O que está em jogo é "evitar uma guerra na Europa", afirma o premiê Olaf Scholz

O primeiro-ministro alemão Olaf Scholz afirmou na quinta-feira (10) que “queremos a paz”, acrescentando que o que está em jogo no momento é “nada menos que evitar uma guerra na Europa”.

Scholz irá a Moscou e Kiev na próxima semana.

Desde outubro, diariamente os EUA e sua mídia anunciam que a “invasão russa” da Ucrânia é “iminente”, o que já foi desmentido por Moscou.

No final de dezembro, a Rússia entregou aos EUA e à aliança militar Otan suas propostas para a restauração do princípio da segurança coletiva na Europa, com garantias legais vinculantes e fim da expansão da Otan e suas tropas e sistemas de armas ofensivas às fronteiras russas, em especial, a Ucrânia.

No mês passado, EUA e da Otan no essencial rechaçaram as preocupações russas, só admitindo discutir questões secundárias.

Após jornais norte-americanos publicarem fake news sobre a possível tomada de Kiev “pelos russos” em “48 horas”, com milhares de mortos e milhões de refugiados, até mesmo o governo de Kiev pediu o fim do “alarmismo” por estar desestabilizando sua economia, e negou tal “ataque iminente”.

Washington e Londres amplificaram a crise anunciando a retirada de diplomatas norte-americanos e familiares de Kiev.

Nos últimos dias, Scholz se reuniu com outros líderes europeus e esteve com o presidente francês Emmanuel Macron na reunião do ‘Triângulo de Weimar’ (Alemanha, França e Polônia).

Scholz, que foi criticado pelos círculos pró-americanos na Alemanha por “não dizer a que veio” no encontro na Casa Branca com o presidente Joe Biden, onde ficou mudo sobre o gasoduto russo-alemão “Nord Stream 2”, o que justificou em nome da “ambiguidade estratégica”, irá se reunir com o presidente russo Vladimir Putin na terça-feira (15).

Apesar de todas as pressões, a Alemanha tem sustentado a posição, em vigor desde o governo de Angela Merkel, de não armar o governo de Kiev, em razão da Ucrânia ser uma “zona de conflito”. Inclusive proibiu que armas de fabricação alemã nos países bálticos fossem repassadas para a Ucrânia.

A declaração de Scholz pela paz foi feita durante reunião com os países bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia, – onde a Alemanha mantém forças militares – em que o primeiro-ministro alemão asseverou que a Rússia não deveria “subestimar a determinação” de Berlim e seu compromisso “com a Otan”.

Ao mesmo tempo – acrescentou – “estamos prontos para sérias conversações com a Rússia, para um diálogo sobre as questões de segurança na Europa”.

Como diz a definição clássica, de um figurão britânico, sobre os objetivos da Otan: “manter os americanos dentro; os russos, fora; e os alemães por baixo”.

Mostrando a quantas anda a pressão, nem o portal do próprio governo alemão, o Deutsche Welle, alivia o primeiro-ministro por não fazer apologia da escalada.

“Talvez silencioso até demais”, comenta o DW sobre Scholz. “No próprio país, o chanceler federal alemão viu suas taxas de aprovação diminuírem, e no cenário internacional teve de enfrentar a acusação de não adotar uma posição clara na crise Rússia-Ucrânia”.

A “contenção” é atribuída pelo portal à inclinação da “ala mais à esquerda” da social-democracia alemão à “antiga política do SPD para o leste e à aproximação com a Rússia associada a ela”. Bem como à propensão dos políticos do SPD dos estados do leste alemão de se remontarem “a antigas relações da época da Alemanha Oriental”.

Também lembra que o ex-primeiro-ministro Gerhard Schroeder, ali relatado como “amigo de Putin”, além de encabeçar a Nord Stream2 AG, está nos conselhos de administração da Rosneft e da Gazprom.

É ainda a DW que registra a “estranheza” com que o governo alemão teria mantido o Nord Stream 2 “fora da lista de possíveis sanções do Ocidente”. E lembra que foi Scholz que argumentou em dezembro que o gasoduto é um “projeto do setor privado” e o processo de aprovação é “completamente apolítico”

Ainda segundo o DW, “em relação a possíveis sanções contra a Rússia, no entanto, as estratégias permanecem vagas”. Scholz “parece não querer afirmar categoricamente se a Alemanha abandonará ou não o Nord Stream 2” em caso de emergência. Ele justifica isso dizendo que Berlim não quer prejudicar seu papel de mediador e, assim, não quer “colocar tudo sobre a mesa”.

Por sua vez Biden, ao receber Scholz na Casa Branca, se prontificou a oferecer o caro e poluente gás de fracking norte-americano para substituir o gás russo via Nord Stream-2.

A Alemanha compra metade do gás que consome da Rússia, gás que é essencial para cumprir suas metas ambientais e manter funcionando a enorme e sofisticada indústria alemã – além de não congelar no inverno.

A Alemanha, ao lado da França e da Rússia, são os garantidores dos Acordos de Minsk para uma solução pacífica para o levante no Donbass contra a perseguição à população de ascendência russa, inclusive a proibição do uso do idioma, pelo regime instaurado pelo golpe CIA-nazis de 2014, que tentou esmagar a revolta por meios militares por duas vezes e fracassou rotundamente.

Pelos acordos, o governo de Kiev deve colocar na constituição os direitos da população de fala russa e a autonomia, promover a anistia, restaurar as proteções sociais e através do entendimento direto com as ‘repúblicas populares’ garantir a realização de eleições e consequente normalização da fronteira.

O que Kiev não tem cumprido até aqui, na prática congelando os acordos há três anos, cuja execução só voltou a ser discutida nas últimas duas semanas.