David Bernstein, presidente do Conselho Judaico de Assuntos Públicos, denominou as palavras de Trump de “ultrajantes”: “Trump deveria pedir desculpas imediatamente e os dirigentes do Partido Republicano, admoestá-lo” - Baltimore Jewish Week

Em mais um ataque do tipo elefante em cristaleira, Trump – que foi, há poucos dias, denunciado por tentar fazer da comunidade judaica seu joguete eleitoral no incidente em que provocou a proibição das deputadas democratas, Ilhan Omar e Rashida Tlaib, de visitarem Israel e a Cisjordânia, acabando por expor a face antidemocrática do governo Netanyahu –, agora foi rechaçado de forma mais ampla ainda ao xingar judeus para prosseguir com seu ataque ao Partido Democrata, pintando-o como “anti-israelense”, quando se sabe que, mesmo mantendo a ocupação de territórios palestinos, em contrariedade às resoluções da ONU, tanto os governos democratas, como os republicanos, mantiveram generosas doações a Israel, em especial em termos de aparelhamento bélico.

Agora, Trump vem a público dizer que “judeus que votam pelos democratas são ignorantes ou de grande deslealdade”. Um ataque aberto à maioria da comunidade judaica norte-americana, quando nas últimas eleições 71% dos judeus votaram democratas, enquanto só 24% foram pelos republicanos (5% não votaram em nenhum dos dois).

“Basta”, “inapropriado”, “desrespeitoso” e “ultrajante”, foram as condenações que vieram de todo o espectro de líderes judaicos nos EUA. A descrição desta crescente repulsa a Trump está na matéria de Amir Tibon, correspondente do jornal israelense, Haaretz, em Washington. Publicamos os principais trechos de seu artigo, do dia 21, intitulado “Grupos judaicos repreendem Trump por afirmar que judeus dos EUA que votam pelos democratas são desleais”. .

AMIR TIBON*

As mais destacadas organizações judaicas norte-americanas denunciaram o presidente Trump, na terça-feira, por sua declaração de que judeus que votam nos democratas mostram “ignorância” ou “grande deslealdade”.

“BASTA”

“Basta senhor presidente. Os judeus norte-americanos – assim como todos os Americanos – têm um leque de visões políticas. Sua percepção de conhecimento ou lealdade, baseada em preferência partidária é divisionista, desrespeitosa e não é bem-vinda. Por favor pare”, diz a nota do Comitê Judaico Americano.

Jonathan Greenblatt, diretor executivo da Anti-Defamation League (Liga de Anti-Difamação, fundada em 1913, na luta de judeus contra o antissemitismo e dedicada a localizar e denunciar manifestações anti-judaicas), também criticou Trump: “Acusações de deslealdade são, há muito tempo, usadas para atacar judeus. Como já dissemos antes, é possível o engajamento no processo democrático sem estas assertivas. Já passou da hora de que pare de usar judeus como instrumento de um jogo político”.

O Israel Policy Forum (Fórum Político por Israel) também mostrou repulsa: “As palavras do presidente são aterrorizadoras, mas não surpreendem devido a seu histórico de observações inapropriadas, assim como de seu esforço de alavancar Israel como questão definidora na política dos Estados Unidos”.

“IRRESPONSÁVEL E PERIGOSO”

O rabino Jonah Pesner, diretor do Centro de Atuação do Movimento Religioso pela Reforma escreveu:  “Sugerir que judeus são desleais por exercerem seu direito ao voto é irresponsável e perigoso. A liberdade, tanto política quanto religiosa, são marcos desta nação e protegem as pessoas de todos os credos ou ateus. Pare de usar a comunidade Judaica para marcar pontos politicos”.

Halie Soifer, diretora executiva do Conselho Democrático Judaico, acusou Trump de “repetir um dito antissemita”.

ULTRAJE

Já David Bernstein, presidente do Jewish Council for Public Affairs (Conselho Judaico de Assuntos Públicos), denominou as palavras de Trump de “ultrajantes”: “Trump deveria pedir desculpas imediatamente e os diretores do Partido Republicano, deveriam admoestá-lo”.

*Correspondente em Washington do jornal israelense Haaretz

**Esta matéria já estava concluída quando nos chegou uma mensagem do professor Michel Gherman com a importante declaração de Logan Bayoff, diretor de Comunicação de um dos agrupamentos mais importantes entre os judeus progressistas norte-americanos, o J Street, que “congrega os judeus norte-americanos pró-Israel e pela paz”. Segue a íntegra da declaração do diretor do J Street, traduzida a partir de sua postagem no portal da entidade.  N.B.

OS JUDEUS NORTE-AMERICANOS SÃO LEAIS AOS NOSSOS VALORES JUDAICOS E DEMOCRÁTICOS, NÃO A TRUMP E SEUS ALIADOS

20 de agosto de 2019

Em resposta aos comentários do presidente Trump de que “Qualquer pessoa judia que vote democrata, penso que mostra ou ignorância ou grande deslealdade”, o diretor de Comunicações do J Street emitiu a seguinte declaração:

“É perigoso e vergonhoso para o presidente Trump atacar a grande maioria da comunidade dos judeus norte-americanos como sem inteligência ou por ‘deslealdade’. Mas não é surpresa de que os ataques racistas e desonestos contra mulheres progressistas de origem latina ou africana no Congresso agora tenha transitado para difamações contra os judeus.

70% dos judeus norte-americanos votaram em Hillary Clinton em 2016, e mais de 75% apoiaram candidatos democratas para o Congresso em 2018. Esta vasta maioria de nossa comunidade rejeitou e continua repudiando a xenofobia, a intolerância e o extremismo de Donald Trump e seus aliados. São leais aos valores judaicos e democráticos da tolerância, igualdade, justiça social e busca da paz – não à agenda de ultradireita deste presidente, que continua colocando as vidas dos judeus norte-americanos em risco e a de outras minorias vulneráveis em perigo.