People gather for a drink at the 'Half Way In' pub in central Stockholm, Sweden on March 23. 2020. - Bars and restaurants in Sweden are still open despite the corona virus outbreak, even if you can notice much less guests at the restaurants. (Photo by ALI LORESTANI / TT News Agency / AFP) / Sweden OUT (Photo by ALI LORESTANI/TT News Agency/AFP via Getty Images)

O premiê da Suécia, Stefan Lofven, resolveu renunciar depois de receber voto de desconfiança no parlamento do país. A renúncia se dá após desastre da política de não combate à pandemia, ou seja, da aposta na denominada ‘imunidade de rebanho’ que protegeria a população da devastadora pandemia desde que uma alta proporção dos habitantes ficasse contaminada com um vírus que, segundo os propagadores dessa tese seria de baixa letalidade (uma ‘gripezinha’ como propalaram Bolsonaro e Trump).

O resultado foi que a Suécia acabou apresentando o pior resultado entre os países escandinavos incluindo Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia.

Já a Noruega, que tomou as medidas restritivas preventivas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou um quadro de contágios muito menor e de dez vezes menos mortes do que entre os suecos.

Na Noruega, o número de mortos até a última semana de junho foi de 792 o que, para uma população de 5.320.000 perfaz 148 mortes por milhão. Enquanto isso a Suécia apresentou no mesmo período 14.626 mortos o que significa, para sua população de 10.230.000, 1430 mortos por milhão, ou seja, um índice de mortandade da Suécia 9,66 vezes o da Noruega.

O fracasso da Suécia neste quesito, apontado na CPI da Covid como exemplo de sucesso por Osmar Terra, chefe do gabinete das sombras que atuou em paralelo ao Ministério da Saúde e que esteve entre os orientadores convidados para a efetivação da política genocida do governo Bolsonaro diante da pandemia. O mesmo fracasso já havia sido vangloriado pelo próprio Bolsonaro, que elevou a feito o menosprezo do estrago que o vírus poderia causar e acabou causando, em termos de morte e sofrimento, aos suecos.

Vejamos primeiramente alguns dos passos dados pelo bem-sucedido governo norueguês: no dia 10 de março foram contabilizados os primeiros 400 casos de infectados pela Covid-19. O aumento dos casos acendeu o alerta e, por recomendação do Instituto de Saúde Pública da Noruega, no dia 12 de março foi determinado lockdown em todo o país, fechadas academias, restaurantes, todas as atividades esportivas e comércio. Escolas e jardins de infância também tiveram as aulas suspensas.

No dia 14, as entradas de estrangeiros via aeroporto foram proibidas. No dia 16, todas as fronteiras do país foram fechadas. Somente os residentes na Noruega podiam retornar.

O distanciamento preventivo foi amplamente encorajado, assim como demais medidas, uso de máscaras, lavagem de mãos, etc.

Sabendo do descaso do vizinho governo da Suécia, foi determinado que, todos os noruegueses retornando daquele país, mesmo assintomáticos, teriam que ficar em quarentena.

No dia 6 de abril, o Ministério da Saúde declarou que a pandemia estava “sob controle”, com a reprodução do vírus Sars-CoV-2 em um índice de 0,7 (quando cada 10 contaminados transmitem para sete outras pessoas levando a uma queda no nível de contaminação).

Já nos primeiros dias de março é aplicado um dos mais vastos programas de testagem e rastreio do mundo, tanto assim que no dia 17 de abril de 2021 o governo norueguês informa que foram aplicados 5.000.000 de testes atingindo 4.888. 566 pessoas.

O resultado desse conjunto de medidas é o mais baixo índice de mortandade entre os escandinavos apesar do nível de vacinação ainda não ser tão elevado quanto os de maior nível de imunização: 29% da população.

A Suécia, onde o governo e o responsável pelo acompanhamento da pandemia optaram pelo descaso e subestimação, teve os resultados trágicos já apontados aqui.

No início do surto, o epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, orientou o povo a rejeitar o distanciamento preventivo e o uso de máscaras e ironizou as medidas restritivas dos vizinhos afirmando: “Parece que o mundo enlouqueceu”.

Para Tegnell, “as restrições de movimento poderiam ter acarretado mais violência doméstica, solidão e desemprego em massa”.

Ele seguiu negando todas as descobertas científicas quanto ao sucesso das medidas preventivas e afirmando, ainda em setembro de 2020, que “mal utilizada, a máscara também pode contaminar quem a usa” e que “as evidências científicas apoiando o uso da máscara são fracas”.

A atual queda do premiê mostra que a quantidade de suecos rechaçando esse descaso para com a Covid cresceu. Como diz Jenny Ohlsson, dona de uma loja de acessórios que vende máscaras coloridas em Estocolmo: “Penso que é um pouco estranho. Na Suécia, que é um pequeno país, eles pensam que sabem mais do que o resto do mundo”.

A condução de não combate à pandemia por parte de Tegnell acabou se estendendo a um comportamento muito frequente entre parcela dos profissionais de saúde suecos e o sofrimento se tornou muito grave entre os idosos, em especial os residentes em casas de repouso, em sua grande maioria submetidas a administração privada.

“Em Estocolmo, 88% dos pacientes morreram nas casas de repouso, apenas 12% foram hospitalizados. O problema remonta à década de 1990, quando começamos a analisar a relação custo-benefício de certos tratamentos para alguns grupos de pacientes. Mais idosos teriam sobrevivido se lhes fossem oferecidos cuidados hospitalares”, diz Yngve Gustafson, professor de geriatria cidade sueca de Umea.

A crise do coronavírus, expôs o escândalo do descuido com os idosos na Suécia assim como com os trabalhadores nestes lares.

“O que significa buscar o lucro ao cuidar de um lar de idosos? Eu acho que vai ser um debate importante na Suécia depois da crise”, reconheceu a ministra das Finanças, Magdalena Andersson.

Foi assim que uma investigação foi aberta pela Inspetoria de Saúde da Suécia sobre o trabalho em lares de idosos, bem como para apurar a seleção de pacientes em hospitais suecos.

Frente à explosão de denúncias e comprovações de ilegalidades, o governo sueco foi obrigado a recuar e reconhecer o fracasso da sua “estratégia” de não proteger adequadamente seus idosos. Um sem número de documentos explicitou o fracasso de tratamento nos próprios asilos – em vez de encaminhá-los a hospitais e UTIs – se acionando cuidados ‘paliativos’ (de fim de vida), no lugar de cuidados médicos. Chegou-se a orientar a não administração de oxigênio, mesmo nas manifestações mais extremas da doença.

Em seus casos mais graves, um dos principais sintomas da Covid-19 é precisamente a falta de ar. Após receber 317 notificações sobre falhas na administração de oxigênio, o órgão de inspeção sanitária (IVO) anunciou – em abril de 2020 – que iria investigar as condições das instituições de longa permanência de idosos. “Temos recebido sinais de que os idosos não têm tido acesso a tratamento com oxigênio, que faz parte das recomendações para tratamento do Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar”, afirmou a diretora-geral do IVO, Sofia Wallström, frisando que “todos têm direito a receber o cuidado de que precisam, seja paliativo ou de outro tipo”.

Um documento interno do Hospital Universitário Karolinska, com objetivo de orientar os chefes de UTIs na tomada de decisão durante a pandemia, estipulou que pessoas com mais de 80 anos, bem como pessoas entre 60 anos e 80 anos com múltiplas doenças, não deveriam receber prioridade para terapia intensiva.

A situação é tão alarmante que são inúmeros os exemplos como de Thomas Anderson, que somente viu seu pai, Jan Anderson, de 81 anos, receber tratamento depois que denunciou o asilo Ärlingshem, perto de Estocolmo, à imprensa e às autoridades. Thomas disse que um médico orientou a enfermeira por telefone, sem consultar ou informar a família, a prescrever morfina ao paciente. Após a intervenção do filho, o idoso passou a receber soro e anticoagulantes e acabou sobrevivendo à doença.

A médica inspetora do IVO e neurocientista Jenny Fjell, diz ter ficado chocada com a morbidade das ditas “recomendações”. “Não podia ficar ali, pensando que as pessoas estavam simplesmente sendo mortas. E de onde saiu essa ideia de dar cuidado paliativo? Ninguém questionou se essa realmente era uma doença tão letal? Como médica, não faz sentido para mim. Não acredito que médicos e enfermeiras queiram ser assassinos. Mas muitos dos meus colegas também diziam que estavam só ‘seguindo ordens’”.

Diante da gravidade da situação, Jenny criou a página “Todos têm direito a oxigênio”. E alertou: “Ligue para o médico da família e pergunte o que está sendo aplicado em asilos de sua região. Mande e-mails para funcionários públicos e políticos do seu município ou distrito. Certifique-se de manifestar por escrito, para você e para seus entes queridos, que quer cuidados hospitalares, se for necessário, no tratamento da Covid-19. Ligue para o asilo mais próximo e pergunte como eles estão agindo lá. Sinta-se à vontade para gravar”.