O atentado contra Lula e o acerto político de ter Manuela candidata
O Imperialismo não dorme, nem brinca em serviço. Diuturnamente, trama, conspira, para em seguida dar o bote – seja despejando bombas, seja dando golpes. E, uma vez acionados seus dispositivos, vai até as últimas conseqüências para garantir seus interesses.
Por Elder Vieira*
O golpe de Estado de 2016, não cansamos de repetir, é o golpe do Imperialismo de mãos dadas com os latifundiários e os banqueiros. E isso se explica pelo fato de não ser possível o Imperialismo fazer o que faz sem aliar-se a traidores internos, como é o caso de sinhozinhos e agiotas.
Em 1964, essa gangue, de cara, usou os tanques, não sem antes conspirar muito e armar uma sucessão de arapucas e atos de provocação. Para sua aventura golpista do século XXI, chamaram à boca da cena as togas. Em ambas as ocasiões, contaram com a abjeta subserviência de uma maioria parlamentar venal e com o apoio de sua ‘força aérea’, a Globo e demais meios de comunicação das “Five Families”.
Por palavras mais diretas: o Estado, quartel general da classes dominantes, mais uma vez entra em cena blocado, ordem unida, como máquina de repressão cujo fito é, segundo o patronato, devolver a base da pirâmide ao sítio de onde jamais deveria sair.
Ocorre que a marcha dessa gente não avança sem embaraços. Dentro de um roteiro que visa a aparentar legalidade e legitimidade, a Casa Branca, de sociedade com a Casa Grande, vê enorme dificuldade em as forças golpistas vencerem nas urnas a luta que travam contra o Brasil. E o fator de risco é um só: o povo. Como esse fator, segundo os postulados neoliberais, não se coaduna com políticas econômicas que atendam à necessidade de lucros do capital financeiro, é preciso eliminá-lo. Numa democracia, ainda que burguesa, esse fator de risco para o capital costuma arrumar problemas por meio do voto. Então… nada de eleições, oras!
Mas… como impedir as eleições? Como justificar aos olhos da opinião pública que pleitos democráticos são um estorvo? Porque é fato que toda perseguição a Lula, toda a campanha de desmoralização da esquerda e da política não têm sido suficientes para afastar o fantasma da derrota em 2018.
O que resta pra essa gente?…
O velho ‘General Terror’ é mais uma vez convocado pelas elites golpistas. Soltaram o cão do fascismo na procissão e agora tratam de açular e alimentar o bicho. Seu papel é tumultuar ainda mais o quadro, gerar um clima geral de insegurança e medo, acuar o povo e seus partidos representativos, e justificar medidas de força, como tropas nas ruas, mecanismos de exceção e… suspensão do calendário eleitoral.
É num quadro como esse que se mostra justa a decisão do PCdoB de se projetar no cenário político com a pré-candidatura de Manuela D’Ávila a Presidente da República. Num momento em que o Brasil reclama de seus filhos coragem e discernimento, em que trabalhadores e trabalhadoras se vêem sob ameaças indizíveis, o Partido Comunista tem uma voz que se alça sobranceira acima do tumulto provocado pelo inimigo e diz: ninguém se iluda; os tiros são contra a democracia e o Estado de Direito; atingem a todos os interessados numa arena nacional minimamente democrática; os golpistas querem impedir as eleições de 2018; a hora é de união em defesa da Democracia e do País.
Essa decisão dos comunistas, de lançar candidata, foi e continua a ser severamente questionada. Com base num raciocínio simplista, por vezes até oportunista, interpela-se o PCdoB com o argumento da necessidade de unidade da esquerda e de se lutar sem tréguas em defesa de Lula e sua legítima candidatura. O Partido, na ocasião do lançamento de Manuela, respondeu com a bandeira da Frente Ampla que levantara desde a consumação do Golpe. Volta a responder agora com a atitude de sua pré-candidata, que não se contentou em protestar nas redes e em nota: articulou com outras candidaturas tornar o ato de encerramento da caravana de um candidato em ato suprapartidário contra o fascismo e em defesa do Estado de Direito.
Ou seja, e se me permitem a imagem, os comunistas mais uma vez dão um ‘ippon tático’: por meio de sua candidatura própria concertam a união de forças em uma frente política nacional e democrática, que vai assumindo caráter antifascista, ao tempo em que, por meio dessa ampla frente, fortalecem sua candidatura e se projetam como referência política para a maior unidade desta mesma frente. Ao falar tanto para os meios políticos como para o povo, Manuela colabora mais eficazmente com o País para “coesionar” o campo democrático – com isso, pavimenta o caminho de sua consolidação como liderança nacional e fortalece a legenda do PCdoB, o partido da união dos trabalhadores e do povo brasileiro.
Finalizo essa já comprida arenga tomando de empréstimo palavras de Orlando Silva, deputado federal e presidente do PCdoB em São Paulo: é preciso não ter medo de dar nome ao demônio. Ele se chama fascismo. Seu ovo foi chocado. Trata-se agora de esmagá-lo. Acrescento: Manuela, ao soltar sua voz corajosa e laborar pela junção de forças do amplo e variado espectro político brasileiro, dá o contributo dos comunistas ao bloqueio da escalada fascista.
*Escritor, servidor público, militante do PCdoB desde 1983.