As acusações de Pompeo são parte da cruzada, não muito bem sucedida, contra os avanços tecnológicos da gigante chinesa Huawei (© Chappatte in The New York Times)

No coração do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Guerra Fria ainda não acabou, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, em resposta a declarações do chefe da diplomacia norte-americana, em que este acusou Pequim de tentar minar a segurança das comunicações dentro da Otan e instou o bloco militar a se adaptar a essas novas ameaças.

“Gostaria apenas de salientar que a Guerra Fria terminou há mais de 30 anos, mas a Guerra Fria que ocorre no coração de Pompeo ainda continua, ele não se concentra no desenvolvimento internacional, não ouve a voz do povo ou sente o curso do tempo”, disse o diplomata em entrevista coletiva.

 O porta-voz enfatizou que o Secretário de Estado do país norte-americano ultimamente se dedica a falar mal da China por toda parte e que suas declarações estão cheias de “preconceitos e ignorância” sobre a história e a situação atual da China. “A difamação divulgada nem vale a pena ser negada, pois desaparecerá por si só”, resumiu Geng.

As acusações de Pompeo são parte da cruzada, não muito bem sucedida, contra os avanços tecnológicos da gigante chinesa Huawei, líder mundial em tecnologia 5G. E particularmente ridículas para um país que foi desmascarado, pelo denunciante Edward Snowden, por grampear e manipular ligações no planeta inteiro, até mesmo de chefes de Estado supostamente ‘aliados’.

 Além do mais, foi Pompeo, que quando era diretor da CIA, foi flagrado às gargalhadas, descrevendo seu trabalho à frente do covil: “nós mentimos, nós fraudamos, nós roubamos”.

CONIVÊNCIA

Também o embaixador da China em Londres, Liu Xiaoming, denunciou em entrevista coletiva o apoio de certos países ocidentais a atos criminosos e violentos em Hong Kong. “A Câmara dos Deputados dos EUA adotou a chamada Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong para interferir descaradamente nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China”, reiterou.

Ele acrescentou que o governo britânico e o comitê de assuntos externos da Câmara dos Comuns publicaram “relatórios relacionados à China, fazendo comentários irresponsáveis sobre Hong Kong”.

Liu repudiou a “falsa neutralidade” das autoridades britânicas que, quando policiais de HK são atacados com armas letais, assumem a posição de instar “todos os lados” a cessar a violência.

Em outro front, a China anunciou que seus negociadores mantêm um contato estreito com o lado norte-americano em busca de fechar a fase 1 de um acordo comercial que amenize os impactos da guerra comercial – e tecnológica – em curso.

REUNIÃO “PRODUTIVA”

Às margens da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Bangkok, Tailândia, o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, se reuniu com o secretário do Pentágono, Mark Esper, encontro descrito pelo jornal chinês Global Times como “produtivo” e com “impacto muito positivo nas relações gerais entre os dois países.

Segundo analistas, a principal mensagem de Wei foi de que Washington deve parar de “flexionar seus músculos” no Mar do Sul da China, enfatizando a determinação de Pequim de “manter a paz e a estabilidade” na região e de resistir a provocações e escalada de tensões.

“Convidamos o lado americano a parar de intervir no mar da China Meridional e às provocações militares no mar da China Meridional”, relatou o porta-voz da Defesa Nacional da China, Wu Qian.

Pequim também solicitou a Washington que evite enviar “sinais errados” a separatistas de Taiwan, advertindo que uma secessão não seria permitida, mas que a China persiste na solução pacífica da questão, nos marcos do princípio ‘um país, dois sistemas’.

No domingo, o primeiro porta-aviões totalmente construído e projetado na China navegou pelo Estreito de Taiwan, dias depois da passagem de um navio porta-mísseis norte-americano por ali. Na véspera, Esper acusara publicamente Pequim de “recorrer cada vez mais à coerção e intimidação para promover seus objetivos estratégicos” na região e insistiu na ordem mundial “com base em regras”, cujo primeiro a rasgar é o presidente que o nomeou, Donald Trump.

Conforme Wu, os militares de ambos os lados devem implementar os acordos alcançados pelo presidente chinês Xi Jinping e pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para manter uma comunicação regular, aprofundar a cooperação pragmática e gerenciar e controlar adequadamente as divergências, a fim de tornar as relações entre os dois militares um “estabilizador” para o relacionamento China-EUA.