Porta-voz da OMS, Tarik Jašarević

A Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu mais uma vez, na sexta-feira (26), o uso de máscaras e a adoção de medidas de isolamento social como forma de frear a Covid-19. A declaração veio como resposta às novas mentiras de Bolsonaro desestimular seu uso. A entidade deixou claro o risco de abandonar a medidas preventivas, simples mas eficazes.

Enquanto o Brasil alcançava um recorde de mortes, com 1.582 casos, na quinta-feira (25), o comentário de Bolsonaro foi negar a necessidade do uso de máscaras e o isolamento social.

Para o escritório da OMS para a Europa, foram exatamente as medidas de isolamento e o uso de máscaras que permitiram que o número de novos casos no continente fosse reduzido pela metade entre dezembro e fevereiro.

Questionado por Jamil Chade, colunista do UOL, sobre qual seria a posição da OMS sobre o uso dessas medidas, o porta-voz da entidade internacional, Tarik Jašarević, confirmou que máscaras e isolamento “ajudam”.

“Temos dito de forma consistente que, por si só, usar máscaras não é suficiente. Tais cuidados precisam fazer parte de uma série de medidas tomadas”, afirmou. “Distanciamento ajuda, reduz os riscos de ser infectado. Máscaras ajudam, especialmente quando o distanciamento não é possível”, declarou.

“Cada um de nós pode reduzir os riscos de exposição. Isso não quer dizer que autoridades não devem colocam em práticas suas ações, o que inclui monitorar a transmissão do vírus e quebrar cadeias de transmissão, por meio de rastreabilidade, isolar e testar pessoas”, completou.

Citando um suposto estudo feito na Alemanha, Bolsonaro afirmou que as máscaras são “prejudiciais” às crianças, causando irritabilidade, dor de cabeça e dificuldade de concentração.

“Começam a aparecer os efeitos colaterais das máscaras”, disse, depois de listar uma série de problemas supostamente causados pelas máscaras. “Eu tenho minha opinião sobre as máscaras, cada um tem a sua, mas a gente aguarda um estudo sobre isso feito por pessoas competentes”, perorou.

Ele prosseguiu dizendo que uma “universidade alemã” teria feito um “estudo” e concluído que máscaras são “prejudiciais a crianças”. “Começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras”.

“Uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças. Leva em conta diversos itens: irritabilidade, dores de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem e fadiga”, completou.

Ao contrário do que disse o presidente, nenhuma universidade alemã elaborou qualquer estudo que tenha chegado a tal conclusão. Na realidade, Bolsonaro citou os resultados de uma pouco rigorosa enquete online realizada por cinco pesquisadores da Universidade de Witten/Herdecke, no Estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália. O objetivo dos pesquisadores era formar um banco de dados para coletar relatos sobre o uso de máscaras em crianças.

“No entanto, os dados disponibilizados pelos pesquisadores deixam claro que a enquete tinha pouco rigor científico, funcionando mais como uma coletânea de anedotas. Os pesquisadores não estabeleceram grupos de controle com crianças sem máscaras para comparar os efeitos e também não colocaram em prática critérios para diferenciar efeitos de doenças ou condições pré-existentes. O questionário também exibe itens vagos, como ‘sensação de doença’”, assinalou Jean-Philip Struck, em artigo no site alemão Deutsche Welle (DW).

O presidente também criticou o isolamento social. “Quem quer auxílio emergencial e a cidade está fechada… Vão cobrar do prefeito, vão cobrar do governador, já que ele quer que você fique em casa eternamente e quer mandar a conta para nós [governo federal] pagarmos. Eu teria o maior prazer de pagar eternamente um salário para todo mundo viver numa boa, sem trabalhar, mas isso não existe”, declarou.