Cartaz pela liberdade de Albert Woodfox no ano de 2015.

O ex-Pantera Negra Albert Woodfox, que passou 43 anos em confinamento solitário, morreu na quinta-feira (4) aos 75 anos – seis anos depois de ser libertado da prisão – por complicações da Covid, revelou seu advogado.

Ao lado de Robert King e Herman Wallace, também Panteras Negras, partido que se opôs ao apartheid nos EUA nos anos 1960 e 1970, eles se tornaram mundialmente conhecidos como os “Três de Angola” – em referência à tenebrosa penitenciária da Louisiana, cujo apelido provém de um antigo campo de escravos, e se tornaram símbolos da depravação que perpassa o sistema penal norte-americano.

Durante anos Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos fizeram campanha por sua libertação. No documentário In The Land of the Free (‘Na Terra dos Livres’), de 2010, a viúva do guarda prisional morto em 1972, Teenie Rogers, disse acreditar na inocência dos “Três de Angola”, uma declaração que repetiu em 2014 à Anistia Internacional.

“Acredito que os ‘Três de Angola’ estão inocentes. Li todas as provas e ninguém me convence do contrário: eles estão inocentes.”

Nos Estados Unidos é praxe ocultar a perseguição política com a fabricação de acusações criminais e até testemunhas, assim como é comum manter presos em celas minúsculas 23 horas por dia em isolamento, por décadas. Woodfox ficou na solitária de 1972 a 2015, o que na prática constitui uma modalidade de tortura.

Ele sempre se disse inocente da acusação de ter matado um guarda do presídio durante um motim em 1972, quando estava detido em ‘Angola’ sob uma condenação por assalto à mão armada.

Woodfox foi julgado e condenado duas vezes pela morte do guarda e acabou por ver essas duas condenações revogadas por tribunais de recurso, embora tenha continuado preso.

Ao ditar a libertação imediata de Woodfox mais de quatro décadas depois, o juiz James Brady alegou várias “circunstâncias excepcionais”: a falta de confiança no estado do Louisiana para realizar um julgamento imparcial; o número de anos que Woodfox esteve em isolamento; a sua idade e o seu estado de saúde; e “o fato de o Sr. Woodfox já ter sido julgado duas vezes e de se arriscar a enfrentar um terceiro julgamento por um crime ocorrido há mais de 40 anos”.

Herman Wallace foi libertado em outubro de 2013, apenas para morrer três dias depois, de câncer no fígado – passara a maior parte dos últimos 41 anos numa cela de 1,82 metros por 2,70 metros, de onde saía apenas uma hora por dia, e nem sequer todos os dias da semana.

Robert Hillary King foi libertado em 2001, ao fim de 29 anos na solitária, depois de a sua condenação – pela morte de outro preso – ter sido revogada. Na prisão da Louisiana se continua a praticar “escravatura legal”, denunciou King em 2011, durante uma homenagem aos Panteras Negras.

Segundo os meios de comunicação, há 80 mil presos nessa situação, e muitos deles há anos. Privar uma pessoa de estímulo visual, interação, luz natural ou atividade física inclusive era uma das modalidades de tortura usada pela CIA nos seus buracos negros no exterior, e os malefícios que causa à sanidade mental e à saúde em geral do preso já estão suficientemente comprovados.

Outros dois presos políticos continuam acintosamente presos nos EUA: o ex-Pantera Negra e radialista Mumia Abu Jamal (desde 1981) e o líder indígena Leonard Peltier (desde 1977). O jornalista Julian Assange, que é mantido sob o isolamento solitário na Guantánamo britânica, já tem esse sistema abjeto o aguardando nos EUA, caso prevaleça a iniquidade.