Debate no último dia da mostra "Caminhos Para a Paz". Participaram, como debatedores, Ualid Rabah, pela Federação Palestina, Fepal (esq.) e Daniel Douek, pelo Instituto Brasil-Israel (ao microfone). O debate foi mediado por Nathaniel Braia (ao centro) - foto Thaynan Diniz

A “Mostra de Cinema Israel-Palestina”, organizada pela União Municipal de Estudantes Secundaristas de São Paulo – UMES/SP e o Instituto Brasil-Israel (IBI), com apoio da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), teve seu encerramento no domingo, dia 1º, com o filme “Promessas de Um Mundo Novo” dirigido pelo israelense B.Z. Goldberg.
À apresentação do filme seguiu-se um debate com a participação do colaborador do Instituto Brasil-Israel, Daniel Douek (mestre em Letras pelo Programa de Estudos Judaicos e Árabes da USP) e de Ualid Rabah, presidente da Fepal.
Além do filme apresentado no encerramento, a mostra trouxe, nos dois dias anteriores, ao Cine-Teatro ‘Denoy de Oliveira’, uma seleção de mais três filmes que colecionaram prêmios ao trazerem para as telas visões críticas aos interesses, preconceito e estreiteza que mantêm o conflito. Os filmes retratam suas graves consequências para as sociedades israelense e palestina. “Paradise Now”, “Limoeiro” e “Bubble”, foram os exibidos nos dias 29 e 30 de novembro.
No debate, Daniel Douek saudou a mostra e seus idealizadores e ressaltou a capacidade do cinema de “ao imaginar outros mundos, contribuir para criar novas realidades”.
Douek analisou o filme “Promessas”, exibido pouco antes, mostrando que o diretor se “valeu de alguns ângulos de abordagem para produzir a reflexão que o próprio título do documentário já sugere. Em alguns momentos é ele próprio que cria as situações incomuns (que sem sua participação não ocorreriam) a exemplo do encontro entre crianças israelenses e palestinas em um campo de refugiados palestinos, ou nas entrevistas com aquelas crianças que não transpõem o afastamento para se encontrarem”.
“Em outros momentos”, prosseguiu Douek, “o diretor mostra situações nas quais ele também é espectador e não tem o poder de intervir, a exemplo das cenas da visita da família do palestino detido em uma prisão israelense”.
Daniel acrescentou que, “se de um lado o filme ressalta os impasses, também coloca a utopia da solução do conflito na mão dos mais jovens, abrindo brechas para sua superação”.
O palestino Ualid Rabah, também viu aspectos positivos na busca pela paz preconizada pelo diretor, mas alertou para alguns aspectos que não lhe passaram despercebidos: “Em primeiro lugar é omitida, em absoluto, a presença dos palestinos cristãos na sociedade palestina, além disso as forças políticas ressaltadas no documentário, Hamas e Frente Popular, são forças que não advogam a solução dos Dois Estados. A vertente histórica representada pelo Fatah, por exemplo, não se apresenta”.
“Fica uma sutil sensação de que a intransigência é palestina e tem caráter religioso e isso, além de não ser real, é perigoso”.
SOLUÇÕES
“Neste aspecto”, ressaltou Ualid, “não pode haver paralelo ou simetria entre ocupante e ocupado. Falamos em paz mas, seja qual for o debate para a alcançarmos, isso implica em tratarmos de assuntos como o do direito dos refugiados ao retorno, o fim dos assentamentos israelenses em território palestino, entre outras questões que nos desafiam”.
Para ele, “a questão palestina não é, nem nunca foi, uma questão religiosa; não é uma questão de visão. Ela resulta da ação colonialista e sua solução se dá – assim como coube a outros povos – na luta pelo fim deste colonialismo que implica em ocupação e pela realização do direito do povo palestino à autodeterminação”.
Ao final de sua participação no debate, Ualid retomou a crítica do uso distorcido e nocivo da religião de forma a gerar a manutenção do conflito: “Vemos com apreensão a visão do falso messianismo propalado pelos neopentecostais, que em sua negação da história, atribuem exclusividade aos judeus na posse do território palestino. Uma visão que reforça a islamofobia e o antissemitismo, exacerba os preconceitos e, assim, atende a interesses colonialistas e que é extremamente prejudicial e perigosa para os judeus, assim como para os palestinos, sejam eles muçulmanos ou cristãos”.
SUPERAÇÃO
O colaborador do IBI, finalizou sua intervenção voltando a trazer a questão de que “os filmes exibidos na mostra apresentam um aspecto central: para além do conflito, que surge em primeiro plano entre Israel e Palestina, há uma luta no seio destas duas sociedades, hoje fraturadas. A aliança entre as forças que portam as concepções em favor da superação do conflito é o caminho para a integração e a paz”.
O presidente da Umes, Lucas Chen, encerrou a mostra agradecendo a participação dos debatedores e afirmando considerar “muito feliz a iniciativa que proporcionou estas exibições, assim como este debate. Uma iniciativa que nos estimula a outros eventos que, como este, são da maior importância para que a nossa juventude compreenda as raízes deste conflito e, com base nisso, acredite na possibilidade da paz e de sua superação. O sucesso dessa mostra, com certeza, nos levará a outros eventos sobre este tema”.