A presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, fez na última quarta-feira (29) o pronunciamento central na atividade realizada pelo Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz) contra a Cúpula de Madri da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Leia a íntegra.

Por Socorro Gomes*

Reunimo-nos em mais uma atividade dos amantes da paz e ativistas da solidariedade internacional, num momento em que os povos precisam de paz e desenvolvimento, diálogo, cooperação e entendimento, liberdade e justiça social. Contrastando com esses legítimos anseios, as potências imperialistas reúnem-se durante estes dias na cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a mais agressiva aliança militar jamais existente, uma poderosa máquina de guerra e destruição comandada pelos Estados Unidos. Os debates e as deliberações dessa cúpula apontam para o agravamento das tensões mundiais e a preparação de guerras que ameaçam o presente e o futuro da humanidade.

Está em sua natureza: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) precisa da guerra para sobreviver. E é com este intuito que os seus mandantes reúnem-se mais uma vez, agora em Madri, entre 28 e 30 de junho, para adotar um novo “conceito estratégico”. Assim reinventam novamente um pretexto para seguir ameaçando povos e nações a distâncias cada vez maiores, em domínios cada vez mais amplos, se apoderando de cada vez mais recursos para promover a guerra ao invés da paz, a matança ao invés da vida, a devastação e a desesperança ao invés do desenvolvimento e o progresso.

O mundo está diante de enormes desafios à segurança e à paz. Para nós, não há dúvida sobre a escolha a fazer quando nos deparamos diante das disjuntivas paz ou guerra, autodeterminação dos povos ou monopólio de poder por uma potência imperialista, direito internacional ou decisões impostas pela força, segurança coletiva ou a segurança absoluta e exclusiva de uns poucos, que veem sua existência ligada à negação da segurança das demais nações.

Sob a ordem imperialista em que os Estados Unidos e seus aliados impõem as próprias regras e negam direitos aos demais países, o mundo está vivendo no limiar de mais uma guerra avassaladora.

A cúpula da Otan é mais um episódio da desenfreada militarização do planeta pelas potências imperialistas, do exercício de um poder ilimitado e da guerra de agressão como regra número um da ordem internacional guiada pelos interesses dessas potências. Os Estados Unidos na gestão do presidente Joe Biden apontam o dedo acusador a países que considera inimigos, aos quais acusa de pretenderem alcançar posições dominantes em um mundo “sem regras”. Mas o que propõem é um mundo sob as suas regras exclusivas. E estas só se impõem mediante a militarização, as sanções, os golpes, as intervenções e as guerras.

Quando o mundo mais precisa da paz e da segurança para todos, da cooperação internacional baseada na Carta da ONU para encontrar soluções ao conflito em curso no Leste da Europa, a partir de um emergencial cessar-fogo, os Estados Unidos e seus aliados nos marcos da Otan entram em cena para mostrar as dimensões do seu poder e fomentar a ampliação e o agravamento desse mesmo conflito.

A cúpula da Otan não tem qualquer compromisso com a solução da crise na Ucrânia, o que a rigor está em linha com as responsabilidades que a aliança atlântica tem com a eclosão desse conflito. Afinal, foi sua política de expansão para o Leste, o cerco à Rússia, a ameaça à segurança desse país, a causa principal dos acontecimentos que se desenrolam desde 24 de fevereiro.

Exatamente por isso em Madri não estão decidindo sobre medidas que venham a contribuir para uma solução construtiva ao conflito na Ucrânia. Ao contrário, a aliança atlântica adota decisões no sentido de se aparelhar política e militarmente para promover guerras de maiores proporções. Os líderes reunidos em Madri respaldam as decisões tomadas pelo G7 em Munique no início desta semana: aumentar as sanções, transformadas no método clássico de pressão sobre países e povos para submetê-los por meio do estrangulamento da vida econômica e social. A cúpula da Otan de Madri acrescenta medidas de caráter militarista e belicista, a produção e o fornecimento de mais armamentos, a multiplicação das tropas, seu maior deslocamento para todas as partes da Europa e outras regiões do mundo, com ações em maior extensão geográfica e a admissão de novos membros.

Como demonstração mais cabal de tudo isso, a Otan adota em Madri novos conceitos geopolíticos e militares, cuja premissa é a definição de inimigos estratégicos. Sob essa definição esconde-se o propósito de interditar o desenvolvimento de outros países, aos quais não querem reconhecer o inalienável direito de atuar no plano global visando, por meio do compartilhamento e da cooperação, satisfazer mais e melhor as necessidades de seus povos. Disso emana o anúncio de que a Otan tem um “inimigo sistêmico”, a China.

Deriva da mesma concepção a definição da Rùssia como o principal alvo imediato a combater, porquanto esse país supostamente representaria uma “ameaça significativa e direta” aos interesses hegemônicos dos membros da Otan e à segurança internacional.

Há muito que o movimento internacional da paz denuncia a Otan como a máquina de guerra do imperialismo, difundindo informações e opiniões que ajudam a esclarecer os povos sobre o que representa esta aliança. Atuando em cada país e conjuntamente, as quase 100 organizações que constituem o Conselho Mundial da Paz (CMP), em aliança com diferentes forças democráticas, patrióticas e progressistas pelo mundo, empenham-se numa campanha por sua dissolução.

Tudo isto reforça as nossas convicções – do Cebrapaz e do Conselho Mundial da Paz – sobre a urgência e prioridade da luta contra a Otan e suas políticas militaristas e belicistas. Nossas organizações têm participado de inúmeras campanhas de denúncia às ações desestabilizadoras e destrutivas da Otan.

No momento em que essa organização afronta ainda mais os anseios de paz da humanidade, reafirmamos que é indispensável intensificar e ampliar a luta pela dissolução dessa aliança, que é o braço armado das potências imperialistas na busca pelo controle de rotas, recursos estratégicos ou zonas de influência, na afirmação da hegemonia do poder agressor e no aumento do domínio dessas potências. Nesse afã, a Otan não poupa esforços para subjugar nações, derrubar governos legítimos e bombardear países, como fez contra a antiga Iugoslávia, o Iraque, o Afeganistão e a Líbia.

Estamos convencidos de que a Otan, como principal instrumento da agressividade do imperialismo estadunidense, é a maior ameaça à paz mundial. Hoje atua para conter países que questionam a hegemonia imperialista estadunidense e esmagar as lutas dos povos por sua autodeterminação de independência. Para isso não se detém ao cometer crimes contra a soberania nacional desses países e em comprometer a paz mundial e a segurança internacional. Nos últimos anos, essa organização reforçou seu caráter agressivo e expansionista.

Desde que nasceu, no mesmo ano de estabelecimento do bloco militar, o Conselho Mundial da Paz travou esta luta, deixando claro quais forças estão ao lado da destruição e quais forças estão ao lado da vida. Há mais de uma década, o Conselho Mundial da Paz e suas entidades-membro também se mobilizam em ações nacionais e na campanha internacional “Sim à Paz! Não à OTAN!”, e em recente coordenação com outras forças da paz em atividades nas últimas cúpulas, onde erguemos bem alta a bandeira anti-imperialista.

Desta feita, não foi diferente, e os membros do Conselho Mundial da Paz participaram das manifestações em Madri, além de realizar ações em seus próprios países, porque além de internacionalista, esta luta diz respeito a cada uma das nossas nações na mira dessa máquina de guerra.

*presidenta do Conselho Mundial da Paz

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Fonte: Portal Resistência