Grande parte das visões conservadoras, burguesas, da história, imobilistas e que não admitem a ação humana para a mudança da convivência entre as pessoas e alcançar o progresso social se socorrem, quase sempre, dos dogmas da psicanálise e dos supostos impulsos inconscientes e inatos que ameaçam a vida em sociedade e são forte fundamento do individualismo que impera na sociedade burguesa.

A análise mais rigorosa e científica da mente, desenvolvida a partir da concepção materialista e dialética, demostrou a falsidade daquela visão imobilista e o profundo caráter ideológico daquele pensamento que marca a hegemonia da visão burguesa.

Entretanto, a compreensão da mente como resultado histórico da evolução do homem, que reflete as vicissitudes de sua vida concreta, não foi reconhecida mesmo por escritores marxistas caudatários das concepções baseadas nas ideias imobilistas inspiradas pela psicanálise. Essas ideias fundamentam a visão pessimista de muitos escritores sobre o desenvolvimento histórico e a possibilidade – e necessidade – da superação do capitalismo e das mazelas que o acompanham.

São autores que, influenciados pelas ideias de Freud, não tiveram a mesma prudência metodológica do pai da psicanálise e subordinam sua defesa da “naturalização” da história à tese da existência de um inconsciente cujas demandas pulsionais inatas e do conflito que existiria entre os homens teriam um profundo caráter anti-social.

Nessa linha, foi influente o pensador alemão Max Horkheimer (1895-1973), expoente da chamada Escola de Frankfurt, ou “teoria crítica”. Para ele, a civilização e a racionalidade “oprimem” o indivíduo. Ele escreveu, no livro “A eclipse da razão” (1947), que “todo ser humano experimenta o aspecto opressor da civilização desde o nascimento”. E continua: “A repressão dos desejos que a sociedade realiza através do ego torna-se cada vez mais insensata não só para a população como um todo como para cada indivíduo. Quanto mais alto se proclama e se reconhece a ideia de racionalidade, mais fortemente cresce na mente das pessoas o ressentimento consciente e inconsciente contra a civilização e seu agente dentro do indivíduo, o ego”. (Horkheimer: 1976).

É um exemplo entre tantos, entre eles a do autor brasileiro Ruy Fausto, que tentou justificar o imobilismo com base nas ideias de Freud. Ruy Fausto foi professor de filosofia na Universidade de São Paulo e autor da trilogia “Marx: Lógica e Política”, que começou a publicar em 1983. No último volume desta obra, publicado em 2002, ele se apresentou como um pós-marxista e justificou o prefixo pós com base na tese freudiana de que um sistema socialista e igualitário seria irrealizável devido à existência de um lado negro da alma (formado pelos instintos e pulsões inatos referidos por Freud), que impediria a formação de um governo de caráter socialista e imporia a permanência da mesma hierarquia social existente nas sociedades divididas em classes. (Fausto: 2002).

Esta é a crença conservadora de que a história não pode ser modificada pela ação do homem porque haveriam os tais impulsos inconscientes “naturais” e ”inatos” que impedem essa transformação e impõe a imobilidade social.

Referências

  • Fausto, Ruy. Marx: Lógica e Política – Investigações para uma reconstituição do sentido da dialética. São Paulo, Editora 34, 2002.
  • Horkheimer, Max. Eclipse da razão. Rio de Janeiro, Editorial Labor, 1976

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José Carlos Ruy* é jornalista, escritor, estudioso de história e do pensamento marxista.

 

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