Para grandes desafios, gestos de amplitude e unidade
Como se comportará a esquerda no ano de 2018, que se inicia com grandes desafios e previsíveis conflitos políticos já em seus primeiros dias?
José Reinaldo Carvalho *
O ano de 2017 se encerra como um dos períodos mais tenebrosos da vida do país. Como temos denunciado, instalou-se a partir do golpe que destituiu a presidenta legítima Dilma Rousseff um regime reacionário e vende-pátria liderado por Michel Temer e uma coalizão partidária formada por partidos como PMDB, PSDB, DEM e legendas do agrupamento dirieitista-fisiológico designado como Centrão, com maioria parlamentar comprada num balcão de negociatas onde pontificam o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e as lideranças do governo comandadas desde o presídio como se fossem vulgares e perigosas organizações criminosas.
O regime golpista está levando o país à ruína, pondo em prática uma agenda neoliberal, entreguista, antidemocrática e conservadora, responsável pelo desmonte das bases econômicas do Estado nacional, a liquidação dos direitos dos trabalhadores e a implantação de uma feroz legislação antissocial através das chamadas reformas trabalhista e previdenciária.
O cenário que se descortina é de aumento do desemprego, alastramento da pobreza, degradação das condições de vida da população, declínio dos padrões de educação e desenvolvimento científico e tecnológico. Uma nação vocacionada para exercer o papel de potência econômica e política vai sendo preparada para ser vendida na bacia das almas do capital financeiro internacional sob a condução de uma classe dominante concupiscente e entreguista, violenta e reacionária.
O eixo político da operação de desmonte das conquistas do povo e da inviabilização de um projeto nacional de desenvolvimento é a deriva antidemocrática urdida na praça dos três poderes, numa operação combinada entre o Executivo, a maioria ocasional e fisiológica nas casas legislativas e a maioria dos togados, vocalizada e amplificada diuturnamente pela mídia monopolizada.
Com o país mergulhado no caos institucional, a Carta Magna de 1988 vilipendiada e tornada letra morta, urde-se a liquidação da democracia, a instituição de um novo tipo de ditadura, o remodelamento do sistema político. O pré-requisito é, segundo os interesses das classes dominantes, impedir outra vitória eleitoral das forças democráticas e progressistas, impedindo-as de retornar ao governo central. O eixo desta estratégia é a inabilitação do presidente Lula como candidato e na sequência a criação de mecanismos de organização do poder político inadaptáveis ao Brasil, como o chamado parlamentarismo ou semi-presidencialismo, já rechaçados historicamente em mais de uma ocasião. Cinicamente, os aprendizes de feiticeiros chegam a sugerir que no futuro se conceda a anistia, caso Lula seja encarcerado nos próximos meses.
É neste quadro que no âmbito de uma política de frente ampla para a construção de um projeto nacional, democrático e popular de desenvolvimento, o ponto de convergência e de unidade de ação das forças democráticas, progressistas e de esquerda é a defesa do direito de Lula ser candidato a presidente da República, da sua inocência, da sua liberdade. Não pode um punhado de Torquemadas togados transformar a eleição presidencial de 2018 numa fraude e impedir que o sentimento amplamente majoritário do grande povo brasileiro se expresse legitimamente nas urnas.
Em face dos grandes desafios, como os de agora, as forças consequentes da esquerda não podem nem devem perder-se em batalhas intestinas, no exercício de falsos hegemonismos, ou na fragmentação. É vã ilusão supor que a eleição de bancadas parlamentares isoladas e inorgânicas, dispersas, agindo em nome de interesses pessoais, regionais e de grupos, garantirá ao conjunto da esquerda força e capacidade de intervenção política no futuro imediato a 2018, até porque a ofensiva da direita demonstra que poderá não haver mais vida democrática e funcionamento normal do sistema político-parlamentar depois de 2018.
Para grandes desafios, são necessárias grandes ideias e grandes gestos de amplitude e união.
Mas para os estrategistas da direita é sempre bom contar com a ajuida de diversionistas e pescadores de águas turvas, razão pela qual acionam personalidades e legendas políticas que se sentem predestinadas a “reconstruir a esquerda”. Reconstrução que, como opinou o deputado fluminense Marcelo Freixo do Psol, na Folha de São Paulo deste último dia útil do ano, tem como pressuposto não a união mas a divisão da esquerda.