Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, alertou Pazuello “várias vezes” sobre exclusividade do Butantan na comercialização da CoronaVac

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou na sexta-feira (16) que o Ministério da Saúde sabia, desde 2020, que o órgão paulista era o único autorizado, pelo laboratório Sinovac, a comercializar a CoronaVac no Brasil e na América Latina.

Segundo Dimas Covas, estava claro para o Ministério, antes de março de 2020, que “a vacina CoronaVac é produzida no Butantan com o IFA da China” e que “não haveria outra forma de obter vacina que não fosse por intermédio do Butantan”. E completa: “Fato público e notório”.

Covas acredita que o governo pretendia afastar o instituto vinculado ao governo de São Paulo. Na sexta-feira, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou negociar 30 milhões de doses da CoronaVac por intermediários pelo triplo do valor.

“Mostra que havia de fato, tudo aquilo que foi dito, que havia objetivo mesmo de deixar o Butantan de fora. Tem mesmo um subterrâneo aí muito cruel”, disse Dimas Covas. Ele afirmou que não sabia das tratativas conduzidas por Pazuello com intermediários pela CoronaVac.

“[O governo federal] Não só sabia [da exclusividade do Butantan], como fez parte das várias conversas com o ministério. Butantan sempre se apresentou como representante da Sinovac. Isso era de conhecimento tácito”, afirmou o diretor do Butantan.

“Alertei por várias vezes, não sei se foram 8 exatamente. E alertei para vários interlocutores do Ministério. Inclusive para o Ministro (Pazuello)”, disse Dimas Covas.

Em 11 de março, quando ainda era ministro, Pazuello se reuniu com intermediários que ofereceram doses da vacina CoronaVac pelo triplo do preço.

No contrato do governo federal com o Instituto Butantan, para fornecimento da mesma vacina contra a Covid, as doses saíram a US$ 10 cada. Mas, por meio dos intermediários recebidos pelo ex-ministro, o preço seria US$ 28 por dose.

Um vídeo, em posse da CPI da Covid, registrou os momentos finais da reunião.

De acordo com apurações da CPI da Covid, os intermediários são de uma empresa de Santa Catarina, a World Brands. A companhia ainda não se manifestou sobre o caso.

No vídeo, Pazuello diz que um intermediário identificado como John levou ao governo a oferta de compra de 30 milhões de doses da CoronaVac, fabricada na China pelo laboratório Sinovac e, no Brasil, por meio de parceria com a farmacêutica chinesa, pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

Pazuello também diz que o encontro terminava com um memorando de entendimento já assinado e o “compromisso” do ministério de fazer o negócio. Metade do valor da compra seria paga na assinatura do contrato. Os intermediários ficariam com comissão entre US$ 0,70 e US$ 0,85.

“Nós estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde, recebendo comitiva liderada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês. E já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses e mais laboratórios. Vamos tratar na semana que vem. Mas saímos daqui hoje já com memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato”, afirmou o ministro no vídeo após a reunião.

O encontro com intermediadores de vacina contradiz uma fala do próprio Pazuello na CPI. À comissão, o ex-ministro disse que não negociava diretamente a compra de vacinas.

Ao ser questionado na CPI sobre a compra de vacinas da Pfizer, ele disse: “Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor. Eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro”.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a CPI vai convocar todos os empresários que aparecem no vídeo. “Estamos diante de um vídeo grave. Um governo que não queria comprar a Coronavac negociando com intermediários a compra da mesma vacina”, afirmou.

“E o ministro Pazuello disse na CPI que não negociava diretamente vacinas, que não cabia a ele, para tentar justificar a ausência de reuniões com a Pfizer, é um escândalo”, concluiu Randolfe.