Multidão em Roma repudia grupo fascista que atacou central sindical
“Mai Piu Fascimi” [Fascismo Nunca Mais]. Sob esse lema, dezenas de milhares de pessoas lotaram a Piazza San Giovanni no centro de Roma no sábado (16), para defender a democracia, repudiar o assalto da sede da principal central sindical italiana, a CGIL, na semana passada, por fascistas, e apoiar a moção no parlamento pela ilegalização do agrupamento Força Nova, que encabeçou o ataque.
As centrais sindicais CGIL, CIST e UIL, os partidos democráticos, prefeitos e ministros, entidades da juventude e organizações civis e religiosas participaram no ato, que foi encerrado com a multidão cantando o hino antifascista Bella Ciao.
De toda a Itália vieram os participantes, em 800 ônibus e dez trens. O secretário-geral da CGIL, Maurizio Landini, foi recebido com um coro de “somos todos antifascistas”.
Na praça, muitas bandeiras das três centrais e balões azuis, vermelhos e verdes. Em respeito ao silêncio eleitoral para as urna deste domingo, foram excluídos símbolos partidários e discursos de políticos. O ato transcorreu em um clima de serenidade, apesar do alerta máximo para o risco de provocações.
No sábado passado, grupos fascistas se aproveitaram de um protesto antivacina para desencadear um assalto à sede da principal central sindical italiana, que foi invadida e vandalizada. O que, como salientou Landini, “nunca aconteceu desde o período do pós-guerra até hoje”. Em suma, não é hora de passar o pano.
“O atentado à central sindical é, na verdade, um atentado à dignidade do trabalho de todo o país”, destacou o líder da CGIL. “É uma manifestação que defende a democracia no nosso país, portanto de todos e não partidária”.
Praça representa a Itália
Esse ato – sublinhou Landini – “não é apenas uma resposta aos esquadrões fascistas, é algo mais. Esta praça representa toda a Itália que quer mudar o país, que quer acabar com a história da violência política”. Ser antifascista “é garantir a democracia de todos e os princípios fundamentais de nossa Constituição”, assinalou.
Dirigindo-se ao governo e ao parlamento, o líder da CGIL pediu que “as forças que defendem o fascismo e cometem atos violentos sejam dissolvidas”. “Da solidariedade, deve-se passar à ação concreta”.
“Não seremos intimidados por ataques de gangues”, afirmou o secretário-geral da UIL, Pierpaolo Bombardieri. “Aqui o princípio de que este é um estado antifascista é reafirmado, que nossa Constituição é antifascista. CGIL, CIST e UIL sempre defenderam esses princípios e valores. É uma oportunidade de falar também de trabalho, de como reconstruir este país”.
“Prossigamos rapidamente com a dissolução das organizações neofascistas e neonazistas. É um passo necessário”, conclamou o secretário-geral da CISL, Luigi Sbarra. Ele também defendeu o passe sanitário e a obrigação de vacinação, para não correr o risco de “transformar locais de trabalho em valas comuns”. A Itália foi talvez o país europeu que mais sofreu com a pandemia, ao ser o primeiro do continente atingido em cheio.
O padre antimáfia Don Luigi Ciotti, fundador do Libera, ao lado de Landini, afirmou que “a dissidência é o sal da democracia e a violência é a sua negação. A violência dos fascismos, racismos e supremacismos provém do veneno de uma sociedade desintegrada e de uma democracia pálida onde muitos direitos são palavras ditas ou escritas no papel mas não se traduzem em concreto”.
Também foram à praça para expressar sua solidariedade e rechaço do fascismo o líder do Partido Democrático, Enrico Letta, o presidente do Movimento 5 Estrelas e ex-primeiro-ministro, Giuseppe Comte, e o atual ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio.
Letta comparou o que aconteceu ao ataque ao Capitólio dos Estados Unidos. “Grupos neofascistas tentaram usar essa situação difícil (a pandemia) para atos de insurreição, nada mais nada menos do que o ocorrido nos Estados Unidos em 6 de janeiro”, disse.
O ex-primeiro-ministro Massimo D’Alema estigmatizou a ausência dos dirigentes da Liga, FdI e FI: “Diante de um fato gravíssimo e sem precedentes na história recente de nosso país”, disse, “uma resposta razoável teria sido unânime”.
Avaliação com a qual concordou o deputado da Força Itália, Elio Vito, que chamou de “erro” a “ausência de moderados”. Já o chefão da Liga, Matteo Salvini, foi às redes sociais para criticar o que chamou de “ato de campanha eleitoral da esquerda” e asseverar que “não há perigo fascista” na Europa.
Fascistas presos
O líder nacional do Força Nova, Giuliano Castellino, e o de Roma, Roberto Fiore, e mais dez fascistas estão presos por ordem judicial. Além do assalto à sede da central sindical, houve um ataque ao centro de emergência de um hospital público – em que quatro pessoas ficaram feridas, inclusive uma enfermeira foi atingida com uma garrafa na cabeça – e um confronto com a polícia em frente ao gabinete do primeiro-ministro Draghi.
O Força Nova também teve sua página na internet bloqueada por iniciativa do ministério público italiano.
Após a defesa da democracia, o líder da CGIL advertiu que não se pode “passar da pandemia do vírus à pandemia salarial, precisamos da recuperação para inverter a tendência e haver uma redistribuição salarial”.
Ele conclamou a que os recursos europeus concedidos à Itália, que chamou de “sem precedentes” sejam usados para “dar esperança aos jovens, às mulheres, ao país, ao Sul”. É urgente aumentar a folha de pagamento líquida e as aposentadorias, acrescentou, assim como “uma reforma séria das redes de segurança social” e uma reforma tributária capaz de “combater a sonegação, porque vale 120 bilhões”.