Ortigueira (PR) - O presidente interino Michel Temer participa da inauguração da nova fábrica de celulose da empresa Klabin, em Ortigueira, no interior do no Paraná (Isac Nóbrega/PR)

“A contar pelo desempenho recente dos grandes setores da economia, o risco hoje é de que possa estar em processo um movimento semelhante ao que ocorreu no último ciclo recessivo. À frente dos demais, a indústria registrando taxas negativas, que se espalham para o conjunto da economia devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com as outras atividades produtivas. Em seguida, o comércio e depois os serviços entrando no vermelho”, analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, na Edição 933 de sua Carta IEDI, divulgada no dia 17 de junho, destacando que “as expectativas para o PIB de 2019 não param de cair”, ao analisar as recentes previsões divulgadas pelo Banco Central, através do boletim Focus.
“No acumulado de jan-abr/19, a indústria já registra queda de -2,7% e tem 73% de seus ramos e parques regionais no vermelho. Com isso, 2019 como um todo deve ser pior do que 2018”, avalia o IEDI. “Enquanto nos serviços a desaceleração é recente (de +0,8% para +0,6%), no varejo é intensa e persistente, levando sua variação de +7,4% em jan-abr/18 para apenas +2,5% em jan-abr/19”.
Divulgamos a seguir trechos da CARTA IEDI – A ROTA DA RECESSÃO
“Após cair no 4º trimestre de 2018 e no 1º trimestre de 2019, a indústria permaneceu na região negativa em abril: -3,9% frente a abr/18. Muito contribuiu para este último resultado o forte declínio do ramo extrativo (-24%), devido aos efeitos diretos e indiretos do desastre de Brumadinho. Contudo, mesmo excluindo esta atividade, o quadro continua sendo de retrocesso. É o que mostra a queda de -1% na indústria de transformação.
“De fato, o perfil das perdas industriais em 2019 é bastante generalizado. No acumulado de jan-abr/19, atingem 19 dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE e 11 dos 15 parques regionais do setor. Isto é, 73% da indústria está no negativo seja do ponto de vista setorial seja do ponto de vista regional, gerando uma retração de -2,7% do agregado do setor no total nos quatro primeiros meses do ano.
“Diante desta trajetória, a expectativa de crescimento da produção industrial para 2019, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, já encolheu para apenas +0,65%. O que significa que, caso a projeção se torne realidade, caminhamos para um nível de dinamismo que é quase a metade daquele de 2018, mostrando que a recuperação industrial pode ser um processo de fôlego curto: +2,5% em 2017, +1% em 2018 e provavelmente +0,65% em 2019.
“Em um movimento menos intenso, mas também de nítida desaceleração está o comércio varejista. O resultado de +0,6% em jan-abr/19 frente ao mesmo período do ano anterior, embora ainda seja positivo, consiste em 1/3 da taxa de crescimento do último quadrimestre de 2018 e quase 1/6 da alta de +3,4% apresentada em jan-abr/18. Consideradas as vendas reais de veículos, autopeças e material de construção, o crescimento foi de +2,5% em jan-abr/19 contra +7,4% em jan-abr/18.
“Dos 10 segmentos do varejo ampliado identificados pelo IBGE, 60% perderam ímpeto neste início de 2019 e metade ficaram no vermelho neste período. As vendas de bens de consumo duráveis, como móveis, eletrodomésticos e veículos, foram aqueles que mais desaceleraram, refletindo a piora da confiança dos consumidores e uma acomodação no quadro do crédito.
“Além disso, as vendas de bens não duráveis, como as de supermercados, alimentos, bebidas e fumo não ficaram atrás. Este segmento reduziu seu resultado a ponto de voltar a registrar queda real em jan-abr/19. Desemprego elevado e crescimento muito moderado na renda das famílias ainda são obstáculos importantes à reativação dessas vendas.
“Nos serviços, sinais de desaceleração só existem no 1º quadrimestre de 2019. Até então, conseguiam evitar quedas e tinham voltado a crescer no último quadrimestre de 2018. Ou seja, os serviços são os últimos a esmorecer, tal como ocorreu na última crise. Seu resultado no acumulado dos quatro primeiros meses do presente ano (+0,6%) ainda é positivo, mas ¼ inferior àquele de set-dez/18 (+0,8%).
“Além de muito recente, por enquanto, a perda de ritmo está muito concentrada no segmento de serviços de transporte. Isso, contudo, funciona apenas como um alento parcial, porque a evolução do ramo de transporte reflete muito o nível de atividade da economia como um todo. Sua queda de -2,5% no 1º quadrimestre de 2019 consiste, então, em um sinal importante da fase adversa pela qual a economia brasileira está novamente passando.
“Sintetizando as evidências de esmorecimento em todos os setores, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy para o PIB, registrou pela quarta vez seguida uma variação negativa na série com ajuste sazonal no mês de abril de 2019: -0,47% frente a março. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a queda chegou a -0,62% em abril, mas já tinha sido expressiva em março, de -2,37%. Já as expectativas para o PIB de 2019, divulgadas pelo boletim Focus/BCB nesta segunda-feira, caíram pela primeira vez abaixo de 1%, ao registrar 0,93%.”
Na semana do dia 17/06, o boletim estimava um crescimento do PIB de 0,93%. Na segunda-feira (24), a previsão caiu pela 17ª vez seguida, para 0,87%.