Não há democracia sem a inclusão da população negra
O racismo precisa ser enfrentado como parte do projeto político social capitalista, que é retroalimentado pelo patriarcado. A opinião é da cientista social pela Universidade Federal da Bahia e Pós-graduanda em Ciência Política Daniele Costa, que participou do painel “As correntes marxista, liberal e pós modernistas na luta antirracista: falsos antagonismos entre luta de classes e antirracismo”, durante o seminário Luta Antirracista, Democracia e Desenvolvimento Nacional.
“Assumir-se como mulher negra faz parte da luta revolucionária”, afirmou a cientista social, defensora das políticas de cotas. Não há democracia sem inclusão da população negra. Onde houve avanços em relação às mulheres e ao que se considera minorias foi por meio de ações afirmativas”, acrescentou Daniele, mencionando os exemplos da Argentina e da Bolívia, países nos quais houve um crescimento na representatividade das mulheres e dos povos indígenas, respectivamente, por meio de políticas de cotas.
Carlos Montaño, autor do livro Identidade e Classe Social, concorda com ela. “Não podemos não pensar no curto prazo na necessidade de políticas afirmativas, para compensar o tratamento desigual da estrutura capitalista machista”, afirmou Montaño, para o qual as políticas de cotas não são uma finalidade, mas fazem parte do momento de luta que tem como objetivo a igualdade. Segundo ele, o projeto emancipatório a ser construído deve ser contra o capital e toda foram de opressão social.
Doutor em Comunicação e professor da USP, Dennis de Oliveira alertou para o racismo como componente do discurso da direita imperialista. Em países como a Bolívia, a Venezuela e o Brasil há a perspectiva misógina racista”, lembrou, mencionando ainda o exemplo da cobertura da mídia hegemônica na guerra Rússia-Ucrânia. “Na guerra do Iraque não houve essa dimensão humana que é dada aos ucranianos brancos de olhos verdes. Há um processo de hierarquização dos lugares do capitalismo e o racismo é a ideologia que sustenta essa hierarquia”, ressaltou. De acordo com o doutor em Comunicação, o racismo estrutural cria um lugar de privilégio. “Temos que nos despojarmos dos privilégios raciais e de gênero que nós temos”, defendeu.
Para o cientista político Luís Fernandes, as contradições brasileiras são os inimigos centrais deste projeto. “Temos de tratar as contradições como a luta antirracista dentro de uma agenda política da unidade do povo brasileiro de construção de um projeto nacional ao meu entender antiimperialista”, disse.
Durante o debate, mediado pela presidenta Nacional da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Rozana Barroso, a secretária nacional do PCdoB de Combate ao Racismo, Olívia Santana, destacou à capacidade que as elites desenvolveram de silenciar as vozes da favela. “A polícia justifica sempre a tese da troca de tiros na favela, no sentido de desconstruir a voz da mãe que perdeu o filho, da população que se organiza e faz um protesto. Aquela voz passa a não ter nenhuma legitimidade. Na academia, as populações negras foram tratadas como objeto de estudo e não como aquela que tem capacidade de falar sobre a sua própria opressão”, exemplificou. “As condições de vida da população branca nesse capitalismo é totalmente diferente das condições de vida da população negra ampla maioria nesse pais capitalista”, acrescentou.
O vice-presidente nacional do PCdoB, Carlos Lopes, ressaltou que o racismo é, na essência, a exclusão do povo brasileiro. “Temos uma parcela dentro do Brasil que quer morar como se vivesse nos países centrais e o racismo para ela é a forma de excluir a parcela do povo brasileiro que não é branca. O nosso problema é construir um pais, uma nação e assumirmos essa nação como nossa, nós que não somos brancos”, disse ele, ressaltando a importância do momento atual para essa luta. “Quanto mais é reacionário esse poder, como é o caso do Bolsonaro, mais racista ele se torna. A questão de tirar o Bolsonaro, eleitoralmente, é uma questão chave da luta antirracista de hoje”, pontuou.