Funeral da família de oito palestinos mortos por míssil israelense – foto Mahumd Hams – AFP)

Na noite do dia 12, os moradores da região sul de Israel correram para abrigos antiaéreos enquanto 200 pequenos foguetes vindos da Faixa de Gaza atingiam terrenos, estradas e tetos de casas na região.

A saraivada foi lançada por forças do grupo palestino Jihad Islâmico poucas horas depois do provocativo assassinato de um de seus comandantes, Bahaa Abu Al-Ata, por forças israelenses. A decisão de atingir a casa do palestino partiu do próprio premiê, Bibi Netanyahu.

Em declaração oficial Israel afirma que “Al-ATA era uma bomba relógio” e que ele “planejava novos ataques ao sul de Israel”.

No entanto, o momento escolhido para o ataque à residência de Al-Ata que também tirou a vida de sua esposa, coloca Netanyahu sob grave suspeição de tê-lo ordenado com o intuito de se manter como primeiro-ministro de Israel e dificultar a decisão judicial de manda-lo da residência ministerial na rua Balfour, em Jerusalém, para atrás das grades, provável condenado por suborno, fraude e quebra de confiança.

Em primeiro lugar, vale ressaltar que os ataques de forças palestinas, com os perturbadores foguetes, vindos da Faixa de Gaza, haviam praticamente cessado durante o período mais recente.

O jornal israelense, Haaretz informa que as negociações, mediadas pelo governo egípcio, com as facções Hamas e a própria Jihad estão avançando para um cessar-fogo de longo prazo.

Nestas condições, as atenções da mídia e dos israelenses estavam voltadas para a expectativa em torno do resultado das negociações comandadas pelo opositor, Benny Gantz, para formar governo, afastando Netanyahu do comando do regime israelense após mais de uma década de uma administração baseada na negação de qualquer acordo de paz com os palestinos, na exacerbação da construção de residências para judeus em terras assaltadas aos palestinos e no incitamento racista contra a população e as lideranças árabes israelensez.

Netanyahu sabia que matar Al-Ata traria como consequência uma saraivada de foguetes partindo da Faixa de Gaza, onde o Jihad Islâmico atua, contra casas de judeus israelenses na região sul do país. O fato da ação colocar em risco vidas israelenses e, ainda mais, o fato da ação ser inteiramente desnecessária para alegados objetivos de “segurança” para os israelenses, uma vez que as negociações entre israelenses e dirigentes do Hamas e do próprio Jihad avançam, não impediu, mas, ao contrário, estimulou Netanyahu no sentido de perpetrar o ataque.

E mais, depois do ataque a foguetes por parte do Jihad, a força aérea israelense desferiu mais ataques a posições do Jihad em Gaza. Mais uma vez, Israel diz que os ataques visam líderes do Jihad e sua infraestrutura. Foi dito, inclusive, que a intenção israelense seria matar mais um comandante, Rasni Abou Malhous.

A pretexto de tirar a vida de Malhoous já foram mortos 24 palestinos de Gaza desde quart-feira. Na mais grave das investidas um míssil atingiu uma casa pobre em Gaza. Os oito membros da família, inclusive dois bebês foram assassinados.

O depoimento de um vizinho da família deixa claro que o ataque foi mais uma provocação para inflamar os ânimos na região e provocar a reação de mais foguetes lançados contra Israel (mais 290 foram lançados do dia 13 até agora).

“Era uma família simples e pobre vivendo da mão para a boca em um frágil barraco. Viviam do pastoreio de ovelhas em uma residência que não era servida por energia ou água encanada”, relatou o morador próximo à casa atingida pelo míssil israelense.

“Este é o estilo de vida de um comandante do Jihad Islâmico? Toda criança em Gaza sabe que os membros das unidades e veteranos ativistas vivem condições melhores do que a dos moradores desta casa. A história de que eles atacaram um integrante do grupo Jihad parece desconectada da realidade”, acrescentou o morador.

Até o Hamas, que historicamente tem se envolvido nos ataques a alvos civis israelenses, pôde perceber a jogada de Netanyahu.

Tanto o Hamas como o Jihad, têm optado por uma forma de resistência considerada ineficaz e contrária aos interesses palestinos até pela Organização de Libertação da Palestina, cujo comandante principal, Yasser Arafat, passou a adotar como eixo da resistência à ocupação as ações políticas e de massa, ao invés dos ataques suicidas individuais, que acabam ajudando a reunir a população judaica sob o manto ‘protetor’ da paranoia belicista da direita israelense.

“É uma escalada perigosa de agressões inaceitáveis. Israel exporta suas crises internas e vai pagar um preço caro por isso”, declarou o porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum.

Segundo as informações locais, 90% dos foguetes lançados pelo Jihad foram interceptados pela defesa antiaérea israelenses. Os cerca de 50 que explodiram no solo atingiram áreas inabitadas ou causaram pequenos danos a poucas residências. O número de israelenses levemente feridos não passou de cinco.

Mas a intenção de Natanyahu foi atingida.  Nisso, contribuiu o fechamento de escolas na região durante toda a sexta-feira e o toque das sirenes que determinam aos israelenses procurar abrigo, de forma intermitente de quarta a sexta, nas cidades de Ashdod, Ashkelon, Holon, Netivot, Rishon LeTzion, Sderot e, por alguns momentos em Tel Aviv.

Netanyahu consegue um breve respiro, pois em vez da abordagem do seu fracasso eleitoral e a formação de um governo de oposição, em vez da discussão em torno de seu indiciamento por suborno, fraude e quebra de confiança, nos últimos dias se discute em Israel a “segurança”.

Muito pouco se disse – incluindo uma paralisação da oposição – acerca da nulidade deste procedimento, que inclui acirrar o ódio entre os palestinos de Gaza, não apenas pelos bombardeios a cada tanto, mas também com o bloqueio que torna miserável a existência dessa população.

Para seguir na manobra criminosa, Netanyahu e seu entorno de direita racista desferiram mais um ataque gratuito. Além do perigo externo, há – alertam – o perigo interno: os árabes israelenses e sua crescente força política. Deu como exemplo uma fala do segundo homem na lista árabe conjunta, Ahmed Tibi, de alguns anos atrás, de que “Arafat está em nossos corações”. Como se fosse proibido a um palestino – só por viver em Israel – dizer tal coisa ou como se admirar e amar um líder como Arafat tivesse qualquer coisa a ver com a destruição de Israel, uma vez que foi exatamente Arafat o líder que encabeçou a estratégia de reconhecer Israel e de avançar na direção do estabelecimento da paz entre dois Estados, o que não avançou por conta do assassinato do maior dos líderes israelenses, Itzhaq Rabin, por um fanático judeu, com base em um incitamento contra o entendimento com os palestinos como se isso fosse uma “traição”, com o próprio Netanyahu no comando da odiosa campanha.

Como corolário, a candidatura de Gantz a chefe de governo com o apoio da lista árabe conjunta equivaleria a colocar em risco a segurança de Israel e não a deliberada aventura beligerante do grupo de Netanyahu, o que trouxe como consequência a saraivada de 490 foguetes sobre as cidades do sul do país.

Aliás, o líder principal da coalizão das quatro listas árabes, o comunista Ayman Odeh, deixou muito clara a falácia racista de se ter os árabes israelenses como ‘inimigo interno’ ao saudar a conquista inédita de 13 cadeiras no parlamento israelense pelos árabes: “Nós provamos que a cooperação entre as pessoas, árabes e judeus, é a principal e única estratégia que pode nos levar a um futuro melhor para todos”.

Infelizmente, não podemos finalizar esta matéria sem o registro de que amedrontado com as acusações de Netanyahu de que a oposição colocaria em risco a segurança nacional, o principal dos opositores, o general Gantz, não apenas se calou diante da provocação de Bibi com o nítido crime de colocar vidas israelenses em risco para seus fins eleitorais e de impunidade, mas chegou a dizer que a ação “foi a decisão correta”.