Protesto é contra a reforma da previdência pretendida pelo governo francês

Paris viveu a maior greve nos transportes públicos dos últimos 12 anos, nesta sexta-feira, para rechaçar ataque à previdência (lá como aqui chamam o ataque aos direitos previdenciários de ‘reforma’) perpetrado pelo governo francês.

Centenas de milhares de pessoas ficaram com o deslocamento impedido na capital francesa devido à paralisação convocada pelos sindicatos representativos da RATP (entidade do transporte metropolitano).

Dez das 16 linhas do metrô de Paris deixaram de atender enquanto que as demais ficaram saturadas; os ônibus circularam em número reduzido e os grandes engarrafamentos nos acessos à capital mostraram o sucesso do primeiro grande protesto sindical contra o projeto que reduz os direitos às aposentadorias.

Para evitar o caos, muitos franceses optaram por trabalhar em casa. “Não queria perder tempo tentando pegar o metrô, minha linha está fechada”, declarou à AFP Anne-Sophie Viger, trabalhadora de uma empresa de seguros. Outros procuraram as bicicletas e patinetes elétricos de livre serviço que se usam na capital.

Essa greve foi a primeira grande mobilização contra o plano do presidente Emmanuel Macron de implementar um sistema de previdência que chamam de “universal”. A ‘reforma’, porém, não é para universalizar melhores condições para todos, mas para tirar de algumas categorias direitos já garantidos.

Na França, trabalhadores que realizam tarefas consideradas duras ou perigosas, ficam dentro de regimes especiais de pensões que lhes permitem, por exemplo, uma aposentadoria antecipada. É o caso dos funcionários da RATP, mas também dos militares ou funcionários públicos que contribuem numa caixa autónoma.

O Tribunal de Contas francês calculou que a idade média de aposentadoria dos trabalhadores da RATP em 2017 era 55,7 anos, contra 63 anos da maioria dos trabalhadores. O regime vigente lhes permite se aposentar entre os 51 e os 62 anos, com uma pensão calculada unicamente sobre os seis últimos meses de sua carreira. Se lhes aplicassem o novo regime geral poderiam perder 30% da quantia de seus benefícios.

“Não é uma greve de privilegiados, esta é uma greve de trabalhadores que afirmam: ‘queremos nos aposentar com uma idade razoável e em condições razoáveis’”, declarou à rádio FranceInfo, Philippe Martinez, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho, CGT, uma das principais centrais sindicais da França.

“Amanhã a RATP, ontem a saúde”, o governo deve “tomar em conta a cólera que está aumentando desde há meses”, disse Martínez em referência a outras frentes sociais, como a greve nos serviços de urgências em cerca de 250 hospitais públicos franceses, que está prestes a chegar aos seis meses.

A greve desta sexta foi a maior no setor de transportes de Paris desde 2007, quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy apresentou uma reforma previdenciária que aumentou a idade de aposentadoria da maioria dos funcionários públicos.

Solidaires, outra das centrais, explica que defendem esse regime especial porque o consideram a “base de um contrato social construído para criar um certo equilíbrio frente às obrigações vinculadas a suas missões de serviço público”.

Frente a este projeto que se mostra explosivo, já que todas as tentativas anteriores provocaram grandes manifestações, o governo resolveu não se apressar. “Tomaremos todo o tempo necessário” para abordar a reforma das aposentadorias, antes da votação prevista para 2020, declarou, o primeiro ministro, Edouard Philippe.

SUSANA LISCHINSKY