O primeiro-ministro conhecido entre os israelenses pela alcunha de Bibi, saiu enfraquecido das eleições de abril deste ano

Cinco dias antes das eleições do dia 17, Netanyahu, em uma de suas baixezas eleitoreiras, declarou que “Israel provavelmente não terá outra escolha a não ser entrar em guerra total contra Gaza”.

Se isso não for uma bufoneada com vistas a agregar votos de direitistas fanatizados pela ideologia antiárabe de exclusão e massacre, é uma ameaça de genocídio, haja visto o morticínio desenfreado da invasão de 2014, que deixou 2.220 palestinos mortos, mais de 11.000 feridos e 500.000 deslocados, dos quais 100.000 com suas casas perdidas ou seriamente danificadas, segundo informe do Escritório da ONU para a Coordenação de Questões Humanitárias (OCHA, sigla em inglês).

GUERRA

O primeiro-ministro conhecido entre os israelenses pela alcunha de Bibi, saiu enfraquecido das eleições de abril deste ano, quando apesar de seu partido ser o mais votado, não conseguiu perfazer o número mínimo de apoios (em Israel são necessários 61 parlamentares, coligados ou não, para formar governo, com a maioria dos 120 membros de seu parlamento, o Knesset).

Além disso, Netanyahu está respondendo por prevaricação e peculato em quatro processos que podem levá-lo da casa ministerial oficial, na rua Balfour, em Jerusalém, para atrás das grades e vê a recondução ao cargo como tábua de salvação para tentar escapar.

Desde quando a anunciada nova eleição prevista para 17 de setembro, Israel, sob seu comando, Israel intensificou as provocações na região. Em um ritmo semanal, bombardeia alvos militares na Síria (país que enfrenta e vence uma orquestração terrorista financiada pelos órgãos de espionagem norte-americanos, notadamente a CIA, com o intuito de derrubar o governo eleito de Bashar Al Assad) e ainda insiste em formar uma coalizão encabeçada pelos Estados Unidos para atacar o Irã; invade constantemente o espaço aéreo do Líbano, com recente ataque ao escritório do departamento de Comunicação do partido governamental Hezbollah, através de um drone que explodiu diante de seu prédio e agora surge com a ameaça de guerra total a Gaza “por falta de escolha”.

RACISMO

Em 19 de julho de 2018, foi aprovada pela estreita margem de 62 votos a favor (um a mais do que a maioria absoluta), no Knesset a denominada Lei Básica (um substitutivo rebaixado de uma Constituição que Israel, sem fronteiras definidas, nem igualdade entre seus cidadãos, não possui nem nunca tentou formular).

Com o nome oficial de Lei Básica de Israel – Estado-Nação do Povo Judeu, a nova lei estabelece que só são cidadãos plenos desse Estado, os judeus, tanto os que moram em Israel, como qualquer judeu, em qualquer lugar do mundo, que resolva requerer cidadania israelense. Como consequência dessa lei, os palestinos, que são os nativos da nação, com cidades continuamente vivas por 3.500 anos, são alijados dos direitos de cidadania plena.

Quando de sua aprovação, Bibi, declarou aquele “um momento fundamental nos anais do sionismo e do Estado de Israel. Consagramos em lei o princípio básico de nossa existência”, isto é, a segregação.

Quando das eleições de 2.015, as últimas que deram o cargo de premiê a Bibi, no dia da votação, ele fez campanha ilegal pelo rádio e TV, chamando os israelenses a saírem a votar nele como o único capaz de defender a característica judaica do Estado de Israel, alertando que “os árabes estão indo em manadas para as urnas” para apoiar a formação de um governo de esquerda.

Nas eleições de abril de 2019, seu partido, o Likud, enviou emissários para as sessões eleitorais das cidades e aldeias árabes com 2.500 câmeras de filmar para intimidar os eleitores árabes. Como resultado da manobra, a participação árabe, que chega a 65% do eleitorado dessa origem, caiu para 50%. Nem assim, Bibi conseguiu formar a maioria para novo mandato.

Agora, seu partido tentou passar a manobra como lei, permitindo a filmagem no interior das seções eleitorais, seus partidários alegaram para tal, uma não comprovada “intenção dos árabes de roubarem nas eleições”.

Durante a discussão da lei de intimidação, o principal de seus defensores, o deputado Miki Zohar, disse ao deputado árabe, Ahmed Tibi, que este não tinha como dar lições de moralidade aos judeus pois estes “são uma raça especial”.

Agora, dias antes das eleições, até o Facebook, suspendeu, no dia 12, a página de conversas (chat) operada por Netanyahu por “violação de sua política de expressão”. Em mensagem publicada nesta página foi feito um alerta de que “os árabes querem nos aniquilar a todos”.

Também no dia 12, surgiram outdoors nas principais cidades e aldeias árabes com fotos de uma jovem apontando para seu olho e com os dizeres “não votem, estamos de olho”.

Um dos donos de uma gráfica, Itkan, declarou à TV israelense Canal 12, que “alguém me ligou, um judeu de sotaque americano, dizendo, ‘quero fazer uma campanha para encorajar os árabes a boicotarem a votação”.

“Eu perguntei a ele”, prosseguiu o empresário, “por que você me pede isso? Ele disse, ‘há muitos árabes que não querem votar e nós não estamos interessados no voto árabe. Tenho uma quantidade muito séria de dinheiro – por que não pegar o dinheiro e fazer a campanha?’”.

ROUBO

No dia 12, Netanyahu, montou uma encenação com mapa colorido com os dizeres “Soberania de Israel sobre o Vale do Jordão e o Sul do Mar Morto”, dizendo que, se reeleito, irá anexar o território palestino apontado por ele no mapa, o que significa 1/3 de todas as terras palestinas da Cisjordânia ocupada.

Bibi inclui a milenar e histórica – para judeus e árabes – Jericó, incluída entre as mais antigas cidades do mundo, com 3.500 anos de habitação ininterrupta.

O anúncio de assalto a terras foi rechaçado internacionalmente. No mesmo dia, a chancelaria francesa informou que a França, Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália expediram um comunicado conjunto condenando as declarações de Bibi:

“França, Espanha, Alemanha, Reino Unido e Itália estamos profundamente preocupados e continuamos a chamar ao refreamento de ações em contravenção à lei internacional que colocariam em perigo a viabilidade da Solução dos Dois Estados, baseada nas linhas de 1967 (quando tem início a ocupação do que restou da Palestina após a implantação do Estado de Israel). Para os que produziram a declaração, “seria uma séria ruptura com a lei internacional”, uma vez que Resoluções da ONU exigem a desocupação do território palestino ocupado em 1967 e apoiam a criação de um Estado Palestino soberano e viável lado a lado com o Estado de Israel.

Diante das declarações anexacionistas de Netanyahu, um dos mais prestigiados colunistas do jornal israelense, Haaretz, Gideon Levy, escreveu (mais enojado do que desapontado com os destinos de seu país):

“Qualquer um que ainda duvide da existência do apartheid, aqui, deve visitar o Vale do Jordão.

“A água, a terra e a Liberdade – que estão divididas lá via flagrante segregação – contam toda a história.

“Se Netanyahu cumprir sua promessa, tanto os israelenses, quanto o mundo saberão que o segundo apartheid foi oficialmente estabelecido. Veremos como os israelenses vão viver com isso e, especialmente, como o mundo vai reagir a isso”.