Movimentos populares e militares conformam governo de união no Sudão
Enquanto multidões nas ruas da capital sudanesa de Cartum celebravam nas ruas, os líderes, Ahmed L. Rabie, representando as forças populares que se ergueram para acabar com o governo ditatorial de Omar Bashir, e o general Abdel Fatah al Burhan, levantavam os braços fazendo o sinal da vitória e erguendo o documento assinado pelos dois e que representa a formação do Conselho de Transição, composto por 6 civis e 5 militares que governará o país por um período de três anos até a realização de eleições gerais.
Os dois firmaram o acordo alcançado entre a principal coalizão de movimentos populares e o Conselho Militar de Transição que comanda o país desde a deposição do ditador Omar Bashir.
O aumento de preços dos pães, em dezembro de 2018, em obediência a determinação do FMI, foi a gota d’água que levou a um levante popular por todo o país, com multidões cercando o palácio governamental e pedindo o afastamento de Bashir.
O Conselho Militar de Transição passou a governar o Sudão desde abril deste ano, mas as manifestações e greves não cessaram, mesmo com o agravamento de tensões e a repressão brutal de alguns dos protestos.
Durante meses, em meio às gigantescas manifestações, transcorreram as negociações entre o Conselho Militar de Transição e a coalizão popular denominada Forças pela Liberdade e Mudança.
A minuta do acordo já havia sido firmada em 4 de agosto, chamada de Declaração Constitucional, e faltava a definição da composição do novo governo de transição.
Líderes do continente africano se fizeram presentes, incluindo os presidentes da Etiópia, Abiy Ahmed e do Sudão do Sul (país que passou a existir após um conflito separatista no Sudão), Salva Kiir.
O acordo prevê que a maioria do Conselho será de civis e que a presidência ficará com o general Abdel Fattah al-Burhan, que já preside o Conselho Militar de Transição e presidirá o governo pelos próximos 21 meses, enquanto que, nos 18 meses seguintes, a direção será exercida por um representante das forças civis.
Shamseddine Kabbashi, porta-voz dos negociadores, declarou, ao final da cerimônia: “Estamos mudando desde o velho Sudão”.
Duas mulheres, entre elas, uma da minoria cristã, integram o novo governo.
EX-PRESIDENTE VAI A JULGAMENTO POR CORRUPÇÃO
Ao mesmo tempo em que o acordo de união nacional era firmado, tinha início o julgamento do ex-presidente Omar Bashir.
Ele, que exerceu o poder por 30 anos, é acusado de corrupção e já admitiu ter recebido dos monarcas sauditas o valor de US$ 90 milhões, de acordo com um dos promotores, Ahmed Ali, que falou à Corte de Cartum, na segunda-feira. Segundo a acusação Bashir admitiu ter recebido US$ 25 milhões do príncipe Mohammed bin Salman e mais US$ 65 milhões do rei Aziz Saud.
Em troca, o Sudão foi o país árabe (afora os agressores Arábia Saudita e Emirados), que mais mandou soldados na agressão ao Iêmen.
“Este dinheiro não fazia parte do orçamento do Estado e eu era quem tinha autoridade para autorizar seu manejo e despesas”, confessou Bashir, dizendo que não recorda em que gastou parte dos tais recursos.
O promotor também afirmou que ele é acusado pelas mortes de manifestantes, que exigiam sua saída, durante os primeiros protestos ao final do ano passado.