Jair Bolsonaro tem utilizado a estrutura e o pessoal de órgãos de Estado, como ministérios, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) para fortalecer e endossar seus ataques mentirosos contra as urnas eletrônicas e a democracia.

Os ministros Wagner Rosário, da CGU, e Bruno Bianco, da AGU, mobilizaram estruturas dos órgãos para engrossar o discurso golpista.

Os dois estiveram presentes na reunião de Jair Bolsonaro com os embaixadores, na qual foram difundidas dezenas de mentiras sobre o sistema eleitoral.

No caso da Controladoria, Wagner Rosário montou uma equipe de 8 auditores para “fiscalizar” o processo eleitoral. O grupo foi formado uma semana depois que Bolsonaro realizou uma reunião ministerial para organizar a estratégia de ataque às urnas eletrônicas.

Bruno Bianco, por outro lado, está usando a Advocacia-Geral para tentar dar respaldo jurídico aos planos e falas de Bolsonaro. Em 2021, a AGU disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma ação que apontava ilegalidades nos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas representava uma “censura”.

Segundo a AGU, a ação pretendia “impor uma verdadeira censura ao direito fundamental da livre expressão de pensamento do cidadão Jair Messias Bolsonaro e, com isso, impedir a qualquer custo que as discussões sobre a lisura do sistema eleitoral possam ser objeto de debate”.

A AGU foi questionada se Bruno Bianco concorda ou não com as falas de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas, mas se esquivou. “Não cabe comentar ou emitir opinião pessoal”, respondeu.

Para Rudinei Marques, auditor da CGU e presidente do Fórum das Carreiras de Estado (Fonacate), “a proximidade do ministro num ato insano do presidente é vergonhoso. Isso está dentro de um contexto em que várias instituições e órgãos e carreiras de Estado foram contaminados”.

Bolsonaro também mobilizou outros órgãos, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça.

O ministro-chefe do GSI, Augusto Heleno, participou ativamente da preparação da live de Bolsonaro na qual foi divulgado um inquérito sigiloso sobre uma invasão hacker nos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, tem repetido as falsificações de Bolsonaro sobre as urnas. Em uma audiência no Congresso Nacional, propôs abertamente o uso de cédulas em papel para a realização de testes de confiabilidade nas urnas eletrônicas, o que é um sistema falho, como já demonstrado pela história das eleições, que possibilita fraudes e manipulações.

Essa “ideia” faz parte de um plano com oito etapas que foi elaborado pelo Ministério da Defesa para usar as Forças Armadas para tumultuar as eleições, conforme deseja Bolsonaro.

O Ministério da Justiça, chefiado por Anderson Torres, enviou para o TSE um ofício dizendo que pretende usar a Polícia Federal para “fiscalizar” as eleições. Torres disse que a PF poderá usar “programas próprios”, que nunca foram auditados, para realizar a fiscalização.

Pelo menos 62 entidades divulgaram notas rechaçando as mentiras sobre as urnas eletrônicas contadas por Jair Bolsonaro aos embaixadores e reforçando a confiança no sistema eletrônico de votação.

Entre elas estão três organizações de delegados e peritos da Polícia Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), entre outras. Bolsonaro saiu da reunião ainda mais isolado do que estava.