Atendendo a convite do deputado estadual Orlando Silva (PCdoB-SP) , o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) participou na noite desta segunda-feira (5) de uma conversa transmitida ao vivo pelas redes sociais do parlamentar.

Enquanto esperava a conexão do governador, Orlando Silva, que é pré-candidato a prefeito de São Paulo, comentava a urgência de que se organizem as longas filas que assolam as cidades, formadas por trabalhadores que precisam da ajuda emergencial aprovada pelo Congresso:

“As filas nas agências da Caixa Econômica e nas lotéricas são desumanas e são, claro, ponto de contaminação pelo novo coronavírus”, denunciou.

De Flávio Dino, a partir dos 14 minutos da transmissão que pode ser vista na íntegra, Orlando Silva quis saber sobre as conquistas e dificuldades de governar o Maranhão neste momento de crises.

“Estamos em conjuntura complexa de crises, a sanitária está aguda e há seus aspectos políticos. É sem dúvida um dos maiores da minha vida profissional. E sou servidor público há 31 anos. As decisões e providências precisam ser tomadas a toda hora. Tem sido um período de muito cansaço, mas tenho muita seriedade, compromisso com as causas do povo, e energia cívica mobilizada para as tarefas”, explicou o governador, sobre sua rotina.

Estados sem apoio

Ele também comentou a decisão da Justiça que determinou bloqueio completo na região metropolitana de São Luis. O chamado lockdown começa nesta terça-feira (6) e Flávio Dino entende que a medida é de fato necessária visto que apesar do esforço do governo estadual para expandir a oferta de leitos, a demanda é bem mais veloz.

“Estamos desde a semana passada girando sempre entre 90% e 100% de ocupação da rede estadual. Falo da estadual porque a conheço profundamente. Estamos abrindo nesta semana 150 leitos clínicos e de UTI em São Luís. Saímos de 232 leitos para covid-19, vamos chegar a 900 esta semana no estado. O esforço é monumental em obras, construção de prédios, agora estamos fazendo também hospital de campanha. O mais difícil, porém, é equipamento e profissionais. Daí o lockdown faz sentido, porque de fato reduz a velocidade do crescimento da demanda”, argumentou.

Dino também enumerou dados reveladores da ineficiência do governo Bolsonaro em prestar ajuda aos estados. Segundo ele, além dos respiradores que a rede já tinha, o governo estadual conseguiu receber 211. Destes, apenas vinte foram enviados pelo Governo Federal.

“Agradecemos. É uma ajuda. Com isso vamos abrir 20 leitos de UTI. Mas é muito pouco para o tamanho do desafio”, afirmou, lembrando que o governo estadual já adquiriu mais 104 respiradores que estão por ser entregues.

“Como havia um negacionismo e minimização do coronavírus, chamada gripezinha [por Bolsonaro], isso gerou consequências, sobretudo a imprevidência! Por exemplo: temos um Ministério da Saúde dizendo que vai entregar agora, no auge da crise, 180 respiradores por semana para o Brasil inteiro. O país tem 5570 cidades. Pra deixar claro: 180 respiradores, neste momento, significa atender mais 180 pessoas, porque as internações são de longo prazo: 15 ou 20 dias para sair do leito e se curar! É muito pouco!”, lamentou o governador.

Flávio Dino lembrou que seria possível estar vivendo outro quadro se o governo tivesse determinado a chamada reconversão industrial, como a Rússia, que anunciou que usará sua indústria militar para fazer respiradores ou os EUA, que obrigaram a indústria automobilística para fabricar materiais médico-hospitalares.

“Você vê o nível da carência: o Governo Federal não providenciou nem equipamento e nem logística de transporte. A Força Aérea Brasileira, gloriosa FAB, poderia estar coordenando isso”, destacou.

Fascismo

As duas lideranças do PCdoB trataram ainda de outros assuntos, como o combate objetivo e subjetivo do fascismo que cresce no país governado por Bolsonaro. Flávio Dino argumentou que “o fascismo bolsonarista difunde medo, pavor. É uma gente infeliz e que busca semear infelicidade com intuito político”.

Contra isso, insistiu, é preciso semear “a cultura do amor, do humanismo e do serviço”, considerados por ele “valores que destroem as bases subjetivas dos fascismo”.

Ele também afirmou não duvidar dos planos autoritários do presidente. “Não duvidemos que Bolsonaro implante uma ditadura no Brasil. Pode até não implantar. Mas seu intuito é este, inequivocamente, e se não for contido, o fará”, e por isso, diz Dino que confia nas instituições e que devem contê-lo no sentido de garantir o regime democrático. “O Supremo tem agido corretamente, na defesa da democracia”, comentou.

Pós-tsunami

“Vamos atravessar essa fase, essa tsunami vai passar, e vamos lutar pra diminuir o sofrimento do povo. Depois, quero te convidar, pois vamos construir aqui um projeto político para São Paulo. Nem falei muito sobre isso [pré-candidatura], pois o novo foco agora é o coronavírus. Queremos você aqui para nos dar uma aula sobre como fazer, como governar e como ganhar eleição”, afirmou o deputado Orlando Silva, já na despedida.

Flávio Dino reforçou o compromisso que, segundo ele, foi assumido previamente.

“Irei com muita alegria! Você sabe que tenho respeito e admiro sua capacidade intelectual e política”, garantiu, lembrando a Orlando que este esteve presente e discursou no ato de filiação dele ao PCdoB, em março de 2006.

“Lá se vão 14 anos. Eu engordei, perdi metade dos cabelos”, riu. E garantiu “Tenho hoje a mesma confiança de que nossa luta vale a pena”.