Levantamento feito pelo Instituto de Estudos Para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com dados da PNAD Contínua do IBGE, aponta que o setor privado perdeu entre o 1º e 2º trimestres de 2020 9,6 milhões de postos de trabalho.

Segundo o Iedi, no terceiro trimestre, embora tenha havido “importante amenização”, após o choque da Covid-19 que derrubou a economia em -9,7% no segundo trimestre, “a recuperação do mercado de trabalho tem se mostrado difícil e lenta”. No terceiro trimestre, “a tendência se manteve e 352 mil vagas a mais foram extintas em relação ao trimestre anterior”.

“Frente ao quadro de um ano atrás a situação permanece dramática”, afirma o Iedi. “O número de ocupados no setor privado total regrediu -13,1% no 2º trim/20 e -14,0% no 3º trim/20. Foram perdidos cerca de 11,5 milhões de empregos do 3º trim/19 para o 3º trim/20”.

O Instituto destaca em seu site, nesta segunda-feira (4), que apesar de ter contribuído menos do que o comércio e serviços pelo declínio no emprego, a indústria não foi poupada.

“Na comparação interanual, o resultado de -11,9% para o emprego na indústria de transformação mostrou-se em linha com o do 2º trim/20 (-11,1%) e, mais uma vez, inferior ao declínio do total do setor privado. A deterioração adicional ficou principalmente por conta de serviços, que registrou -13,9% no 2º trim/20 e -16,7% no 3º trim/20”.

No terceiro trimestre, dos 24 ramos da indústria de transformação analisados, a ocupação diminuiu em 22 deles em jul-set/20, embora tenha sido observado aumento de vagas em alguns segmentos, como em equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+25,6%) e em de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+15,1%), na comparação interanual.

No primeiro caso, analisa o Iedi, “pode ter contribuído para esta evolução positiva o perfil do surto de coronavírus no estado do Amazonas, que foi muito mais intenso no início, mas que começou a retroceder antes de outras regiões do país, possibilitando a retomada antecipada das atividades industriais da Zona Franca de Manaus. No segundo caso, como se sabe, a natureza sanitária da crise poupou o setor de perdas profundas”.

EMPREGO FORMAL

O emprego formal também passou for “fortes adversidades”, assinala o Iedi, ainda que menos intenso do que em outras formas de trabalho. O emprego com carteira assinada recuou -11,2% no total do setor privado e -9,4% na indústria de transformação. A ocupação privada total sem carteira assinada, por sua vez, despencou -23,9% ante o 3º trim/19.

O Iedi destaca que em todos os setores pesquisados houve piora adicional do trabalho com carteira na passagem do 2º para o 3º trimestre do ano. “Na indústria, 54% de seus ramos intensificaram a queda de vagas com carteira no período. Isso sugere que o pior da crise do emprego formal ainda pode vir a ocorrer, sobretudo, se os programas emergenciais foram extintos na virada de ano e o PIB entrar em uma fase de baixo crescimento”.

O levantamento feito pelo Iedi aponta ainda a queda na massa de rendimento real dos trabalhadores do setor privado, que recuou -7,6% frente ao 3º trim/19, em ritmo semelhante ao do segundo trimestre (-7,1%).

“A reação deste indicador é importante para a recomposição do consumo das famílias. Houve encolhimento adicional da massa de rendimento para os setores da construção, comércio e serviços. Na indústria de transformação, o quadro se aproximou da estabilidade, chegando a -0,8%, depois de ter registrado -3,6% no 2º trim/20, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior”.

“Além do emprego recuar menos que no restante do setor privado, o rendimento médio da indústria de transformação também teve desempenho superior. Vale notar que os resultados observados desde o início da pandemia indicam que os postos de trabalho de menores salários foram os mais afetados com a redução da ocupação, elevando o rendimento médio dentre aqueles que conseguiram preservar seus empregos”, observou o Iedi.

Para o instituto, “tradicionalmente, o mercado de trabalho responde com defasagem à recuperação de outros indicadores econômicos, enquanto os empregadores aguardam uma retomada consistente da economia para fazer novas contratações de trabalhadores. Nesse sentido, políticas de manutenção da renda e do emprego, que por ora conseguiram mitigar parte dos efeitos negativos da Covid-19, podem continuar sendo necessárias até que o crescimento da economia esteja robusto e consistente o suficiente para ensejar a retomada do emprego”.