhes, pois daria um livro e por não ter condições de escrever um livro me limito por aqui).

Em 1957, me casei e contraí maleita [malária] e como não tinha como me tratar em Formoso, e como estava se iniciando a construção de Brasília fui para lá com a minha esposa mesmo sem dinheiro. Já em Brasília, com 19 anos comecei a estudar e trabalhar como ajudante de pedreiro e a extrema pobreza acabou quando me estruturei com um mercadinho no Núcleo Bandeirante. Conheci um companheiro José Rodrigues Duque que me contou ser do PCdoB e em meio uma conversa falamos sobre a distribuição de renda no capitalismo e foi aí que ele me apresentou o camarada Paulo Sérgio Cassis que com ele tirei minhas dúvidas e ele contou do racha PCB × PCdoB e eu abracei o partido e não soltei mais.

Com o tempo participei da 1ª Conferência do PCdoB no Distrito Federal, e fui até a 7ª série sem falhar. Fiz curso de nível médio na escola nacional. Participei como delegado no 7º Congresso Nacional do PCdoB. Durante alguns mandatos militei como secretário de Organização do meu partido no DF, assim como participei de várias campanhas como: Movimento contra a Carestia e Abaixo a Ditadura, Fora Figueiredo! Anistia ampla geral e irrestrita, Diretas Já; entre tantas. O maior título que eu considero é: ser um militante do PCdoB.

Através do conhecimento do Marxismo, me esclareci sobre os reais motivos das desigualdades sociais”.

*Antonio Gomes Neto é atualmente membro do pleno do Comitê do DF. Secretário de Organização do Comitê de Brazlândia.

**A Revolta de Trombas e Formoso ocorreu na região norte do estado de Goiás, de 1950 a 1957. A luta tinha de um lado camponeses sem terra e, do outro, grileiros. Os combates desenvolveram-se tanto no terreno da luta política institucional, quanto da luta armada propriamente dita.