Manifestantes penduraram absorventes na fachada da embaixada do Brasil em Paris

Em repúdio ao veto de Bolsonaro à lei que cria o Programa de Fornecimento de Absorventes Higiênicos para mulheres em situação precária, o prédio da embaixada do Brasil em Paris amanheceu com absorventes higiênicos amarrados às grades e à fachada no domingo (10), em uma denúncia realizada por grupos de brasileiros radicados na França, em que não faltava a conclamação bilíngue “Fora Bolsonaro/Dégage Bolsonaro” e “as mulheres vão te derrubar”.

Os absorventes higiênicos tinham frases de protesto escritas em vermelho, em alusão ao fluxo menstrual, como “genocida”, “600 mil mortos” e “mais saúde”. O protesto chamou a atenção e mereceu cobertura da Radio França Internacional, RFI, e de outros órgãos. A embaixada fica perto da Avenue Montaigne, uma das mais sofisticadas de Paris. Na sexta-feira (8), o presidente do Senado brasileiro, Rodrigo Pacheco, afirmou que “esse veto é ‘candidatíssimo’ a ser derrubado”.

Para os coletivos Alerta França Brasil/MD18 e Ubuntu Audiovisual, o veto de Bolsonaro foi uma “tentativa de atacar a dignidade da população feminina mais vulnerável”. As duas entidades assinalaram que “5 milhões de brasileiras estiveram ameaçadas de perder o acesso a um dos itens básicos da higiene feminina”.

Para as manifestantes brasileiras em Paris, o veto “deixou de novo patente a falta de empatia e sensibilidade de um governante cruel e mesquinho, que despreza as mulheres”. O protesto também denunciou “a misoginia de quem ocupa a cadeira da presidência”.

“Foi uma ideia que tivemos anteontem, em torno do veto da distribuição gratuita dos absorventes higiênicos para a população feminina vulnerável”, explicou a jornalista e escritora Marcia Camargos, representante do grupo militante Alerta França/Brasil, à RFI. “Talvez agora a comunidade internacional se dê conta de que ele foi capaz de chegar a esse ponto”, declarou.

A ação, disse Marcia, foi inspirada na instalação do artista brasileiro radicado na França Julio Vilani, de maio de 2020, também na fachada da Embaixada do Brasil em Paris, em protesto contra Bolsonaro.

“Chegamos sem avisar”, acrescentou, explicando que “amarramos com cordinhas, não usamos cola, tinta ou outros materiais que pudessem deteriorar o patrimônio. Sempre temos esse cuidado. Levamos os varais prontos”.

A estimativa é de que o programa beneficiaria cerca de 5,6 milhões de brasileiras, incluindo presidiárias, mulheres que vivem nas ruas, ou menores infratores. Os artigos extintos pelo presidente também beneficiavam alunas das escolas públicas do ensino fundamental e médio, propondo, além da distribuição dos absorventes, a oferta de cuidados básicos para a saúde menstrual.

O veto de Bolsonaro reabriu a discussão sobre o conceito de pobreza menstrual no país. Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em todo o mundo, uma em cada dez meninas deixa de ir à escola quando está menstruada, por falta de acesso aos produtos de higiene.

Conforme o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil, desigualdades e Violações de Direitos”, mais de 700 mil meninas brasileiras não tem banheiro ou chuveiro dentro de casa e cerca de 4 milhões não têm acesso, por exemplo, a absorventes ou banheiros com sabonetes nas escolas, o que acaba gerando uma alta taxa de absenteísmo e prejudicando a educação das garotas.