O jurista Miguel Reale Júnior afirmou que agressão de Jair Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo, pode gerar um processo de impeachment por “se enquadrar como crime de responsabilidade”.
“Bolsonaro desrespeitou a jornalista, a mulher e o ser humano. É algo que ofende mais profundamente a dignidade humana, e não só o decoro. Sem dúvida, isso se enquadra como crime de responsabilidade”, disse.
“Se a ofensa ao decoro leva ao impeachment, o que dizer da ofensa à dignidade humana?”, completou.
“É a transformação da mulher em objeto sexual vendável para a desqualificar. Quando desrespeita-se a dignidade de uma mulher dessa forma, ele está desrespeitando a dignidade de todas as mulheres”, argumentou o jurista.
“Já redigi o [pedido de impeachment] do Collor e o da Dilma. Agora quero assistir ao do Bolsonaro”, declarou Reale Júnior, que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso.
Na terça-feira (18), Jair Bolsonaro repetiu as mentiras ditas pelo ex-funcionário de uma agência de marketing digital, Hans River do Nascimento, diante da CPMI das Fake News e foi mais longe com a baixaria, insinuando que a jornalista é “prostituta”.
“O depoimento do Hans River foi no final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista [Patrícia Campos Mello] em cima dele. Ela queria um furo. Ela queria dar um furo [pausa, pessoas riem] a qualquer preço contra mim. Lá em 2018, ele já dizia que eles chegavam perguntando ‘o Bolsonaro pagou para você divulgar informações por Whatsapp?’”, disse Bolsonaro.
Miguel Reale Júnior entende que essa não foi a primeira ofensa de Bolsonaro contra alguém, “mas, agora, ele rompeu com todos os limites. De forma afrontosa, rompeu com o que se exige de qualquer pessoa, e não só de um Presidente da República. Foi asquerosa a menção chula que ele fez ao dizer que a jornalista quis dar o furo”.
Existe “uma continuidade entre elogiar o torturador coronel Ustra e ofender a jornalista. O homem é o mesmo, e dele só poderia vir isso”.
“Como as mulheres brasileiras podem respeitar um presidente que, porque desgosta de uma reportagem, se sente no direito de desqualificar a repórter [Patrícia Campos Mello] com um insulto asqueroso?”, questionou.