Saudação ao velho comunista Neuton Miranda! Completa-se dez anos sem sua presença física que nos deixa muita saudade da sua camaradagem e da sua firmeza forjada na luta revolucionária. É com muita tristeza que até hoje sentimos sua ausência.

(De Belém, Moisés Alves).

Neuton Miranda foi vitima de um ataque fulminante do coração quando estava trabalhando pela Superintendência do Patrimônio da União – SPU no oeste paraense no município de Belterra, onde dedicou seu último período de atuação política nos governos de Lula e Dilma. No dia 20 de fevereiro de 2010, de forma prematura encerrava sua trajetória de dedicação e luta em defesa dos trabalhadores e do povo brasileiro. O “Viet” como era chamado nos tempos da clandestinidade, era conhecido por sua dedicação integral à luta por uma sociedade mais justa, fraterna e socialista. Isso desde a década dos anos 60, quando militava no movimento estudantil e participava da Ação Popular até o ingresso nas fileiras do Partido Comunista do Brasil – PCdoB.

Caboclo paraense, nascido na cidade de Marabá, uma das cidades palcos da Guerrilha do Araguaia, estudava Engenharia Civil na Universidade Federal de Minas Gerais em Belo Horizonte quando ingressou no movimento estudantil, foi Vice-presidente nacional da gloriosa União Nacional dos Estudantes – UNE na gestão de Honestino Guimarães, perseguido pela ditadura militar, sendo obrigado entrar para clandestinidade no mais cruel, repressivo e duro período da ditadura Civil-Militar no Brasil. Tempos de torturas, desaparecimento físico e muita repressão. Em 1972, Neuton Miranda não vacilou e decidiu somar fileiras ao PCdoB, atitude corajosa e ousada naquele período.

Decretada a Anistia em 1979, João Amazonas destacou Neuton Miranda, Paulo Fonteles, Neco Panzera e outros camaradas para enfrentar uma fração revisionista que atacava os comunistas paraenses, dessa forma reconstruindo e reorganizando o PCdoB no Pará. O Partido no comando de Miranda enfrentou todo tipo de sectarismo e anticomunismo, encara junto com o coletivo partidário a fúria dos latifundiários na luta pela reforma agrária, no qual foram vitimas valorosos lutadores do povo e tombaram grandes camaradas como: Expedito, Canuto e Paulo Fonteles.

Neuton sempre um militante e dirigente destacado na luta pela democracia e na construção partidária. Em 1984, na luta pelas diretas, no último suspiro da ditadura foi preso por ser militante comunista. Durante todo esse período era incansável na defesa do Partido e da luta do povo.

De 1992 a 1994, foi deputado estadual da legenda comunista, na Assembleia Legislativa do Estado do Pará – ALEPA, onde destacou-se na luta pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento do Pará, na defesa da estatal Vale do Rio Doce, e contra sua privatização junto com a deputada federal do PCdoB paraense, Socorro Gomes.

Como deputado, também teve forte atuação pela regularização fundiária com presença marcante na luta pelo direito de morar, creendeciando Neuton a assumiu a presidência da Companhia de Habitação do Pará – COHAB, na gestão de Almir Gabriel, rompendo publicamente com este governo após o Massacre de Eldorado dos Carajás. Neuton também foi Secretário Municipal de Habitação no Governo do Povo que esteve à frente o Prefeito Edmilson Rodrigues (1996 a 2004).

Como gestor público, Neuton Miranda sempre preocupado em melhorar a vida do povo com olhar para os problemas sociais, de construir caminhos para romper com as amarras e os limites burocráticos na defesa do povo, dos trabalhadores, dos explorados, das mulheres, da juventude, dos movimentos sociais. Neuton Miranda tinha lado, do lado classista e do lado do povo e durante cinco anos que assumiu à Superintendente do Patrimônio da União – SPU transformou essa instituição governamental, elevando sua importância e promovendo políticas públicas para melhorar a vida da população ribeirinha.

Sobre sua direção, criou na SPU o projeto Nossa Várzea: Cidadania e Sustentabilidade na Amazônia, com base legal na Concessão do Termo de Autorização de Uso, com abrangência de milhares de famílias. No qual distribuiu mais de 50 mil títulos, garantindo segurança legal às comunidades ribeirinhas, para plantar e sobreviver contra a especulação latifundiária e de empresários inescrupulosos. Essa iniciativa representava uma verdadeira revolução no processo de regularização fundiária e na melhoria das famílias ribeirinhas da Amazônia paraense e do Brasil. Como reconhecimento de seu trabalho recebeu vários prêmios nacionais por gestão, criatividade e inovação.

Neuton Miranda era dirigente nacional do PCdoB e presidente do Comitê Estadual do Pará. Um orientador, um comunista respeitado por diversas lideranças políticas interna e externamente. Sempre buscou a unidade das forças progressistas para enfrentar a direita conservadora. Neuton Miranda misturava firmeza, amplitude e radicalidade na defesa dos trabalhadores e do povo. Nos dias sombrios que vivemos hoje, Neuton é um quadro político que faz falta para enfrentar esse obscurantismo que se aportou no Brasil.

Em época de perdas de direitos, de retrocessos sociais, de destruição de projeto de nação, que remete a lembrança dos sombrios anos de chumbo, Neuton Miranda faz falta para enfrentar mais essa batalha, que exige sagacidade, firmeza pra lutar, sabedoria e amplitude para conquistar dias melhores e retomar o caminho do desenvolvimento e da construção de um projeto de Brasil.

Viva a memória de luta do velho comunista Neuton Miranda!

Viva a luta dos trabalhadores e do povo!

Viva o Partido Comunista do Brasil!

Neuton Miranda Presente!

Belém, 22 de fevereiro de 2020.

Partido Comunista do Brasil – PCdoB